Desejada traição honrosa

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Cato 

Clove tem a mesma aparência indefesa de quando Aaron a encontra. Há uma nevasca e eu tenho aquecedores, mas seus lábios estão roxos de frio no momento em que está presa entre minha espada e a Cornucópia.

Ela permanece em silêncio. Quando sua existência está prestes a se esvair, ouço sua voz distantemente, etérea e cantante, como um eco de muitos anos.

- Cat Cato, acorda.

E eu abro meus olhos para encarar seu rosto logo acima do meu, olhando como se quisesse rir. Só quando seu cabelo solto bate na minha cara acordo de verdade.

- Que porra é essa?

- Se você não sabe – Clove dá de ombros sorrindo, voltando para a minha cama. – Algo a ver com "Clove, corre, vai embora".

Eu queria que sim, mas Fuhrman não está mentindo. Essa encenação de contorcimento e gritos foi exagerada, mas os cantos da minha boca estão voltados pra cima.

- Então, trevo. Por que não está dormindo?

Ela ergue as sobrancelhas, dá de ombros de novo e não me responde.

- Pensando no tanto que isso é louco?

- Eu não sou louca de tentar pensar sobre.

- Clove, você não convence ninguém com essa de não dar a mínima – sai da minha boca antes que eu possa impedir. Ela levanta os olhos, franzindo a testa.

- O que você quer que eu faça? Você sabe que nós dois queremos isso.

- Ficou irritadinha, Fuhrman? Não fui eu quem aceitou se voluntariar faltando menos de uma semana – Clove parece quase ressentida, então suavizo o tom. – Se fosse a Achila, isso ia acabar de uma vez.

- Eu ainda preciso ir pros Jogos.

- Ia ano que vem. Não ia, não sei, o inferno pro seu voluntariado.

Ela fica em silêncio de novo, agora sem me olhar. Eu só olho pra ela, pra der repente me desculpar sem precisar falar nada.

- Você é louco, Cato – Fuhrman fala baixo. – Eu não vou ficar sozinha aqui no 2. Sinto muito.

Desisto de falar sobre isso. Sacudo a cabeça e faço um gesto para que ela se aproxime. Estranhamente, sem qualquer ressalva Clove vem e se senta ao meu lado. Alcanço a caixa de primeiros socorros e trato de novo do seu ferimento. Quando escuto um ruído de sucção com a língua, ergo os olhos para ela pedindo desculpas, mas logo volto a enrolar a bandagem.

- Vou sobreviver até amanhã? – ela pergunta sorrindo levemente.

- Numa visão otimista, tem mais umas horas – respondo, sorrindo de volta.

- A melhor notícia em muito tempo.

Eu não quero que Fuhrman vá embora, então passo um braço ao redor de sua cintura e a puxo pra perto. Ela está muito desesperada ou muito cansada. Não faz nada.

- Só tente não me beijar, Ludwig – sussurra depois de muito tempo, deitando a cabeça no meu ombro. Rio fracamente.

- Não vai querer morrer antes de me beijar.

- Se eu fosse morrer, aposto que ia querer.

Claro que é mentira. Fuhrman estatiza perto demais de mim. Se houvesse perdedores no 2, diria que fica nervosa. Mas isso é só muita atração. E eu gosto do cheiro dela.

- Eu vou falar para os outros que você é minha.

- Está ficando louco? – Clove levanta a cabeça e me empurra. – Eu não sou sua, idiota.

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