No outro lado dessa mesma floresta, Berna acordou sobressaltada. Estava sobre o lombo do cavalo; adormecera com suas passadas ritmadas. Tivera um sonho horrível; não lembrava o conteúdo, mas tinha relação com a aldeia.
— Tristan, pare – ela pediu, nervosa. Ele se assustou com o tom.
— O que você tem? Está passando mal?
— Não; preciso orar – ele se irritou.
— Ah, não dá pra esperar um pouco? Estamos quase saindo da floresta.
— Não, tem que ser agora. Pare ou eu vou pular.
Resmungando, Tristan freou o cavalo. Berna desceu e se afastou uns metros para o meio das árvores. Lá se ajoelhou e orou pela sua aldeia por longo tempo. Ela sentia um mal-estar opressor, cuja causa não entendia, mas havia uma causa.
Amanhecia. Kyrah, pálida e amparada por Beowulf, voltava para a aldeia, torcendo para que sua ausência não tivesse sido notada. Mas quando eles passaram a orla do bosque, viram que seria difícil notar qualquer coisa na aldeia como estava. Sangue e luta por todo o lado, fogo, gritos e saques. Os saxões tinham dado o ar de sua graça.
— Ai, eu esqueci de avisar! – Kyrah bateu na própria testa.
Ela correu, tentando encontrar o pai, enquanto Beowulf brandia a maça e bradava ao entrar na batalha. Ela correu como o vento, procurando por toda a parte, porém tudo estava um caos, algumas casas estavam em chamas, perfuradas por muitas flechas.
Desviando-se das que voavam em rajadas, Kyrah virou uma esquina e entrou em seu quarto, pulando a janela; armou-se o mais que pode, e colocou uma armadura e um elmo que Bragi havia arrumado para ela e eram do seu tamanho. Pegou Lauren, que voava para cá e para lá piando como um louco, beijou-o e disse:
— Voe meu amigo, para onde não te encontrem! Esconda-se de todo o perigo, um dia vou encontrar você novamente – Lauren entendeu tudo, fez um último "Uuuh!" e voou para onde o sol já despontara. Kyrah saiu pela cozinha e conseguiu encontrar seu pai, atarefado, dando ordens a todos os chefes.
— Zrymeheim, Walaskialf, continuem protegendo o poço e o celeiro! Gulltoppr, ajudem os outros na ala oeste! Donnerstag, seus imprestáveis, vão para a ala norte! – obviamente mandou-os para lá pois era de lá que vinham os cães do Nifheim. – Bardos, peguem seus arcos e recolham todos os feridos! Tragam-nos pra cá, junto com todas as mulheres e crianças! – Kyrah pode notar que papai estava com a armadura por camisolão de dormir, mal colocada (notava-se que fora metida às pressas) e ele estava só com uma espada.
— Ondina, onde está meu machado? Onde estão os malditos Trüppendorf?
— Muitos fugiram no começo do ataque, chefe! – respondeu alguém no meio da multidão de feridos que se agrupava na frente da casa dele. Kyrah entrou e pegou os dois melhores machados de seu pai, correu para ele e entregou-os.
— Kyrah, volte para casa, você não vai lutar! – bronqueou ele.
— É por causa dessa sua atitude que eu não consegui avisar antes!
— Avisar o que, menina? Pare de me atrapalhar e entre!
— Sobre os saxões, eu voltei por isso! Para avisar! – gritou ela, histérica. Uma sombra caiu sobre Heric; ele viu dois corvos voarem por cima da sua casa. Subitamente abraçou sua filha e exclamou:
— Faça o que quiser, mas permaneça viva mesmo que eu não consiga.
Muitos clãs haviam sido dispersos: as mulheres e crianças estavam indo para o sul, em busca de proteção. Os homens que ficavam protegiam o flanco remanescente da aldeia, que era o único obstáculo entre os saxões e o resto dos aldeões.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Uma História Bárbara [DEGUSTAÇÃO]
Ficțiune istoricăLINK PARA ADQUIRIR NA AMAZON: https://www.amazon.com.br/dp/B076PYVTPG No Século I d. C., Heric Von Brandeburg, o chefe de uma Aldeia viking na antiga Noruega, tem uma grande preocupação: providenciar a sucessão do cargo. Suas princesas não estão dis...