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Coloco minha mochila na escrivania e me jogo na cama. Fecho os olhos e sinto minha cabeça girando devagar como se tudo ao meu redor estivesse derretendo muito lentamente.

Abro os olhos e vejo o teto do meu quarto girar como um caleidoscópio. Respiro fundo e levanto da cama devagar. Tiro meu suéter e jogo no chão. Faço um nó no meu cabelo e desabotoo o sutiã por debaixo da blusa.

Vou até o banheiro e tomo meu remédios de sempre e entro debaixo do chuveiro sem tirar a roupa. Sinto o calor do meu corpo diminuir e começo a tirar o resto das minhas roupas ja encharcadas e coloco sobre a pia. Olho para o espelho ainda quebrado atrás de mim e viro o rosto. Eu ainda não entendi como aquilo aconteceu, mas eu sei que fui eu quem fiz. Não sei como, mas foi eu. Encosto a cabeça na parece e fico ali por mais meia hora pensando em como eu queria que tudo parasse.

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Desço as escadas correndo e procuro alguma coisa pra comer na geladeira. Nunca tem nada para comer nessa casa a não ser que eu mesma tenha feito. Enquanto preparo meu jantar, um movimento no fundo do quintal chama a minha atenção. Desligo o micro-ondas e me apoio na porta de vidro tentando ver melhor o que está acontecendo. Mas não há nada, a não ser um monte de folhas secas que eu vou ter que limpar. Dou de ombro e tiro minha comida do micro-ondas. Me sento no banco e mando uma mensagens para Emma, perguntando porque ela não havia ido a escola hoje. Com certeza não era nada sério, mas eu apenas queria saber. Depois de amanhã vamos para Portland e ainda não organizamos nada. Eu ainda nem acredito que vou passar um fim de semana fora de casa.

Ouço novamente um farfalhar de folhas no quintal, dou mais duas garrafa na minha comida, antes que eu desmaie de fome e me levanto irritada. Abro a porta de vidro e dou um passo para fora de casa. Não há mais sol, no entanto a claridade ainda permite ver tudo perfeitamente. Olho para trás e fecho a porta da cozinha. Desço as escadas e ando pelo meu quintal tentando identificar de onde exatamente está vindo esse barulho. Uma rajada leve de vendo passa por mim me fazendo ficar arrepiada. Ouço o meu antigo balanço ranger e balançar. Vejo as folhas flutuarem e os pássaros indo se esconder dentro da floresta. Esfrego minhas mãos nos braços para espantar um pouco o frio e ando devagar pela grama úmida que está começando a castigar meus dedos.

Quando estou a alguns metros de distância da entrada da floresta ouço uma risadinha suave e giro para trás olhado na direção da minha casa.

"Olá."

Ouço as folhas se remexendo no chão atrás de mim e olho para frente assustada.

Sinto meu coração começar a bater um pouco mais forte. Engulo o seco e mesmo temerosa, volto a andar rumo a floresta com um pouco mais cautela, sem deixar de olhar para os lados antes de dar mais um passo.

Eu já ouvi vozes chamando pelo meu nome, já vi os monstros que me assombravam de noite, tive os pesadelos mais terríveis que alguém pode ter e até explodi o meu banheiro. Às vezes eu sinto como se coisas estranhas já fizessem parte de mim e de quem eu sou, mas eu nunca vou conseguir me acostumar com isso e deixar de me assustar com elas. Meus pais odiavam que eu viesse até aqui, mas sempre que eu olhava através da minha janela um extinto maior me chamava até aqui, o mesmo que me fez vir aqui agora.

"Tem alguém aqui?"

Piso num ganho seco e paro de me mover. Ouço um barulho acima da minha cabeça e consigo ver um galho balançando. Minha respiração começa a ficar mais rápida e então eu olho devagar para o lugar que me cerca. A terra úmida, as árvores gigantescas, coloridas em tons de laranja, as folhas secas no chão e o silêncio absoluto.

"Olá?" digo para o nada.

Me sinto uma idiota falando sozinha. Suspiro e coloco as mãos na cintura. Quando me preparo para ir embora observo um pequeno arbusto perto de mim se movimentando. Com cuidado eu vou até ele e olho em todo o seu entorno. Mas não há nada.

After Midnight Onde histórias criam vida. Descubra agora