Minha Obsessão - Livro 1 COMPLETO

Capítulo vinte e três

O amor-próprio também se cultiva. Eu escutei essa frase, algumas vezes da minha psicóloga Fernanda e relembro-as enquanto arrumo minhas malas para me mudar temporariamente para São Paulo, e ingressar no curso de pedagogia. Vou ser professora e depois de muitos anos descobri que o meu sonho de criança continua vivo dentro de mim. Por que decidi isso? Ensinar aos outros o que se sabe é a profissão mais bela que eu conheço. Elisabeth recebeu a notícia da minha mudança com muito regozijo, de fato isso era o que mais queria e no fundo é o que eu desejo também.

Essa evolução no meu comportamento me fez tomar decisões importantes para o meu futuro. Quando eu olho para trás, eu vejo tudo nublado e triste. Inevitavelmente me envergonha de quase tudo o que fiz, mas não apagaria nenhuma vírgula da minha história. Aqueles que dizem viver suas vidas sem jamais se arrepender, não sabem que isso é fundamental para moldar quem seremos um dia. Errar é humano, se arrepender dos seus erros é uma nobreza, mas cabe a cada um de nós tirar uma lição dos próprios erros e crescer. Eu cresci e aprendi que a jornada só está começando. Que preciso ser forte para enfrentar as inúmeras tempestades que ainda me esperam. Esse é o ciclo natural da vida. O temporal agora é pegar as minhas coisas e virar aquela esquina, deixando para trás as pessoas que eu tanto amo por três longos anos. Eu choro com cada peça que ponho na mala, choro pelas boas lembranças, por tudo o que fica, porém mais ainda pelo que me espera. Eu fiz planos antes de partir, um monte deles, mas nenhum deles é um dia viver longe do Colorado.

Despeço-me do meu quarto com um olhar carinhoso o trancando e caminhando para a sala. Estam todos lá. Elisabeth, com aquele sorriso de mãe orgulhosa, portanto com uma tristeza no olhar por me ver partir tão cedo de casa. Eu a amo tanto. Nicole, a moça da biblioteca que eu até simpatizei pelo seu espírito divertido que sempre me fazia rir, mas que lutei para não ser sua amiga e veja só o que aconteceu? Eu descobri que por trás da aparência de uma moça extrovertida existia um ser a qual eu podia chamar de minha amiga. Solange, sempre enfiada com o rosto sobre os livros, o tempo em que passei na biblioteca não foi o suficiente para me aprofundar na sua experiência de vida e conhecê-la melhor, mas eu tinha certeza de ela ser uma pessoa boa. Eros, o que eu poderia dizer dele? Um amigo que eu ganhei no meio dessa história drástica da minha vida. O brilho dos seus olhos quando olhavam para mim me fascinava.

Aí Elisabeth veio em minha direção e foi um tal de nos abraçarmos sem fim, até que ela começou a chorar antes mesmo que eu conseguisse me despedir de todo mundo. Eu só conseguia sorrir para ela como sinal de que tudo ficaria bem. Ela sabia que sim.

— Não deixe de me dá notícias florzinha.

Eu sei como esse momento é difícil para ela. Para todos nós.

— Eu não deixarei mamãe.

Eu a abraço um por um até chegar a vez do Eros. Eu quero explicar para mim mesma os motivos de ser tão difícil me separar dele. Mas não consigo. Olho nos seus olhos e sei que essa ideia é insuportavelmente perturbadora. Tenho a certeza que, de todos ali, será ele quem mais me fará falta.

— Prometa que não irá me esquecer – Meu rosto esquenta rápido demais.

— Eu prometo.

Enquanto nos abraçávamos pela última vez, senti aquele sentimento tão forte, intenso, ardente como fogo.

Ele me oferece uma caixa como presente.

— Eu quero que só abra ela quando você chegar lá – Ele disse – E que esses três anos sejam o suficiente para você reformular a resposta que preciso.

Eu não entendo nada do que ele diz, mas aceito o seu presente. Depois de todo esse momento tenso, eu, enfim, entro no táxi junto a Elisabeth e vamos para o aeroporto.