Minha Obsessão - Livro 1 COMPLETO

Capítulo cinco

O fim do expediente chegou e com ele a angústia em saber que eu tinha que voltar para casa. Despedi-me de todos, um por um, porém ainda não havia visto o Arthur desde aquela hora em que o seu celular tocou, fazendo-o ir embora sem se despedir.

Eu caminhava sem pressa para casa, triste, desesperada, buscando outro rumo ou coragem para ficar ali mesmo, a noite toda. Parei ainda na esquina da rua da minha casa, enfocando o local totalmente deserto e silencioso. Essa era a minha chance de escapar. Virei as costas e saí correndo de volta a biblioteca sem tempo de me arrepender. Eu não queria ir para casa, eu não poderia. Voltei a sentar no mesmo local da manhã, em frente à biblioteca, desta vez silenciosa e escura. O prédio onde a biblioteca funcionava tinha apenas um andar, localizada bem no centro da cidade, entre casas residenciais e o comércio agitado da cidade. Sua fachada era bem peculiar. As paredes pintadas de branco que possuíam desenhos geométricos de alto-relevo. Letras douradas em 3D, com tipografia simples, fixadas no topo do muro dando destaque ao nome da cidade.

A sua frente ficava a praça onde eu me encontrava naquele momento, onde haviam grande árvores cheias de vida que faziam do ambiente um lugar escuro, de pouca iluminação, poucas pessoas iam ali àquela hora. Estávamos apenas eu e um vira-lata que farejava algo no meio do nada. Sentir medo era o natural para mim, não pela solidão ou o local pela qual me encontrava, mas pelas coisas que viriam em seguida. Pela ideia de encarar minha mãe todos os dias e continuar calada, traumatizada com um passado não resolvido. Seria mais sensato passar apenas alguns minutos aqui, antes que Elisabeth surtasse de vez colocando toda a polícia da cidade atrás de mim, porque certamente ela logo faria isso, se eu ousasse a demorar, mas eu não queria mesmo ter que ir embora naquele momento.

Ficamos somente eu e minha inquietude profunda que oprimia o meu coração no meio da praça. Eu pensava na saída mais próxima para aquela confusão, mas não avistava nenhuma que me fizesse sair ilesa, sem dor, sem lembranças. Enquanto pensava nas possibilidades me lembrei das ameaças do João ao dizer o que me aconteceria caso eu contasse a alguém o seu abuso.

"Eu posso até ir preso, mas quando sair de lá, volto aqui para matá-la... você e sua mãe."

Uma lágrima desceu do meu rosto ao me lembrar que esse era o motivo de tanta covardia. Ele teve a audácia de me violentar, o que o impediria me matar também? Eu tentei conter as lágrimas e já estava me preparando emocionalmente para seguir quando olhei para o lado, assustada. O movimento rápido e mal calculado despertou em mim uma dor, que rosnou no meu pescoço. Meu coração disparava completamente sem rumo.

Eu levei um baita susto ao encarar aqueles olhos negros cheios de perguntas, ofuscados em mim. Eu levantei rapidamente enquanto minhas pernas simplesmente não me obedeciam. Eu não daria um passo sequer em direção alguma.

— Então você está admirando a biblioteca a essa hora Zoe?

Arthur cruzou os braços e ficou parado ali na minha frente, me dando o recado de que não sairia até que eu respondesse todas as suas perguntas.

— Sim– Meus lábios tremiam e eu sentia vontade de sair correndo dali – É muito bonito, principalmente a noite

Eu parecia uma insensata falando aquilo. Ainda paralisada com o susto da presença dele eu torci para que ele fingisse que havia acreditado.

— É muito bom manter as aparências – ele levantou os olhos para a faixada da biblioteca, observando-a – O lugar continua bem conservado e essa praça é ótima para quem quer fugir dos próprios problemas.

Eu silenciei por completo. Pressionei os lábios, pensativa em como escapar daquela confusão.

— A noite está linda e nem são nove horas ainda – Ele analisou o relógio, depois desviou o olhar para o céu – Mas o tempo deve fechar logo e vem uma tempestade por aí. Parece gostar muito desse lugar, mas não seria melhor ir para casa?