Capitulo 4-J-H-I-N.

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Era como se eu sentisse que, a qualquer momento, o mundo iria desabar. Daqui a alguns dias seria meu aniversário de 18 anos e, naquela altura do campeonato, eu não sabia o que queria da vida.

Estava andando por um campo com muitas flores, até que senti a presença de alguém por perto. Comecei a andar mais rápido, não por medo, mas por força do habito.

-Espere! -ouvi de longe, mas não esperei. O que iriam querer comigo?- Filha... -Era uma voz familiar, mas não era minha mãe. Quem seria?

De repente tudo mudou. Estava numa sala escura, com apenas uma janela ao fundo com alguns raios de sol passando por sua cortina escura. Havia uma cama, e nela estava deitada uma mulher muito bonita, com cabelos vermelhos, mais escuros que os meus. Olhei o seu rosto, e ela estava sorrindo. Só então percebi uma senhora, ao pé da cama, ajudando aquela mulher. Estava em trabalho de parto. Comecei a olhar ao redor do quarto, prestando atenção em seus detalhes. Existia um pequeno armário com uma das gavetas abertas, com alguns cadernos dentro. Me aproximei, olhando os cadernos mais de perto. Quando ia pegar um deles, ouvi um choro de criança. Virei-me rapidamente encarando aquele bebê nos braços de sua mãe.

-É uma menina, minha senhora! -disse a senhora que estava ajudando aquela mulher. Porque havia se referido a ela daquela maneira?

-Minha menina, minha Lua...- a mulher disse, enquanto olhava nos olhos da pequena criança. Me aproximei lentamente olhando os olhos da mulher, que eram vermelhos. E logo em seguida os olhos da pequena menina, que agora sorria, me encarando com suas duas Luas de Sangue.

-Volte para mim, meu amor...- foi o que a mulher disse, enquanto olhava em meus olhos.

Acordei assustada com o despertador extra que minha querida mãe sempre tinha, quase o joguei na parede de novo, mas me controlei e fui em direção ao banheiro. Entrei no chuveiro e tomei um banho gelado, para acordar mais rápido. Ouvi a porta do quarto sendo aberta e minha mãe me chamando.

-Lua? Amor?

-Oi mãe!- falei um pouco alto, para que ela me ouvisse.

-Mas que orgulho, ela não quebrou o despertador!- ouvi a risada da minha mãe e revirei os olhos.- Não se atrase!- ouvi ela dizendo e fechando a porta.

Terminei o banho e fui em direção ao guarda roupa. Senti uma bolinha de pelos nas minhas pernas, e sorri.

-Meu amor! Vem aqui.- peguei minha pequena Lynn e fiz carinho em sua cabeça. Levei ela até seu potinho de ração e coloquei comida nova pra ela. Ela sentou no chão e ficou comendo, enquanto eu ia em direção ao banheiro para colocar água nova para ela. Voltei e coloquei seu potinho ao lado do seu pote de ração.

Voltei para a frente do guarda-roupa e peguei uma roupa qualquer. Coloquei o colar que aquela senhora havia me dado e desci as escadas em direção à cozinha. Por um momento tive a impressão de ver um vulto passando por mim, mas não me importei e fui em direção à minha mãe.

-Mas a dona Elisah anda muito irônica, não é mesmo?- disse enquanto a abraçava, fazendo com que ela se assustasse e com que meu pai começasse a rir.

-Não me assusta assim menina!- ela riu, e me abraçou também.

-Vou indo...- eu disse, andando rápido em direção à porta.- Beijo!- eu disse, enquanto minha mãe falava algo que não consegui ouvir.

Fui andando em direção ao ponto de ônibus, enquanto colocava os fones e ligava em uma música qualquer. Fechei os olhos enquanto cantarolava baixinho...

-E agora vem dizer, morena, que você não quer ser mais a minha pequena... E que prefere dormir e acordar nos braços de um outro alguém...- senti um leve empurrão no meu braço, e me assustei esperando ser assaltada.

-Ei, calma. Eu só ia avisar que o ônibus já chegou...- um garoto disse, parado na minha frente. Arqueei a sobrancelha, o reconhecendo de algum lugar.- Eu sou da sua escola, da sua sala pra ser mais exato. Você tá sempre perdida assim?

É. Quase sempre...

Ele passou as mãos pelo meu rosto, e eu me assustei novamente.

-Que foi?- eu perguntei.- Ah, não. Foi mal. Valeu ai...- eu disse entrando no ônibus e pagando a passagem. Sentei no último banco e coloquei os fones novamente.

-Achei que tu era mais comunicativa.- ele disse, sentando do meu lado.- Lua, né?

-Sim.- eu respondi, tirando os fones novamente. Eu raramente tiro os fones pra falar com alguém.

-Esse não seria o momento em que você pergunta meu nome?- ele me olhou, sorrindo.

-Não sei. Seria?- eu perguntei, encarando sua boca.

-Jhin. J-H-I-N.- ele soletrou, e eu ri.

-Eu não sou burra, eu sei como se escreve Jhin.- ele me olhou sorrindo mais ainda.

-Porque Lua?

-Sei lá.

-Nossa...

-Porque Jhin?

-Como vou saber?

-Pois é. Como vou saber?

-Idiota.

-Olha quem fala.

Chegamos na parada que fica próxima à escola. Descemos do ônibus e fomos andando até a sala. Existiam alguns olhares curiosos na nossa direção, e ele colocou seu braço ao redor do meu ombro. Eu ri e tirei o seu braço de volta de mim, e ele me olhou com cara de triste.

-Tu é malvada, garota.

-Claro.

Entramos na sala e fui pro meu lugar, que era bem no final.

-Trabalho em dupla. Rápido.- foi o que a professora disse, e quando percebi ele já estava do meu lado.

-Você não tem dupla, eu não tenho dupla. Formamos uma bela dupla.

A professora de História passou um trabalho sobre o Egito, para começar a fazer em aula e terminar em casa.

-Você vai ir na minha casa ou quer que eu vá na sua?- ele perguntou, e eu fiquei meio perdida no seu sorriso.

-Pode ser na minha?- eu perguntei e ele concordou com a cabeça. Me entregou seu celular e eu fiquei encarando sem entender.

-Coloca seu número.

-Ah.- comecei a digitar o número e te entreguei.

-Lua... Me deixa tirar uma foto?- ele perguntou e eu fiz uma cara meio estranha.- Pro contato.

-Não.- ele me olhou sem entender e eu sorri, peguei minhas coisas e fui em direção ao ponto de ônibus. Vi ele vindo logo atrás de mim e lembrei que havia pego o mesmo ônibus que eu.

-Ou tu deixa eu tirar uma foto tua, ou eu vou tirar uma foto da tua bunda e vou deixar no contato.

-Pode tirar, eu gosto da minha bunda.

-Tira a mochila da frente então, por favor.- ele disse e eu entrei no ônibus e pagando a passagem, sentando no último banco e olhando ele vir na minha direção.

-Qual é, é só uma foto.

-Não, Jhin.

-Chata...

Fomos o caminho inteiro em silêncio, desci na parada próxima à minha casa e ele estava vindo atrás de mim.

-Olha, eu moro aqui.- parei em frente a minha casa e apontei pra ela.

-Que horas eu posso vir?- ele perguntou.

-Sei lá. Qualquer horário tá legal.

-Ok. Eu vou vir as 14h.

-Tá. Até depois, então.

Fui em direção a porta de casa e fiquei olhando ele ir embora. Ele olhou em direção a minha casa e eu entrei correndo dentro de casa. Minha mãe me olhou assustada e eu corri pro meu quarto, deitando na cama.

-Lynn, oi amor.- fiz carinho em suas orelhas e fechei os olhos.

Acho que nunca esperei tanto pra que as 2 horas da tarde chegassem.

A Filha de Lúcifer.Onde histórias criam vida. Descubra agora