Capítulo quatro

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Eu acordei aquela manhã uma hora mais cedo do que o de costume. Vesti-me às pressas e saí de casa antes de encontrá-los novamente. Enquanto eu caminhava para biblioteca em passos lentos me senti sufocada por aquele segredo. Ninguém desconfiava do que poderia ter ocorrido, porém a minha mudança era bastante notável, eu já não comia direito, andava calada e cabisbaixa e tinha pesadelos quase todas as noites. Elisabeth bem que me questionou ou tentou adivinhar o porquê do meu comportamento, mas eu preferi me calar, negando todas as hipóteses absurdas que ela levantava.

Cheguei à biblioteca ainda muito cedo e me sentei na praça em frente apenas esperando o tempo passar. Não havia muito movimento nas ruas do Colorado àquela hora. O céu tinha um azul perfeito de manhã cedo e sem nuvens. O sol ainda surgia sem grande força, avisando que aquele dia seria deliciosamente gelado. Aliás, eu estava quase tendo uma merecida hipotermia por ter esquecido o meu casaco em casa. Os meus dentes batiam uns nos outros e por mais que eu me abraçasse nada amenizaria o frio que eu sentia. Pensar em voltar para casa não seria a melhor opção, uma vez que as consequências desse ato geraria um confronto nada agradável entre eu, minha mãe e o seu namorado.

Olhando ao meu redor avistei de longe o Eros, caminhando lentamente com as mãos nos bolsos, de cabeça baixa, vindo em minha direção. Ele estava sereno até perceber minha presença ali. Fiquei olhando para ele enquanto o seu rosto enrubescia e suas pernas tornavam-se indecisas se prosseguiam em minha direção ou voltavam correndo de onde viera. Porém ele se aproximou ainda embaraçado, sentando ao meu lado em total silêncio sem lançar qualquer olhar a mim. Eu o observei enquanto achava graça do seu jeito inocente, estava claro para mim a sua perturbação com minha presença.

Eu envolvi meus braços sobre o corpo enquanto um vento gelado batia sobre minha pele. Eu já não sentia os meus lábios nem mesmo os dedos de minhas mãos. Então o Eros começou a tirar o casaco e em um gesto simpático o ofereceu a mim, enquanto lançava um olhar perturbador em minha direção.

— Não se preocupe – Meus lábios tremeram –Estou bem.

Ele sorriu insatisfeito com minhas palavras.

— Aceite Zoe – Ele continuou segurando o casaco estendido em minha direção.

Mesmo encantada com tal gentileza, senti meu rosto esquentar rapidamente me dando a certeza que aquela altura eu pareceria um pimentão de tanta vergonha. Resolvi aceitar o casaco, peguei e o vesti rapidamente. O alívio foi instantâneo e eu respirei sem senti os meus lábios tremerem.

— Dia lindo para se chegar cedo a biblioteca, não acha? – A voz do Eros tinha uma suavidade que me encantou. Uma ideia me ocorreu. Uma ideia nada boa. A pergunta me pareceu uma indireta.

— Sim – eu disse com sinceridade discreta – Nisso nós dois concordamos.

Ele me encarou ainda embaraçado. A sua timidez ultrapassava o bom senso, ele parecia um bicho do mato acuado sem nenhuma defesa. Desviou o olhar rapidamente enquanto abaixava a cabeça e ficava em silêncio. Certamente o motivo dele está ali tão cedo não era o mesmo que o meu, porém eu não soube o que responder, inventei qualquer coisa e falei.

— Aceitaria tomar café comigo?

Essa pergunta fez a minha barriga gemer de fome. Eu havia saído de casa tão apressada que nem me dei a esse privilégio. Eu o olhei duvidosa de suas intenções. Era cavalheirismo demais para um homem só. Porém ainda restava mais de uma hora até que a biblioteca abrisse e me convenci que talvez não fosse uma má ideia.

— Não quero lhe causar desconforto Eros – Eu senti minhas bochechas corarem.

— Não causará, aliás, será ótimo começar o meu dia em sua companhia.

Minha Obsessão - Livro 1 COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora