De repente eles ouviram ruídos de galhos quebrados, e vozes sussurradas. Podiam entrever um ponto de luz no meio das árvores, vindo da aldeia. Não havia como voltar, então eles se levantaram e se esconderam atrás de umas árvores, na treva.
Logo viram surgir uma tocha, e um homem grandalhão, seguido por uma moça, ambos carregados de armas. Não podiam vê-los muito bem, por causa das folhas que os escondiam, mas reconheceram as vozes.
— Como eu dizia, Kyrah, o importante é manter a concentração e não confiar só na razão. Se você sentir de enfiar a espada para trás, faça isso, porque com certeza tem alguém atrás de você — instruía Beowulf.
— Sim; andei treinando essa jogada para trás, mas com a adaga — Kyrah manejava a espada na frente do seu corpo, lutando com Beowulf, e lançou a adaga com a caveira por baixo do braço da espada. Ela se cravou numa árvore, bem no lugar em que a cabeça de Berna estivera encostada momentos antes.
Beowulf aplaudiu; Kyrah curvou-se de leve, sorrindo.
— Você não tem qualquer problema com as armas — disse Beowulf, dando de ombros. — Nem necessita da minha ajuda. O seu problema vai ser se disfarçar de homem... — ele corou, ao dizer — Sua feminilidade é... bastante evidente.
Kyrah corou.
— Eu dou um jeito, nem que tenha que me cobrir toda de armas.
Beowulf deu-lhe as costas, afiando o machado numa pedra grande.
— Imagino se esse bardo merece tanto sacrifício.
— Maküsh é maravilhoso, Ursinho — repreendeu Kyrah. Berna arregalou os olhos atrás das árvores, pasma. Ela e Tristan evitavam trocar um olhar. — Ele merece tudo.
— Não passa de um bardo idiota. Só não o mato porque não sou covarde — resmungou ele, num tom baixíssimo. Kyrah caminhou até ele e segurou seu ombro.
— O que disse, Urso? — perguntou, olhando-o de perto. Beowulf não resistiu, puxou-a pela cintura e beijou-a candentemente. Quando se afastaram, Kyrah ergueu a mão para lhe dar um tapa, mas Beowulf nem o sentiu, pois tinha se virado e sacado a espada ao ouvir um ruído.
— Tem mais alguém aqui — murmurou, perscrutando as trevas.
Quando eles se beijaram, Berna e Tristan não queriam ver mais nada. Levantaram-se, constrangidos, e foram andando na direção que ficava a aldeia. Não tinham, porém, dado três passos, quando Berna pisou em um galho seco, quebrando-o e produzindo o ruído que atraiu a atenção do Urso Raivoso. Eles se imobilizaram imediatamente. Mesmo assim, Beowulf começou a abrir caminho em direção a eles com a espada. Tristan alarmou-se.
— Se ele nos pega estamos ferrados — murmurou, pressuroso, pegando o pulso de Berna e disparando com ela para longe dali. Beowulf vinha atrás, Kyrah seguindo-o. Quando ganharam terreno sobre os perseguidores, Tristan e Berna subiram numa árvore e prenderam a respiração. Após procurá-los um pouco, Beowulf desistiu e voltou para a clareira.
Um tempinho depois, eles desceram da árvore em silêncio, e caminharam sem trocar uma palavra ou olhar um para o outro até sair da floresta.
— Quem iria imaginar...? — comentou Tristan, com os olhos arregalados.
— Bem, eu... sabia que ela saía, mas... — Berna deu de ombros, respirando fundo. — Boa noite — e ela se afastou sem esperar resposta. De qualquer forma, ele não respondeu.
Berna ainda estava acordada quando Kyrah chegou, mas fingia dormir. Kyrah sabia que era de Berna um dos pares de pegadas que ela e o Urso tinham encontrado, porque a irmã não estava em sua cama quando ela, Kyrah, saíra. E Berna sabia que ela sabia, e que ia tentar se explicar logo.
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Uma História Bárbara [DEGUSTAÇÃO]
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