Quando Dante acordou o céu ainda estava escuro e preparou-se para a entrevista que ia realizar naquela manhã. Não escondeu admiração por normalmente ser o primeiro a acordar, mas escutava algumas vozes vindas do andar térreo. Arranjou-se sem pressa e encarou sua figura ao pequeno espelho, tinha feito a barba e parecia mais jovem. Precisava causar boa impressão para a Lady Straton. Uma viúva que cumpria os dois anos e meio de seu luto.
Arregalou os olhos ao ver Ditch e Gabriel já na mesa do pequeno-almoço, com leite, chá e os biscoitos feitos no dia anterior. Pareciam alegres enquanto comiam largando migalhas por todos os lados.
― Surpresa boa ― disse Dante aproximando-se deles com elegância. ― Bons dias!
― Bom dia papá! ― Cumprimentaram em uníssono, estavam vestidos com as roupas da escola e os cabelos bem penteados. Algo até então impossível pelo cabelo desalinhado de Ditch.
― Servirei já o seu café. ― Apressou-se Miriam dirigindo-se para a cozinha.
― Ao que se deve o facto de terem acordado tão cedo? ― Indagou sem esconder o sorriso, acreditava plenamente que acordar cedo fazia bem a saúde.
― Ora veja meu irmão, a criada já começou a maltratar as crianças. ― As botas de Callum ecoavam contra os degraus de madeira. Também estava com um ar fresco e o tom arroxeado ao redor do olho começava a parecer menos grave.
― Seja lá o que for, parece um milagre meu caro, não me lembro da última vez que vos vi na nossa mesa de pequeno-almoço ― ironizou Dante e comeu um biscoito estaladiço. Tinham sido fritos na panela e eram muito saborosos.
― Acredito se tratar de feitiçaria, é sabido que essa gente tem um contrato com o diabo. ― Mal Callum disse aquilo, Miriam já se encontrava na sala com o bule de café. Cerrou os maxilares com força, e Dante percebeu.
― Bons dias. ― Saudou sem dirigir o olhar para o novo intruso, este por sua vez ignorou-a por inteiro.
― Decidi ser o meu maior dever controlar a nossa casa, Dante ― falou num tom sério, mas sentiu-se mal quando seu irmão mais velho desatou a rir em gargalhadas sem fim.
― Se não fizeste antes foi porque não conseguiste. Agora não mais será necessário. ― Afirmou e serviu-se do café, mas viu o irmão menear a cabeça veemente.
― Agora é mais do que necessário. ― Fechou o seu semblante e deitou um olhar duro para a babá.
Sara desceu a voar com a face desesperada, parou diante do pai com os braços estendidos junto ao corpo e o punho cerrado em declaração de guerra.
― Por favor pai ― implorou.
― Sara, um bom dia. Espero que a sua noite tenha sido agradável. ― Saudou Miriam de forma indireta para chamar atenção à necessidade da boa educação.
― Pai... ― Também ignorou a babá, fez beicinho com a boca e pestanejou os olhos cheios de lágrimas. ― Necessito de um modelo novo, todos os outros já foram por mim usados.
― Deverás saudar as pessoas presentes na mesa em primeiro lugar ― ordenou Dante com os olhos frios. Ditch e Gabriel olharam divertidos para a irmã.
― Bom dia. ― Amarrou a face em direção a Miriam como se esta fosse a culpada. ― Pai por favor! Preciso de um vestido novo.
― Eu já disse que não. E não vou mudar a minha opinião. ― Virou-se para Callum com ar ameaçador. ― Ai de ti! A Sara tem de aprender a ser menos mesquinha. Não vejo nenhum problema em repetir a mesma roupa.
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Xadrez, à Preto e Branco
Historical FictionEm finais do século XIX, a sociedade vitoriana era pródiga em moralismos e disciplina, com preconceitos rígidos e proibições severas. O abolicionismo também ainda estava marcado no coração dos ingleses, e em pequenas cidades a intolerância ainda tin...