VII. O Comedor De Mundos

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Volto a sentir. Minha respiração, meu olfato – sinto cheiro de chá verde – e minha audição. Ouço alguém falando, era uma voz conhecida.

— "Ela está bem?" — ouço Sebastian perguntar.

— "Sim, ela só passou por uma grande experiência. Está em choque extracorpóreo". — responde uma voz que não consigo identificar, mas me parecia familiar.

Aos poucos, a escuridão vai se tornando a mesma claridade que vi antes, tão intensa e cegante. Minha visão retorna aos poucos e consigo enxergar borrões, não estava morta graças a Deus. Logo ela se ajusta e consigo ver um teto. Onde eu estava? Tudo parecia uma casa de madeira bem estilo rústico, ouço um "ela acordou" e olho na direção da voz, vendo Sebastian sorrindo.

— Onde estou? — ouço minha própria voz soar fraca, como se eu acordasse em uma manhã normal.

— Está na casa de Robert — Sebastian estende a mão na direção do outro homem me mostrando. — Doutor Robert, na verdade.

Levanto a cabeça e posso ver melhor. Era um quarto, eu estava em uma cama. Tão macia que eu quase não sentia.

— É tudo tão... — começo.

— Velho? — Dr. Robert termina.

— Não. Tudo tão diferente. Como se eu estivesse em um sonho.

— É quase isso. Por você estar viva, aqui é como um sonho porque seu corpo ainda está no Mundo Natural, mas sua mente está aqui, no espiritual. — explica Dr. Robert.

Me sento olhando para minhas mãos e depois para eles.

— Então eu não morri?

Me levanto e me desequilibro, mas Sebastian se apressa em por suas mãos em minha cintura e meu braço, me segurando. Olho para ele e sorrio, o mesmo retribui com um lindo sorriso.

Era estranho, eu via ele me tocando, me segurando, mas não sentia.

— Não, você não está morta. — Dr. Robert ri. Ele achou engraçado? Porque eu falei sério.

Me solto de Sebastian já equilibrada e dou uma pequena caminhada pelo cômodo que era claro e meio esfumaçado como um sonho.

— Nora, sei que é um pouco cedo para conversarmos sobre isso, mas precisamos. Há um ser que ameaça este mundo, e irá ameaçar outros em seguida... — ele iria continuar, mas Sebastian o interrompe dizendo:

— Rob, ela acabou de acordar. Depois falamos sobre isso, tudo bem?

Olho os dois meio confusa e suspiro. Falam como se eu não pudesse falar. Mas admiro a gentileza de Sebastian quanto a mim.

— Tem razão Sebastian, deixamos esse assunto para mais tarde — o doutor se sente meio constrangido, sorrio em solidariedade. Ele me pergunta — E como está se sentindo, Nora?

— Bem. Bom, eu não morri, estou em um meio-sonho, se é que eu posso chamar disso — me sento na cama novamente.

(...)

Minutos depois estávamos sentados a uma mesa redonda e de cadeiras confortáveis. Dr. Robert vinha da cozinha com um bule de chá verde, o mesmo cheiro que eu senti no quarto. Era bom, apesar de eu nunca ter gostado de chá. Ele derrama o líquido em xícaras e nos serve.

Robert era um homem mediano com um bigode legal. Seus cabelos eram pretos e seus olhos azuis, e seu sorriso simpatizante. Toda vez que ele sorria, eu tinha que sorrir de volta.

Bebo um pouco do chá antes da conversa começar. O gosto era diferente. Era realmente como em sonho, eu podia sentir o gosto e o aroma, mas não sentia ele realmente em minha boca. Resolvo deixar o chá de lado.

O Diário Sombrio - Outro Mundo (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora