Minha Obsessão - Livro 1 COMPLETO

Capítulo treze

Eu saí da casa em órbita por tudo o que escutei, falei e senti, sendo assim não me cuidei para que ninguém percebesse a saída trágica da garota que quase levou um fora. Olhei as horas no relógio de pulso, despreocupada, estava quase uma hora atrasada, porém não ousei apressar o passo. A confusão dentro de mim era tão imensa que pesava. Mesmo que os meus passos automaticamente me levassem direto para a biblioteca, eu estava perdida sem saber aonde chegar.

Eu segui em silêncio, cruzando todo o círculo central da biblioteca e indo para a última fileira de estantes de livros. Ansiava por ficar sozinha, porém o meu anelo caiu por terra ao me encontrar com Nicole limpando pilhas e mais pilhas de livros. Eu a olhei impaciente e até tentei voltar, mas ela correu em minha direção muito animada para saber onde raios eu havia me enfiado.

— Onde você estava? – Ela estacionou bem na minha frente com um sorriso largo e os olhos curiosos.

— Saí para almoçar – Eu revirei os olhos.

— Sério? – Ela perguntou cética – Por que então a sua marmita continua intacta bem ali em cima da mesa?

Ela apontou para uma das mesas do ciclo central da biblioteca, me fazendo recordar que eu havia abandonado até a minha refeição para poder passar algumas poucas horas ao lado dele. Minha barriga gemeu de fome.

— Pois é – Eu dei um sorriso torto para ela enquanto bolava uma mentira bem melhor dessa vez. Minha vontade era responder que tudo isso não era da conta dela, porém se eu fizesse isso não estaria sendo eu mesma – Eu resolvi fazer um lanche qualquer na padaria porque aquela comida ali estava com um cheirinho desagradável.

O olhar firme da Nicole continuava grudado em mim. Eu sentia o ritmo do meu pulso se acelerar.

— Talvez isso me lembre de que eu precise jogá-la fora, não é mesmo? – Eu esquivei o meu corpo para poder passar entre ela e a estante de livros e comecei a caminhar para longe – Depois nos falamos.

Sair do raio de visão da Nicole e das suas perguntas incabíveis trouxe sobre mim uma enorme sensação de alívio, porém ao pegar a minha marmita cheia da comida que Elisabeth fazia com tanto amor todos os dias me fez lembrar que eu necessitava comê-la urgentemente. Porém não o fiz, o olhar da Nicole até parecia um raio-X. Hesitei e joguei tudo fora.

No final do dia eu senti que teria um colapso de fome. Fui para casa em passos apressados antes que desfalecesse ali mesmo. Comi qualquer coisa que vi pela frente e só parei quando me senti realmente satisfeita. Eu tinha uma grande sorte de Elisabeth não estar em casa, ela sempre costumava chegar primeiro do que eu, porém a casa estava quieta e silenciosa. Aquele era o momento perfeito de tomar um magnífico banho de água quente no banheiro da mamãe.

Havia um espelho enorme de corpo inteiro bem na porta do banheiro e essa era a única parte que eu detestava. Eu não podia fugir do reflexo da minha nudez quando saía do box para me secar. A falta de beleza em mim sempre me espantava. Braços e pernas finas, seios pequenos, minhas nádegas não tinham grandes vestígios de fartura. Eu até parecia uma vassoura ambulante com todo aquele cabelo cacheado e volumoso sobre a minha cabeça. Senti-me a coisa mais feia e indesejada da face da terra, talvez o único fato o qual me fizesse sentir especial fosse a presença do Arthur na minha vida. Ele era a minha certeza de que eu ainda não era um caso perdido.

Quando, enfim, terminei o banho, ouvi os passos estalantes dos saltos de Elisabeth vindos em direção ao quarto. A porta se abriu e lá estava eu enrolada em sua toalha bem no meio do seu quarto.

— Olá florzinha – Ela sorriu para mim achando engraçado o modo como eu havia ajeitado a toalha sobre o meu corpo – Como foi o seu dia?

Enquanto ela sentava sobre a cama eu desejei não falar nada sobre aquele dia.