XI. Insaciável

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Torlorker era um grande demônio do Submundo. Ele levava uma vida simples e tediosa, por assim dizer. Sendo filho de Dionísio, ele tinha luxúria e ostentação, uma vida no pecado. Durante anos ele viveu em seu reinado de terror, causando para seus prisioneiros muito sofrimento e dor. As fronteiras de seu palácio, um dia, foram invadidas por um exército de Freuyries, seres quase angelicais guardiões da Terra Karin, mandados ali para libertar os sofredores. Mas Torlorker não deixaria fácil, ele juntou seu exército de criaturas de pedra flamejantes e lutou contra os Freuyries.
Ao fim da batalha, Torlorker agarrou um Freuyrie e ordenou que o mesmo desse a localização da Terra Karin. Como juramento inquebrável, o Freuyrie negou a ordem de Torlorker. O demônio ficou furioso e então matou o Freuyrie com sua espada de ferro celeste, onde o sangue ficou marcado.
Irado com a petulância do mandante daquele exército de Freuyries, Torlorker procurou a bruxa Damásio, uma das mais poderosas do Submundo. A bruxa o revelou que para entrar na Terra Karin, ele teria que trazer a ela sangue de Freuyrie, e como sua espada estava manchada com o sangue místico, o demônio entregou-lhe a lâmina marcada. Damásio usou o sangue para invocar um portal infinito que levava à Terra Karin. Torlorker entrou no portal e desapareceu, junto com o portal infinito. Damásio surpresa com o acontecido, ficou imaginando para onde o monstro teria ido, já que a Terra Karin era um lugar desconhecido, o segundo lugar onde nenhum ser que não fosse Freuyrie jamais encontrou. Torlorker poderia estar perdido entre o tempo e o espaço. Ou o infinito. Mas não, o demônio estava em uma viagem extracorpórea sobre o tecido temporal, rasgando as leis da física e sendo introduzido na realidade supernatural onde um ser inferior jamais sobreviveria, o que não era o caso dele. Mas como tudo tem um preço, o preço dele foi a perda de memória. Ele chegou sim a Terra Karin, mas sem saber onde estava e nem por quê estava ali. Só se lembrava de ser um príncipe do Submundo.

Damásio tentou invocar o portal infinito novamente, e conseguiu. Mas para seu azar, foi presa no espaço tempo e se desmaterializou. Sua consciência no entanto, foi transportada para Torlorker, e o mesmo se lembrou onde estava e o que faria ali. A bruxa em sua cabeça o lembrara de seu objetivo: encontrar e matar aquele que o subestimou. Andando pela Terra Karin, ele observou o local. Era um mundo totalmente inusitado. Com montanhas e colinas verdejantes, rios que pendiam das nuvens no céu, pedaços de solo flutuantes no ar. Árvores intermináveis em florestas imensas e, pelos sons, repletas de vidas animais. De repente a bruxa em consciência na cabeça de Torlorker se perguntou, se os animais do Mundo Natural habitavam a Terra Karin, então eram seres superiores. Incrível.
De um penhasco, podia se ver o mar imenso sem fim. Torlorker se desafiou.

"Se existe alguém aqui, deve estar além do mar" - cogitou o demônio.

E então lá foi ele, abriu suas asas negras magníficas e voou sobre o mar azul, de águas tão claras que se podia ver os seres marinhos nadando.
Com sua velocidade sobrenatural, Torlorker chegou ao limite do mar. Um abismo onde a água caía para baixo, e o fim não se enxergava por haver nuvens no caminho. Outra vez, Torlorker se desafiou a ir além. Mergulhou no abismo. Quando atravessou as nuvens, a atmosfera pareceu mudar. Como antes estava descendo, agora ele parecia estar subindo. Parou e analisou o local. A cachoeira gigante ainda caía, ou no caso subia. Mas o local tinha algo de estranho.

"Olha aquilo" - pensou a consciência de Damásio, na cabeça de Torlorker.

O demônio se deparou com uma porta no meio do nada, era a única coisa naquele espaço azul céu, além das nuvens e da cachoeira contrária.
Torlorker então foi até a porta vermelha de madeira, e ao abri-la, uma luz atingiu seus olhos e o mesmo protegeu-os com as mãos. Mas após se acostumar com a claridade, Torlorker entrou na porta. Do outro lado, o inimaginável. O inacreditável. O maravilhoso e ao mesmo tempo horroroso. O impossível, surreal, abstrato.

Karin.

A Deusa ou bruxa, demônio, fada. Era tudo o que ele nunca pensou. Mas pensava agora. Damásio perplexa, pensou em se curvar pois reconhecia Karin como a criadora suprema. Mas Torlorker se indispos a fazê-lo.

"Se és tu, a mais poderosa, transforme a mim no seu superior! Eu ordeno"

Karin apenas atuou. Um ato que parecia ser um sorriso, mas como era algo surreal não se sabia ao certo. A misticidade em todos os tons, cores e sabores, superior a magia ou cosmiscidade, envoltou Torlorker e o fez ao seu pedido. Mas com a lei do preço.

A metamorfose aconteceu de repente. Torlorker, um homem de muita beleza, da pele vermelha mas linda, agora se tornava um monstro gigante e preto, com braços longos e garras compridas, de olhos vermelhos. Banido daquele lugar Surreal, Torlorker voltou para a realidade. Abismado com sua aparência, o monstro irritou-se e destruiu o lar de Damásio, o que não deixou a consciência nada feliz. Mas ele não estava ligando pra ela, ele estava furioso. Sua beleza se foi, e no lugar ele tinha a aparência monstruosa. E bem no fundo, ele sentira algo. Uma fome. Era imensa, ele não conseguia controlar. Saiu pelas ruas daquele bairro no Submundo e sugava a vida daqueles que ficavam em seu caminho. Ele não queria destruir seu mundo, mas o estava fazendo. Então, com a magia de Damásio ele pode transportar-se para outro mundo, onde ele tentaria acabar com sua fome, mas ele era insaciável.

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