Prólogo

872 34 62
                                    


3 anos atrás

Entro no carro as pressas e coloco à chave na ignição com dificuldade. As minhas mãos estão tremendo de nervosismo. Pela primeira vez em muitos anos eu sinto a adrenalina correr como louca nas minhas veias, sinto que finalmente fui trazida de volta a vida. Sorrio e piso fundo no acelerador e durante todo o caminho sinto algo como esperança crescendo dentro de mim, como se eu tivesse dezoito anos novamente e dane-se se eu tomei essa decisão de cabeça quente e de uma hora pra outra eu estou decidindo jogar tudo pro alto e mergulhar de cabeça em um mar desconhecido. Eu sei que está correnteza vai me levar para um lugar eu sempre deveria ter estado e de onde eu nunca deveria ter saído.

Durante todos esses anos de casamento e submissão eu nunca pude me sentir eu mesma. Era como se eu estivesse vivendo no piloto automático até agora.
Em todo esse tempo eu nunca pude dizer que estive feliz de verdade. Eu era feliz por ter um filha, por ama-la incondicional dá maneira que eu conseguia, era feliz por ter um lar e ser conhecida por todos onde quer que eu fosse nessa droga de cidade. Porem o resto nunca importou realmente para mim.

Eu sempre tive um dedo podres para caras. Eu sempre gostei daquele tipo de homem que faz você querer viver perigosamente e intensamente, aquele cara que faz os pais ficarem desesperados. E ele não era assim.

Quando eu me casei, tudo parecia um sonho, não exatamente como eu imaginava mas era bom. Eu estava realmente feliz, feliz por não está sozinha, por ter uma família e por saber que eu seria mãe. O homem que estava do meu lado, era o tipo de homem que faria qualquer mulher estar apaixonada. Ele era literalmente o cara perfeito para se construir uma família. O homem perfeito. O pai perfeito. Mas eu nunca acreditei em seres humanos perfeitos. Tudo que é perfeito tem algo para se desconfiar.  Ninguém é perfeito o tempo todo e ele não era. Aos poucos ele foi mostrando sua verdadeira face.

Nos primeiros anos de casados eu tentei ser paciente, tentei ser uma boa esposa como ele desejava que eu fosse, mas tudo foi ficando cada vez pior e não importa o quanto ele tentava me agradar ou o quanto tentemos reconstruir e manter o nosso casamento. Viver de aparência não é vida. Até que chegou o dia em que eu decido que seria livre. Que reconstruída a minha vida é deixaria tudo para trás. Tudo. E este dia e hoje.

Paro na frente da minha casa e meu coração aperta com a ideia de nunca mais estar aqui novamente. A casa está vazia então eu aproveito para arrumar todas as minhas malas. Lembranças de momentos aleatórios passam pela cabeça. Imagens da minha filha aprendendo a andar nessa sala, dá primeira vez que ela me chamou de mãe... Por mais cada célula do meu corpo grite para eu ficar, para eu ficar por ela eu sinto que o melhor é ir embora. Eu nunca servi para isso, eu nunca vou ser a mãe que ela precisa, eu nunca vou ser boa o suficiente nisso, nunca vou poder dar o amor que uma mãe dá a um filho. Ela sempre vai estar melhor longe de mim.

Sei que eu vou morrer um pouco a cada dia longe dela, mas será melhor assim. Longe de mim e de quem eu sou. Quando entro no quarto tenho vontade de quebrar tudo e jogar tudo para o alto. Eu só quero me esquecer de cada maldita noite em que eu dormindo lado dele, de cada maldita palavra, cada beijo, cada dia que ele me roubou.

Ando até o armário e jogo algumas peças de roupas na cama e tudo mais o que eu vou precisar. Pego a mala em cima do guarda roupa e jogo minhas roupas desajeitadamente dentro dela.

Puxo a mala de cima da cama e ando pelo corredor. Abro a porta do quarto de Candeci e observo o por um instante. Meus olhos começam a arder e minha visão fica embaçada. Pisco para não deixar as lagrimas sequer caírem e respiro fundo.

Seja forte Emery. Ela vai ficar bem. Você também vai. Tudo vai ficar bem e um dia ela vai me entender. Eu espero.

Coloco uma música calma pra tocar no carro e tento controlar os meus soluços.

Disco os números do telefone de Jack e ele atende na primeira chamada.

"Eu estou pronta."

[...]


Hoje


"Não acha que está demorando muito pra conseguir o que eu te pedi?"

A voz grossa do homem questiona enquanto ele analisa o pequeno punhal em suas mãos.

"Pensei que conseguiria isso logo na primeira semana, mas vejo que eu me enganei com você."

Ele continua a falar e faz uma pausa enquanto observa o garoto alto empoleirado perto da janela.

"Será que eu vou ter que pedi a uma outra pessoa fazer isso por mim? Sabe que eu..."

"Eu vou fazer porra!" o rapaz grita para o homem o surpreendendo e o fazendo sorrir.

Ele olha irritado para o homem, mas não demora muito e ele acaba desviando o olhar para longe do veneno na voz e dos olhos daquele maldito homem a sua frente. Ele sabia precisava encontrar uma boa desculpa para adiar o que ele tinha que fazer. Mas ele não tinha uma e estava deixando seus nervos a flor da pele. Ele já havia passado por isso inúmeras vezes, mas desta vez, justamente desta vez as coisas eram diferentes.

"Eu só preciso... Preciso de mais um tempo, não é tão simples assim..." ele diz baixo de mais para qualquer ouvido humano e puxa os cabelos com força.

"Como é?" O homem pergunta como se quisesse ter certeza do que acabara de ouvir.

"Eu preciso de tempo!" ele diz entredentes e puxa os cabelos pra trás.

O homem se levanta de onde estava como um raio e soca seu rosto deixando o garoto sem reação enquanto o sangue escorre pelo canto da boca. Ele o agarra pela gola da camisa e o empurra contra a parede. O garoto não se intimida e o encara olhando nos fundo dos olhos dele, deixando transparecer toda a raiva que ele sentia nesse momento.

"Eu não tenho mais tempo moleque. Eu quero que faça o que tem que fazer e pare de me enrolar. Seu merdinha!"

O corpo do rapaz está tenso e suas mãos estão em punho quando o homem se afasta, não de medo, mas de raiva. De ódio. Ele estava tão perto de perder o resto da sanidade que lhe restava. Se ele tivesse um punhal ou até mesmo uma arma agora ele poderia se livrar rapidamente de tudo isso e fingir que nada aconteceu.

"Você concordou com isso, lembra? Sabe que você não pode mais voltar atrás."

Ele o observa o garoto do outro lado da sala por cima da borda do copo e toma um gole da bebida esperado pela sua resposta.

"É eu sei." o garoto cruza os braços e encara o homem.

Ele sabia que não podia mais voltar atrás de forma alguma, no entanto se pudesse voltar seria a primeira coisa que ele faria sem pensar duas vezes. Ele nunca imaginou que se arrependeria tanto por ter feito esta maldita escolha. No começo ele pensou que seria fácil, porque ele já tinha feito isso outras vezes e não sentiu culpa, nem medo, muito menos arrependimento ou hesitação, mas dessa vez era completamente diferente. Estava fora de seu controle agora e ele não tinha mais certeza se conseguiria cumprir o que havia prometido aquele homem na sua frente.

"Mate ela!" O homem diz antes de sair da sala.

Ele não sabe o que fazer, apenas que simplesmente não poderia voltar atrás, mesmo que isso custasse sua própria vida. Ou a dela... 

After Midnight Onde histórias criam vida. Descubra agora