Estava queimando em febre. Apertei os braços ao redor do corpo, travando o maxilar enquanto uma onda de dor atingia em cheio a minha cabeça. Talvez pela centésima vez medisse a minha temperatura, só para ter certeza que, talvez, não fosse tão ruim o quanto eu imaginava. Ali quase me entregando ao pânico, não suportei a ideia de faltar mais um dia sequer na biblioteca. Mas o meu estado era péssimo, eu sabia e era até fácil encontrar um culpado para isso tudo: foi aquela chuva.
Me levantei com dificuldade, sem ter a menor condição de trabalhar nesse dia. Liguei para Elisabeth e disse a ela como estava me sentindo. Ouvi o seu desespero do outro lado da linha, cheio de instruções desnecessárias: Se arrume e vamos já para o hospital. Era somente um mal-estar febril bobo e eu sabia que logo passaria. Eu não iria a hospital algum, eu apenas repousaria, tomaria um forte chá e ficaria bem.
Vejo o dia se esvaziar lentamente, deitada, incomodada, sem consegui relaxar um minuto sequer. Faço um chá, o tomando com um comprimido para dor, enquanto finjo me entreter com a televisão, o que não é de costume. Naquele momento só, eu pensei muito sobre os últimos acontecimentos da minha vida. Abusada pelo padrasto, apaixonada por um cafajeste e beijada por um príncipe. O que mais faltava acontecer? Minha vida perecia uma montanha-russa de emoções distintas que não me ajudava em nada decidir que rumo tomar. Ainda na minha confusão mental eu ousei ligar para o Arthur, mas como se esperasse muito, ele não me atendeu. O meu coração se apertava todas as vezes que eu pensava em ficar mais um dia sem ele. Arthur tinha todos os motivos para ainda estar zangado comigo, tendo todo o direito de não me querer mais, portanto o medo de perdê-lo me fazia até pensar na possibilidade de aceitar sua proposta. Aceitar ser mais uma em sua vida.
Um sentimento de solidão se apossou de mim ainda pela manhã até que eu pegasse no sono novamente. Acordei com Elisabeth me chamando.
— Como se sente?
Sorrio, me imaginando contando a ela que ainda estou mal, que aquela carinha de menina quase curada era apenas o efeito temporário do remédio, mas desisto imediatamente quando lembro que ela vai querer me levar para o hospital.
— Me sinto melhor – Meu coração se agita de leve quando fecho os olhos com força. A garganta coça e eu sinto o ar fugindo dos meus pulmões. Prendo a respiração para não tossi, evitando entregar os pontos – Não se preocupe, isso vai passar.
— Vamos já para um hospital.
Esfrego as têmporas. Preciso ser prática e não emocional, convencendo-a de vez que essa ideia era uma bobagem.
— Não precisa mãe, já disse.
Ela aspira o ar contrariada. Me olha por mais algum tempo, em silêncio e parece desistir.
— Como foi o encontro com o Eros?
— Um saco – Eu bufei – Foi por causa disso que agora eu estou doente.
— Não fale assim, Zoe – Ela olha surpresa para mim – Ele me parece um par perfeito.
— Apenas parece – O rosto dela parecia radiante como se esse encontro tivesse sido "um presente" Fitei-a por um instante, boquiaberta – Eu e o Eros somos apenas amigos, não crie expectativas que ultrapasse isso.
Ela se calou. Formou-se uma expressão quase mística de seus olhos nublados, fazendo meu coração martelar. Desvio quase de imediato meus olhos do dela, enquanto ela se afasta e saí novamente, deixando-me só. Alterno o dia entre um cochilo e outro durante quase toda a tarde. Sou despertada com o vibrar insistente do meu celular. Olhei com os olhos semiabertos para a tela que identificava a chamada, mal podendo respirar quando me dou conta que era uma ligação do Arthur para mim. Meus lábios tremem e eu sinto todo o cansaço e desanimo indo embora quando ouço sua voz do outro lado da linha:
VOCÊ ESTÁ LENDO
Minha Obsessão - Livro 1 COMPLETO
Storie d'amoreZoe Morgan é uma adolescente de 18 anos, tímida, de poucos amigos, que não possui sonhos e que há muito tempo não se sente notável. Ela luta insistentemente com um passado traumático e cheio de medos. Abusada sexualmente pelo próprio padrasto, Zoe t...