A previsão de Berna fora acurada.
No dia seguinte ao incidente na floresta, ela e Kyrah estavam tecendo na varanda. Eram obrigadas a ficar tecendo pelo menos uma hora por dia. Una já havia terminado sua tarefa, e partira para encontrar o coro da aldeia. Depois de algum tempo de tecelagem silenciosa, Kyrah foi direto ao assunto:
— Eu sei que você estava lá.
— Se quer contar o seu segredo, saiba que eu não prometo contar o meu em troca — advertiu Berna, em tom sereno, dando uma laçada no fio.
— Bom, não é o que você está pensando... — começou Kyrah. — Eu apenas quero ir para a guerra, para encontrar Maküsh. Pedi a Beowulf para me ensinar alguns truques — Berna deu um sorriso velado. Kyrah corou. — Não era pra ele ter... — Kyrah bufou de raiva.
— Você não precisa se justificar — Berna disse, calmamente.
Kyrah ficou em silêncio um instante.
— Quem estava com você? — perguntou, rapidamente.
Berna não respondeu.
— Era um homem, o Ur... Beowulf disse. Examinou as pegadas de vocês e disse que ia seguir todos os homens da aldeia até descobrir o miserável que teve a ousadia de nos espionar — Kyrah "deixou escapar" casualmente. Berna ergueu a cabeça, alarmada. — Vai matá-lo, ah, vai — comentou Kyrah.
— Eu e Tristan não estávamos seguindo vocês, já nos encontrávamos na clareira quando vocês chegaram — disse Berna, precipitadamente. Então corou. Kyrah se virou para ela bruscamente, com um brilho malicioso no olhar.
— O Tristan? - seus lábios de contraíram. Ela tinha um pouco de ciúme do amigo.
— Não, não! Nós estávamos conversando, apenas — disse Berna, nervosa.
— Sei... — disse Kyrah, descrente.
— Eu falei a ele sobre... aquilo, sabe — e ela completou a frase com um olhar, que Kyrah entendeu. — Eu nem gosto dele, desse jeito, sabe — afirmou, corando de leve e baixando os olhos para o trabalho, porque não tinha certeza se isso era verdade.
Kyrah não comentou sobre isso. Voltou ao trabalho e disse apenas:
— Não acho que Tristan se interessaria por aquilo — e com isto findou a conversa.
Tencionando esquecer o que acontecera na clareira, e que a tinha perturbado, Kyrah evitou encontrar o Urso Raivoso pelos dias que se seguiram. Devia tê-lo feito, uma vez que Tristan corria risco de vida sem saber, mas afinal, a culpa era só dele — foi o que Kyrah pensou. Contrariamente, o Urso estava procurando por ela. Por alguns dias, Kyrah logrou desviar-se dele; mas ele conhecia sua rotina.
Todas as tardes, ela dirigia-se ao salão dos bardos, para conversar com um grande amigo, quase irmão, Bragi Falkenbach. Ele era filho do bardo conhecido como Guardião Cego, e havia chegado à aldeia havia menos de dois anos. Os dois tinham se tornado amigos pelo simples fato de adorarem canções sobre batalhas sangrentas.
Numa dessas visitas, quando Kyrah estava quase entrando na cabana, Beowulf apareceu vindo da rua à esquerda; vendo que ninguém estava olhando, puxou-a para a sombra de uma parede sem janelas e perguntou:
— Você descobriu quem era o maldito? Andei o dia todo investigando, porém a maioria dos homens está em treinamento, se preparando para a próxima batalha.
— Urso, você tem que esquecer isso — disse Kyrah, e Beowulf olhou-a, surpreso — Eu vou te contar quem é, mas você tem que prometer que não vai machucá-lo.
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Uma História Bárbara [DEGUSTAÇÃO]
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