Capítulo 10 - Consolando

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Não pode ser. Como assim ele pode conseguir a minha guarda? Não, não e não. Acabo esbarrando na porta e meus tios me vêem.

- Lara? - minha tia começa a andar até mim mas eu me viro e saio correndo.

Bato e porta e corro pelas ruas, corro até minhas pernas cansarem. Vejo uma pequena praça e me sento em um dos vários bancos que ali se encontram. Escondo meu rosto nas mãos e grito. Abraço meus joelhos e fico chorando baixinho até uma voz que eu reconheceria de longe falar meu nome.

- Lara? - Caio estava parado na minha frente - Meu Deus, o que aconteceu? - eu não conseguia falar, parecia um bebê que só sabia chorar - Por favor, fala comigo - ele se ajoelha na minha frente.

- M-Meu pai - e choro mais ainda.

- O que tem seu pai? - ele pega na minha mão - Ei, não chora - me faz olhar pra ele - Você tem que se acalmar, toma um pouco de água - ele tira uma garrafinha de água e me dá. Bebo alguns goles e me sinto calma - Pronto? - balanço a cabeça positivamente - Então me conta tudo. Se você quiser, claro.

- Quando meu pai soube que minha mãe estava grávida, ele pediu pra ela abortar - ele abre a boca - Mas minha mãe não quis, ele chegou a agredi-la por isso, ma depois ele a abandonou. Ele recorreu à justiça, e disse várias mentiras sobre a minha mãe, xingou ela de tudo quanto é nome, pra tentar tomar minha guarda. Mas ele não tinha provas, e todas as histórias foram contestadas. O juiz decidiu que ele poderia vir me visitar de 15 em 15 dias, e toda vez que ele vinha, eu ia e voltava chorando. Mas agora que... - dou uma pausa - Agora que a minha mãe morreu, ele disse que vai tomar minha guarda. Ele apareceu lá Caio, no dia do enterro da minha mãe, ele apareceu lá, veio bancando uma de pai bondoso e amoroso. Ele disse algo pra mim que eu nunca vou esquecer - começo a chorar de novo.

- O que ele disse? - ele acariciava meu rosto.

- "Eu tenho dó de você Lara, nem seu próprio pai te quis" - digo e ele me abraça - Ele tá certo Caio, nem meu próprio pai me quis, por que alguém iria me querer? - ele me faz olhá-lo.

- Não pensa assim, eu sei o por que. Porque você é uma menina incrível, bonita que tem muitas qualidades - eu dou um pequeno sorriso.

- Você não tem ideia do quanto ele me faz sofrer, toda vez que alguém pronuncia a palavra "pai" parece que mais uma parte do meu coração se quebra - ele me abraça de novo - Por que ela fez isso Caio? Por que ela me deixou tão solitária, tão inofensiva e tão... vulnerável? - me aperta mais em seus braços.

- Por favor, não fica assim. Te ver desse jeito é de cortar o coração - ele beija minha testa.

- Não consigo Caio. Não... sozinha - digo e ele me olha.

- Sabe que pode contar comigo pro que você precisar não sabe? Somos amigos, se precisar de ajuda, eu to aqui - o abraço.

- Obrigada - digo sorrindo.

Ele me leva até em casa.

- Bom, vou te deixar aqui porque não quero apanhar de novo do seu primo - rimos.

- Me desculpa por aquilo - dou um sorriso sem mostrar os dentes.

- A culpa não foi sua - nos abraçamos e ele vai em bora.

Entro e vejo meus tios sentados no sofá.

- Lara, meu Deus. Eu fiquei preocupada, onde você estava? - passo direto por eles sem falar nada.

- Lara, sua tia falou com você - meu tio me para.

- Vocês perderam o direito de fala comigo. Como puderam não me contar? Eu PRECISAVA saber - grito já chorando.

- A gente só pensou no seu bem estar - meu tio fala.

- Meu bem estar? E se ele conseguisse minha guarda, vocês iriam chegar em mim do nada e dizer "Lara, você a partir de hoje vai morar com seu pai"? - explodo.

- Não é assim... - interrompo-a.

- Claro que é assim, se eu não tivesse ouvido a briga de vocês eu nem estaria sabendo de nada. Agora licença, quero ficar sozinha - não escuto nem mais uma palavra e subo pro meu quarto.

Eu não consigo entender, por que eles não me disseram nada? Eu merecia saber. Eles traíram minha confiança.

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