11- Hospital

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Segundo o Wikipédia, a definição de milagre basicamente seria: um acontecimento dito extraordinário que, à luz dos conhecimentos até então disponíveis, não possuindo ainda , dá-se de forma a sugerir uma violação das leis que regem os fenômenos ordinários.

Para alguns médicos e para muitos transeuntes que presenciaram o acidente, milagre define o fato de eu estar vivo; mas há aqueles descrestes, que chamaram toda a minha situação de "uma puta sorte". Chame como quiser, mas o fato é que eu sobrevivi! Porém, é claro... houveram certas sequelas.

***

Quando os meus olhos conseguiram se abrir e eu percebi com clareza que aqueles aparelhos significavam que eu estava na UTI de um hospital a primeira coisa que veio em meus pensamentos foi: "eu estou sozinho!", mas foi o segundo pensamento que mais me assustou: "mas quem sou eu?".

Meu nome? Desconheço. Minha idade? Tão pouco. Tentei lembrar de algo, uma dor forte na cabeça me fez desistir de tentar novamente, o vazio mental me respondeu era ao mesmo tempo assustador e indiferente, eu não queria ser um indigente, mas também eu não lembrava de alguém para sentir falta. 

Uma enfermeira idosa, reconheci pelo familiar uniforme hospitalar, sorriu, checou os aparelhos e disse baixinho:

- É bom ver você acordado, querido! - Então ela se retirou. 

Fiquei frustrado por ela não dizer o meu nome. Eu tentei respondê-la, chamá-la, fazer algo, mas ela provavelmente colocou algum medicamente para dor e a escuridão me puxou novamente para o sono profundo. 

Depois, quando a consciência rastejou aos poucos para mim. Eu ouvia algumas vozes, eu sabia estar plenamente consciente, mas não conseguia abrir os olhos para ver aqueles que me faziam companhia.

Ainda estava um pouco grogue e com alguns pensamentos confusos, mas percebi que quem estava conversando era duas pessoas, ambos com vozes joviais e abatidas.

- Onde vocês estavam indo? - A mulher indagou para o outro. 

- Visitar o seu pai - a voz do rapaz estava fraca, rouca, não parecia ser o seu tom normal, mas eu não saberia dizer com certeza, o homem continuou - ele queria se desculpar. 

Os meus olhos finalmente se abriram e eu vi como aquele rapaz estava me olhando apreciativo. Ele estava abatido, segurava dois muletas em um braço mas elas não pareciam ser para ele, em volta dos seus olhos havia manchas roxas de insonia, mas o olhar era feliz, talvez, por me ver acordado. Bem no fundo da minha mente, eu quis muito que ele ficasse feliz em me ver, que ele mostrasse aquele belo sorriso sempre que me visse.  

A jovem era muito bonita, loira, alva e com uma postura invejável. Talvez ela fosse a namorada desse rapaz, mas novamente, lá no fundo de minha mente havia um desejo obscuro de que ele não a pertencesse. A jovem estava me encarando ansiosa e possuía o mesmo sorriso contende de seu acompanhante. 

A mesma enfermeira de meia idade estava no quarto checando alguns aparelhos que,  provavelmente, me mantinham vivo.

Parece que haviam me trocado de quarto, para um que visitas fossem permitidas, pois esse era diferente.

- Você consegue falar, querido? - A enfermeira tinha uma prancheta nas mãos.

- S-sim - eu pigarreei antes de conseguir responder rouco.

- Isso é ótimo! - Ela anotou. - Está sentindo dores?

- S-sim, na-na cabeça - a minha voz pouco saia, ela mais lia os meus lábios que me ouvia.

- Entendo - Anotou - Você se lembra de como veio parar aqui?

Sua voz era cuidadosa.

- Não...

- Você não se lembra de estar dirigindo? - Estimulou inda cuidadosa com um tom doce, eu procurei pelo olhar do rapaz e respondi novamente:

- Não.

- Você pode me dizer o seu nome? - Testou.

- Eu não lembro. 

Eu ainda estava olhando ele quando ele sibilou assustado.

- Infelizmente, já esperávamos por isso, o trauma foi muito forte. - Avisou a enfermeira anotando furiosamente em sua ficha médica. 

Um Hétero Quase ConvictoOnde histórias criam vida. Descubra agora