Asa Branca, Asa Negra

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Dante! Dante! ― Ian Birmingham vinha a correr a sua trás, apesar do seu corpo grande e aparentemente pesado, ele era ágil.

Dante voltou-se a ofegar, tinha corrido pelo menos duas quadras depois da Igreja e já os seus cabelos colavam na testa. Os olhos azuis esbugalharam-se ao compreender algo tão óbvio e que lhe tinha escapado. Pestanejou.

― Ian ― balbuciou a caminhar na direção do seu amigo devidamente trajado para a ocasião do casamento de Callum Morgan e de Nina Bouvet. Aproximou-se dele e uniu o sobrolho.

― Estou a chamar-te desde que deixaste a Igreja à correr, o que conversaste com Callum que te deixou assim? ― Perguntou Ian a passar a mão pelo queixo e de olhos estreitos.

― O Callum deu-me um recado, a Miriam está presa... provavelmente no porto, mas tu, tu Ian vais me dizer exatamente onde! ― Afirmou Dante com um ar sério e viu a face do seu amigo empalidecer. ― Por favor Ian, pela nossa amizade. Eu sei que tu sabes, é claro que sabes, não sei como não me ocorreu antes.

― Dante, eu te peço, não vás. Estarás a desafiar a Madame Bouvet e ela detém poder sobre quase tudo. Não sei o que prende o nosso Comandante à esta mulher, mas a verdade é que ela comanda. Mesmo que vás ao porto, jamais tirarás a Miriam de lá. ― Ian transpirava e ofegava ao falar. A sua mão estava no peito como se implorasse pelo amigo.

― É claro que a vou tirar de lá e com a tua ajuda. Ian, és o homem mais íntegro que conheço, e são os teus homens que estão a guardar seja lá onde for que Miriam esteja naquele maldito porto. Não permitas que o dinheiro fale mais alto que a justiça, estão a prender uma mulher que não fez nada de errado e tu não o irás permitir.

― Dante, isso irá nos custar muito caro, será que não percebes que Madame Bouvet é o demónio de vestido? Nós temos filhos e família e ela é muito poderosa para a podermos confrontar. Eu não sei como o Callum conseguiu te passar uma informação desse porte mesmo diante de Madame Bouvet. Mas eu te peço que não vás, esperemos que o destino nos ajude a resolver.

Dante deu um passo em frente, tinha os olhos semicerrados e os lábios comprimidos quase a formar uma única linha. Meneou a cabeça e colocou uma mão no ombro do amigo.

― Temos o tribunal ao nosso favor se a processarmos e se juntarmos ao jornal teremos a voz pública, tanto que não poderemos ser atingidos. Nenhum polícia é superior ao tribunal supremo e nem a Madame Bouvet é isenta disso.

― Não quando o juiz é o seu colega de póquer. Dante, não percebes que não temos nenhuma saída? Isso seria arriscar em demasia!

― Ian, se conseguirás colocar a cabeça no travesseiro e adormecer a saber que terás cometido uma injustiça contra uma mulher inocente, os meus parabéns. Mas eu não sou assim. Eu vou até ao porto e de uma forma ou de outra, irei encontrar Miriam.

― É apenas uma criada negra! ― Gritou e algumas pessoas que por ali passavam assustaram-se pelo tom do policial. Mas Dante abriu os olhos sem acreditar que tinha escutado coisa igual, tirou a mão do ombro do amigo, abanou a cabeça e deu meia volta, voltando a caminhar pela rua agitada. Escutou passos de Ian a vir a sua trás e a respiração pesada deste.

― Vamos subir um coche, eu levo-te até ela ― decidiu mesmo a saber que viria a arrepender-se mais tarde, mas tinha se dado conta que gostava mais do amigo do que poderia imaginar.

Ambos caminharam em silêncio, as respirações eram cortantes e o clima estava muito pesado. Os conhecidos que por eles passavam admiravam-se por os ver distantes da Igreja e não entendiam por que razão os dois melhores amigos faltavam a cerimónia. Subiram num coche já no final da rua principal e acomodaram-se um de frente para o outro. Dante ainda não parecia bem, tinha a face virada com os olhos longe de Ian.

Xadrez, à Preto e BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora