XII. Desventuras

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      Eu estava viva. Graças aos céus. Agora eu via com clareza, meu quarto e minha cama, meu armário e tudo tão familiar e era tão agradável a sensação de se estar em casa, mesmo que aquela fosse uma nova casa pra mim. Noto que Sebastian não estava ali, comigo. Como não? Eu me lembro bem de tê-lo puxado pelo portal, me lembro de ter... Sentido. Eu o senti. Pela primeira vez eu senti suas mãos nas minhas.

Desesperada, me levanto apressada e corro para a porta a abrindo com tensão. O corredor parecia mais monótono que o normal, sem deixar de notar que estava sob a penumbra.

— Mãe? — indaguei, procurando a com os olhos assim que descia as escadas pro andar de baixo.

Nada. Nem um som ou sinal de vida naquela casa. Eu parecia estar sozinha. Será que aconteceu alguma coisa? Algo deu errado? Eu temia pelo pior. E se o Torlorker tivesse enfim engolido meus novos amigos fantasmas e de quebra minha mãe? Não. Eu me proibo de pensar nisso. E caso ele o tivesse feito, eu acharia um jeito de acabar com ele.

Procurei no quarto de minha mãe, no banheiro de baixo, nada mesmo. Suspiro frustrada e ao mesmo tempo muito preocupada. O que aconteceu com eles?
Subo novamente até meu quarto, pegaria o telefone para ver se conseguia ligar pra ela. Encontro o celular entre meus livros didáticos e minha mochila. O pego e disco o número da minha mãe com rapidez e aperto no botão verde, coloco o aparelho na orelha e espero até que ela o atenda.

Mas não atende. Tudo o que ouço é o telefone chamando até cair na caixa postal. Aargh, pensei. Era horrível tudo aquilo. Mas então eu me sentei no sofá, precisava me acalmar e pensar bem. O que estaria acontecendo? Me vi cansada, o dia foi realmente longo, estar em um mundo de mortos era exaustivo. Com a cabeça encostada no sofá, acabo fechando os olhos e dormindo repentinamente.

Um sonho me vem...

Mas quando acordo eu não lembrava do sonho. O que foi que eu sonhei? Estranho, penso. Olho no relógio do sofá e são 03:30 PM, o que era estranho já que quando eu olhara no relógio assim que cheguei, eram 03:30 PM também.

Então sinto uma bofetada de espanto. O tempo não passou. Não havia ninguém ali. Onde é que eu estava?

***
    No mundo real Sebastian procurava Nora. Ele atravessou o portal de volta para o mundo dos vivos, mas Nora não. Seu quarto era sombrio e solitário sem ela ali, mas logo uma luz invade o cômodo. Era da porta se abrindo e da Mãe de Nora entrando.

— O que houve? Quem é você e onde está Nora? — perguntou Rita olhando Sebastian assustada.

— É o que eu me pergunto também. Onde está ela? — ele perguntou a si mesmo.

Perguntas sem resposta. Onde estava a garota? De repente um assombro veio a mente de Sebastian. E se ela tivesse ficado presa no Limbo? Era para onde as pessoas iam se passassem por um portal e não chegassem ao seu destino.

— Quem. É. Você! — perguntou Rita outra vez.

— Meu nome é Sebastian Wallet, eu sou um fantasma e guardião da sua filha, Nora Vincent.

Ele falou rápido e se levantou, para caminhar pelo quarto afim de analisá-lo. Rita ficou pasma. Então era verdade. Tudo o que ela ouvira sobre o pai de Nora e do Vampiro lorde Marcel. Já que eles passaram um tempo juntos, ele a contou sobre o mundo sobrenatural. Isso porque era inevitável ela não saber, com uma filha que era praticamente um farol pra coisas assim. Mas em outros casos, o Espelho deveria ser preservado dos humanos ingênuos e mundanos.

Sebastian atravessou a parede do quarto até o corredor, tentando se convencer de que Nora apenas tivesse chegado primeiro e simplesmente saído. Mas no fundo ele sabia que a alma dela poderia estar preso nas terras de ninguém.

— Você não sabe mesmo onde Nora está? — Rita insistiu na pergunta, sua aflição aumentando.

— Não exatamente... — respondeu Sebastian um pouco pensativo. — Mas temo que ela esteja no Limbo. Um lugar quase inacessível, que é pra onde as almas vão caso fiquem perdidas em um portal.

— Ah meu Deus! Nora está presa num Limbo? Oh... Não... — a mulher mais velha agora começara a chorar de preocupação e desespero.

— Não se preocupe senhora Gard, eu vou trazer sua filha de volta e vou mantê-la segura. — disse Sebastian, com um tom confiante que até mesmo ele poderia acreditar.

— Onde começamos? — perguntou Rita destemida a ajudar.

— Hã? Não. Você não vai. É perigoso, eu vou a um lugar obscuro. Quanto menos você souber, melhor, senhora Gard. — terminou Sebastian e se moveu para o quarto novamente.

Na parede, os fluidos do portal ainda existiam, então era fácil Sebastian ir para seu destino a procura de ajuda para resgatar Nora. O garoto apenas tocou a parede e uma explosão de cores se fez presente no quarto, o portal se abrira, e agora Sebastian se dirigia para o mesmo. Atravessando o portal ele seria levado para o local dos monstros, o mundo em que a meia-noite predomina.

O Submundo.

***
Nora, em algum lugar...

   CORRA. A palavra mais destacada em minha mente. Eu arfava e corria tentando não ser pega. O meu peito ardia como se eu respirasse fogo, minhas pernas pensavam em ceder, e minha cabeça girava. Estava sem fôlego e apavorada. A noite predominante, mas não sei se era mesmo noite, pois não havia lua nem estrelas, não sei nem se havia céu. A neblina era intensa pelas ruas, mas apesar de não haver iluminação natural, haviam postes que iluminavam a rua. E atrás de mim, uma sombra terrível dobrava o quarteirão. Era ele, e ele me seguia.
A minha frente vejo uma porta, então apressadamente corro mais rápido e consigo entrar, fechando a porta atrás de mim e encostando na mesma. Meu peito subia e descia, na tentativa de recuperar o ar. Eu estava em uma casa vazia. Não uma casa, mas a minha casa. Como era possível? Eu sai da minha casa antes de ser perseguida vários quarteirões.

“Faça silêncio, ele vai te achar!”

Dizia uma voz fantasmagórica que instintivamente me fez lembrar da mulher na casa fantasma do Mundo dos Mortos. Ela estava ali, na minha frente agora, e me dava instruções de como fugir dele.

“Acalme sua respiração e se esconda, não faça barulho ou ele irá te encontrar!”

Imediatamente faço o que ela diz, correndo para trás de um balcão na cozinha. Me agacho encostando no mesmo e respiro fundo até acalmar a respiração. É então quando ouço a porta abrir e passos pesados adentrarem. Prendo a respiração e tampo a boca com a mão a fim de preservar. Mas meu coração volta a pular freneticamente dentro do meu peito.

— Nora Vincent, você é minha, venha até mim criança. Não adianta se esconder! — diz uma voz grave e assustadora.

Era ele. Torlorker estava aqui. E ele ansiava por mim, me queria. Eu estaria a mercê dele se ele me encontrasse, e pelos passos que se aproximavam de onde eu estava, ele logo me acharia. Eu estava perdida. Era o fim.

De repente, tudo o que vejo é um homem de pele vermelha em um terno cinza. Ele era até bonito, mas seus olhos negros entregavam sua origem demoníaca. Era Torlorker, mas não o monstro gigante e negro de olhos vermelhos, era um demônio humanoide, de cabelos penteados e bem arrumados em sua cabeça, de rosto jovial e atraente.

Te achei. — diz o homem vermelho, que num movimento agarra-me pelos braços e me puxa para perto de seu rosto.

— Oh não, por favor! — digo apavorada, tudo o que eu menos queria era morrer.

Seus olhos então se tornam vermelhos, sua pele negra, e seu terno vai sumindo, sua figura crescia para o ar, tomando volume e forma maiores. Agora sim ele era o monstro do Vale na Terra dos Mortos. E ele estava pronto para me devorar.

O Diário Sombrio - Outro Mundo (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora