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Devo a minha vida à você...

Risquei a frase, e lá se foi mais uma folha que eu arrancava e amassava rudemente. O meu entusiasmo para escrever já não era mais o mesmo e agora não havia uma única frase que eu escrevesse que não fosse direto para o chão onde já havia uma, nada pequena, pilha de bolas de papel amassadas.

Henry, que estava me fazendo companhia nesse momento tão difícil parecia mais entediado que eu, me lançava olhares de decepção, eu sabia que ele devia estar me chamando de bobão em seus pensamentos caninos. Eu tenho que arranjar um namorado para essa criatura, assim talvez, ele não me ache tão bobão, ai ele vai entender pelo o que eu estou passando!

- Você está me olhando assim, porque cachorros não precisam escrever votos de casamento! - Acusei e amassei outra página. - Eu não tenho inteligência suficiente para isso!

Acho que essa é uma das poucas vezes que faço uma autocrítica nesta história, mas o fato é que: eu sou um completo acéfalo quando se trata de escrever meus sentimentos para outras pessoas, principalmente para o Henrique, porque eu não ligava para a opinião dos outros, mas a dele...

Eu sabia que ele tinha os seus votos prontos em algum canto da casa dos seus pais, agora a relação deles parecia ter finalmente começado a dar certo, eu acho. Nós, eu e os pais dele, ainda tínhamos uma formalidade e nosso relacionamento era cortês e frio, nada além disso, mas nos falávamos na medida do possível, afinal, o filho deles iria se casar comigo e não podíamos não convida-los para o casamento, quer dizer, eu até que tentei deixar o nome deles fora da lista...

O que eu escrevo meu Deus?

Fiquei pensando em quem pedir ajuda e a minha irmã, foi a primeira pessoa que me veio em mente. Fiquei olhando para a página em branco, a minha memória estava alcançando bons estágios e agora eu sabia que foi a Diana quem escreveu um dos meus primeiros contatos com o meu noivo, se não fosse a mensagem que me fez reatar com o Henrique há algum tempo, eu não estaria quase para me casar, decidi que ela era a pessoa certa...

- Diana? - Sussurrei para o telefone como se alguém fosse me escutar, mas não havia ninguém em casa, exceto eu e o Henry. O meu noivo e futuro marido estava resolvendo algumas coisas que ele não quis me contar. Então eu poderia até gritar que ninguém ia me ouvir.

- Oi, maninho, eu sei que você está atrás do seu futuro maridinho, mas ele está ocupado no momento - Diana respondeu alegre.

Então ele estava com ela! O que será que esses dois estão aprontando?

- Não, eu queria falar com você mesmo... é que... os votos... - Eu não consegui terminar porque ela soltou um silvo indignado.

Ela sussurrou de forma agressiva para mim, era quase uma ameaça: - Como assim você ainda não terminou os seus votos, Vinícius? Você me disse "Está na mão!", e agora? O que eu vou fazer? Diga!

- Calma, eu só queria um empurrãozinho... - Suspirei derrotado.

- Eu vou te empurrar de um abismo! O Henrique está todo feliz fazendo... - ela parou de falar abruptamente e depois continuou - ele está todo feliz e pronto! Termina esses votos logo irmãozinho, ou eu mando a Blair Waldorf acabar com a sua vida social!

- Tudo bem, tchau Serena sei-lá-o-que! - Concluí mas ela já tinha encerrado a ligação.

Abracei o Henry.

- Não vou mais casar, essa é a solução! - Falei desesperado mas logo me arrependi e beijei a foto do Henrique que estava na cabeceira da cama. - Desculpa amor, eu vou sim. 

Meu cachorro me lançou novamente aquele olhar.

Pressão psicológica até do meu próprio cachorro? É isso mesmo? Já não era o bastante a minha própria pressão? Caramba, eu vou me casar em dois dias, me da uma folga mundo! Eu nem estava acreditando.

O meu celular toca e eu acho que minha irmã se arrependeu de ter me tratado tão mal e queria pedir desculpas e salvar a minha vida, o meu casamento e toda a galáxia.

Atendi:

- Diana? - peguei a caneta pronto para voltar a escrever.

- Não, definitivamente hoje é o dia dos caras, meu irmão! - Marcos falou. - Hoje é o início da sua despedida de solteiro meu chapa!

Eu me esqueci totalmente dessa tal despedida aí que o Marcos estava organizando para mim, eu só não sei como a minha irmã deixou, mas estava dentro da agenda de planejamento dela essa minha despedida de solteiro, eu só não sabia quem ia fazer a do Henrique, mas aposto que a dele vai ser mais divertida que a minha.

Eu não estava no clima de festejar, eu quero só finalmente ter o Henrique só para mim para sempre e foder muito para comemorar, só isso.

Foder o gostoso do meu marido e ser fodido, é só o que eu quero, só.

- Não estou no clima cara. - Respondi grosseiro.

- Esse tal acidente não apagou só o teu cérebro, acho que ele apagou o teu pinto também, caralho, essa bosta não é só pra ti, quero foder hoje então eu acho bom tu trocar de roupa ou eu vou te pegar aí de pijama. - Ele rebateu mal educado, mas eu já estava acostumado com esse seu jeito bruto, ele era assim mesmo, mas era uma boa pessoa, acho.

Quando finalmente Marcos soube do acidente ele se tornou uma figura bem presente na minha vida... infelizmente.

Eu continuei encarando a folha de papel, não me preocupei com as ameaças do Marcos, ele não ia entrar em casa sem a minha permissão.

- E tem mais - ele continuou - eu consegui a chave do teu apartamento com a tua irmã! Tchau!

Ele desligou na minha cara, hoje as pessoas estão fazendo muito isso, né não? Marcos chegou invadindo a minha casa, e ele não estava só, tinha tanto macho com ele que eu não consegui contar quantos eram. Ai meu Deus! Eu vou ser arrastado para um bar de strip e um monte de mulher vai ficar me embebedando e eu não estou afim.

Um Hétero Quase ConvictoOnde histórias criam vida. Descubra agora