Já escureceu e meu pai ainda não havia chegado do trabalho. Estranho. Ele sempre chega pontualmente a seis horas e já passava das seis e meia. Não era grande coisa, eu sei, mas algo que nós tínhamos em comum era a pontualidade. Sempre que ele demora alguns minutinhos eu ficava tão inquieta, angustiada, uma sensação tão estranha como se algo de ruim estivesse prestes a acontecer.
Às vezes eu tinha tanto medo de ele me deixar também, assim como minha mãe. O meu maior medo era de ter que sozinha nesse mundo. Sempre tivesse esse medo e desde de criança eu era meio paranoica com essas coisas.
Eu tinha algo que se podia considerar Síndrome do Pânico. As vezes ansiedade ao extremo, medo de ficar sozinha, medo de morrer ou até mesmo medo sem motivo algum. Quando as crises de ansiedade eram muito fortes incluíam sintomas físicos que eu prefiro não me lembrar justamente por medo de senti-los novamente. Era algo que me perseguia diariamente e me sufocava cada vez mais, as vezes até penso que sou louca, as vezes penso que nunca vou conseguir superar essas crises idiotas. Na maior parte das vezes quando eu consigo superar essas crises chego a perguntar porque Deus me fez assim ou o que eu fiz pra merecer isso.
Tudo que os médicos sempre diziam era que alguns meses sendo medicada com remédios fortes, algumas seções no psiquiatra e muito auto controle conseguiriam amenizar. Portanto eu nunca consegui me senti normal.
Lembro-me de quando eu era pequena acordando no meio da noite gritando por meu pai, com medo de que ele fosse me abandonar, ou algo do tipo... Mas no fim que acabou me deixando foi a mamãe.
Eu odiava esse estado de nostalgia que se instalava nessa casa sem ela pra alegrar nossas vidas. A casa era ficava tão silenciosa apenas comigo aqui, no entanto eu amava essa sensação as vez, mesmo que fosse tão sinistra mesmo com todos os medos. O silêncio era necessário as vezes, minha mãe sempre dizia isso.
Eu podia ouvir a palma dos meus pés tocando o chão de madeira polida, a madeira da escada estralando, a comida borbulhando, os grilos cantando do lado na floresta, os carros passando pelas ruas de hora em hora lá na rua. Era bom.
Nossa casa não era lá muito grande para os padrões de casa dessa cidade, mas era linda como a dos filmes. Havia apenas a sala que era iluminada por dois janelões com visão para o gramado e para rua, grades estofados brancos e uma mesinha de dentro com flores coloridas, ao lado ficava a sala de jantar. Do outro lado perto da escada num deck superior ficava a nossa cozinha pequena e charmosa com móveis vintages com cores claras ainda decorados pela minha mãe. No final da cozinha ficava uma pequena porta que levava para o amplo quintal assim como a saída de portas duplas que havia da sala de jantar. Lá em cima tinha apenas três quartos e uma sacada que dava visão a parte da frente da casa. Meus pais nunca sonharam em ter uma casa muito grande, então a casa foi planejada para uma família bem pequena como a nossa.
Minha rua ficava longe do centro da cidade, era bem pacato e rodeado de uma floresta densa e enevoada quando noite. Eu costumava passar as tardes livres lá, andando pelos caminhos decorados e explorando novos, tirando fotos da paisagem com minha polaroide antiga ou lendo deitada em alguma relva. Eu amava a quietude da floresta, a paz que o lugar podia trazer, o barulho da água correndo em algum riacho não muito longe daqui, o sol passando por entre as frestas das árvores, o canto variado dos pássaros, o cheiro da humidade da floresta.
Mexo a mistura na panela calmamente e experimento o molho. Desligo o fogo e despejo o molho em cima no espaguete. A porta dos fundo abre sozinha e começa range. O barulho faz um arrepio percorrer minhas costas, olho para trás e espero a brisa vir, mas não a brisa nenhuma. Sem querer derramo um pouco de molho quente no meu pé. Solto um grito e jogo a panela pra longe.
"Droga." meu pé começa a ficar vermelho e eu nem logo apenas coloco ele em cima da pia e deixo a água fria cair sobre ele.
A porta atrás de mim range novamente e bate com toda força quebrando a porta de vidro e mil pedaços. Solto um gritinho e olhando para ela assustada.
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After Midnight
FanfictionDepois de um grave acidente, a filha do pastor, começa a ter uma serie de experiências sobrenaturais que colocara em questão quem e o que ela realmente é. Seu mundo vira de cabeça para baixo depois de mudar de escola e conhecer Harry, um garoto que...