• 14 •

191 11 10
                                    

Ando pelo mesmo caminho deserto em que passei no último sábado, mas dessa vez é totalmente diferente porque a lembrança das vozes estão rondando a minha cabeça sem parar. Sinto meu coração se sobressalta quando imagino como aquilo tudo foi tão real e vozes gritando meu nome. Eu só quero nunca mais ter que passar por isso mas eu sei que provavelmente irá acontecer de qualquer forma, eu só não posso dizer que será amanhã, daqui um mês ou um ano, mas vai acontecer, elas sempre voltam. Eu tenho plena convicção e pela milésima vez digo, como uma maneira de convencer a mim mesma, que isso tudo é coisa da minha cabeça, que isso tudo é apenas efeito colateral dos remédios que eu venho tomando por tantos e tantos anos, que a propósito serviam para me fazer não sentir mais essas coisas estranhas.

Eu já tentei largar eles por um tempo, mas não funcionou, as vozes, os pesadelos, medos e alucinações voltaram e piores do que acontece quando eu os tomo. Eu não ligo para as alucinações, elas nunca fizeram nada para mim, apenas me deixam confusa mas depois de um tempo eu as esqueço. Os medos e pesadelos era algo com eu que conseguia lidar, os remédio calmantes me ajudaram muito. Mas as vozes eram a pior parte, porque eu não podia ver de onde elas partiam, elas estavam simplesmente dentro de mim. Eu sabia que isso podia me levar a loucura se não fosse revertido. Entretanto mesmo que elas me assombrem durante todos os dias eu não queria mais ter que ser dependente de todas essas drogas pelo resto da minha vida. Eu queria poder ter uma vida normal, apenas ser uma pessoa normal, sem todos esses medos exagerados e essas coisas bizarras que rondam a minha vida. Eu queria pelo menos acordar e saber que tudo vai correr bem e que eu não teria nada a temer porque nada de ruim iria acontecer.

Quando eu era pequena, meus pais perceberam algo diferente em mim, eu não era como uma criança comum da minha idade. Depois de uma série de exames, fui diagnosticada com uma série de distúrbios psíquicos. Eles disseram que já nasceu comigo e não poderia ser revertido apenas com remédio e psicoterapia. Todos os médicos psiquiatras todos os remédio, nada nunca conseguiu fazer com eu me sentisse bem. Era como se tivesse algo preso dentro de mim que fosse responsável pelo meu próprio tormento. No fundo eu sabia que só eu ia conseguir fazer isso mudar mas apenas que passa por isso sabe como é difícil.

Quando eu entrei na minha pré adolescência, além de todos os problemas que já vieram comigo desde sempre ainda tinha a própria pressão que a idade. Ver todas as garotas ao seu redor mudando e só você continua o mesmo patinho feio era uma das piores sensações do mundo. Era como se você tivesse no último lugar de uma fila e a todo momento alguém entrasse na minha frente enquanto eu era passada pra trás, se é que isso faz sentido, mas pra mim faz e eu me sentia a pior pessoa do mundo e a minha autoestima consequentemente ficou cada vez mais baixa. Na época a minha mãe teve medo de que eu entrasse em depressão, mas depois de muito conversar com ela, já que a porcaria dor psicológicos não me serviam, eu consegui entender que eu não precisava da aprovação de ninguém ao meu redor para eu me sentir bonita. Comecei a entender que cada um tem suas próprias características e eu não precisava ser a garota mais bonita de todo colégio, não precisava ter as melhores roupas, o melhor cabelo para ser feliz. Eu descobri que eu podia amar a mim mesma da forma como eu fui feita, sem mudar absolutamente nada.

Quando eu fiquei maior e eu ficava longos minutos na frente do espelho quase feliz com os resultados que eu pensei que nunca viriam, mas que com sorte eu pude herdar da minha mãe. Eu não tinha seu cabelo ruivo de sereia nem seus olhos azuis vibrantes, mas eu tinha meu próprio jeito que era único. Cabelos loiros acinzentados sempre bagunçados, olhos enormes acinzentados, aquela cor que poucas pessoas no mundo tinha a chance de ter, eu adorava eles. Eu tinha um corpo descente apesar de não ser como o de ser uma modelo.

Já não bastava todos os meus milhares de problemas a minha mãe começou a querer interferir no meu modo de vestir e todas essas outras coisas que eu não dava importância. Muitas vezes me irrita o fato da Emma querer mudar como eu me visto, assim como minha mãe fazia antigamente. Isso me irrita tanto. Eu realmente não ligo muito para o que eu visto, apenas visto porque gosto e porque acho que está bem. Eu não nego que as vezes eu gostaria de usar umas roupas diferentes, mas eu não queria admitir isso, não quero mudar o meu modo de vestir, porque ainda não me sinto absolutamente confiante com meu corpo e não quero de forma alguma chamar atenção para mim mesma ou parecer vulgar.

After Midnight Onde histórias criam vida. Descubra agora