I. Cinquenta E Sete

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Quando era pequena, Nora costumava andar de bicicleta pelo bairro Sherlake e sempre que passava em frente a casa de número 57 ela parava para olhar. Era uma casa antiga e abandonada há muitos anos atrás, talvez décadas ou séculos, exagero. Por ser velha e inabitada, a casa era alvo de lendas urbanas. A que mais intrigava Nora era a de haver um homem, um fantasma, que morava naquela casa e de vez em quando podia ser vista a sombra dele na janela do andar de cima da casa. Nora não tinha muito medo, podia-se dizer que ela era uma criança desses tipos que são duronas desde cedo. Se é que ela fosse mesmo durona.

Agora, hoje, lá estava Nora, com seus dezessete anos, olhando para esta casa novamente. E apesar dos anos, ao invés de piorar, a casa estava melhor. Talvez porque Rita, mãe de Nora, tenha mandado reformar. Depois que ela soube que iriam se mudar para a casa, ela até imaginou o porquê, já que por ser alvo de lendas essa casa não era tão desejada e para o mercado imobiliário vender ela, teve que abaixar o preço. Sendo assim, era exatamente o tipo de casa que sua mãe procurava: dois andares, com sala de estar, cozinha, dois banheiros, dois quartos e um quintal não muito grande, o que significava pouco espaço para limpar. E claro, era barata.

Rita comprou a casa com a herança que recebeu depois da morte de sua mãe, avó de Nora. Foi um período difícil para elas, aliás. Pois Rita era muito apegada a sua mãe, por ser filha única. Coisa que era comum na pequena família de duas, porque Nora também é a única filha de sua mãe. Quanto ao lado paterno ela não sabia se seu pai tinha irmãos – uma vez que ela nunca conheceu seu pai porque ele abandonou sua mãe antes dela saber que estava grávida de Nora e sumiu. Ela não teve noticias dele até hoje. Rita não falava muito nele, dizia que se ele não quis saber delas, não deveriam querer saber dele também.

Elas entram na casa, Nora e sua mãe. A casa era bonita por dentro. Mas Nora não sabia se foi o resultado da reforma ou se sua mãe deixou como era antes. Nora vai dar uma olhada pela casa, os móveis estavam em seus lugares. Sua mãe havia pedido para os carregadores porem tudo onde ela queria. A cozinha era quase toda de madeira, exceto pelo fogão, pia e geladeira. Na sala tinha dois sofás, a mesa de centro e a TV na parede.

Nora olhou para sua mãe que estava ajeitando um vaso de flor sobre a mesa de centro. Ela estava de costas, seus cabelos castanhos e cacheados, um pouco parecidos com os de Nora, pendiam de sua cabeça e escorriam por suas costas como rios. Ela se vira e Nora podia ver seu rosto. Seus olhos eram como os dela, castanhos. Sua boca e a de Nora também eram parecidas, quase todo o nosso rosto delas eram. O que as diferenciava era o tom de pele. Rita era bronzeada, já Nora era quase pálida.

— Não vai subir pra olhar seu quarto? — Rita perguntou, vendo que Nora a estava observando. — Acho que está do jeito que você quer. Mas se não estiver a gente pode mudar, tudo bem?

— Hã... Claro. Eu já vou subir. — sentenciou Nora.

— Ah, é. Nora — Sua mãe a chamou antes que Nora pizasse no primeiro degrau da escada —, a gente pode pedir comida? É que estou cansada de mais para fazer o jantar hoje.

— Tudo bem, mãe. Pizza? — sugiriu a mais jovem enquanto já ia subindo.

— Calabresa e peperone?

— Me conhece tão bem! — Nora deu um sorriso e continuou subindo até chegar no andar superior.

No andar de cima só tinha os quartos e um banheiro, o outro banheiro era lá em baixo. De frente para a escada ficava o corredor, no fim dele podia se ver uma porta. A do banheiro segundo a mãe de Nora. A porta de seu quarto seria a da direita. Nora caminhou até ela e a abriu, revelando o que havia do outro lado: uma cama encostada na parede, uma penteadeira na outra parede e um armário de tamanho médio e cor marrom, estilo antigo. Suas malas e sacolas, com seus pertences de sua antiga casa, estavam em cima da cama. Esta estava vestida com um edredom azul violeta grosso, para aquecer no frio que fazia em Roseville, principalmente porque o inverno estava chegando, mas geralmente era frio o ano todo, praticamente.

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