Capítulo 1 - A mudança

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Tudo o que eu podia pensar enquanto encarava as malas a minha frente era: E agora? Eu ia mudar de casa, de escola, ia ter que fazer novas amigas e eu não estava preparada pra lidar com tudo isso, com toda essa mudança. E se eu não fizesse amizade com ninguém, se eu virasse aquelas anti-sociais que lancham sozinhas no intervalo, que cortam os pulsos porque suas vidas são uma bosta, e no final eu me matasse sem ninguém pra sentir minha falta? Tá, eu já estava exagerando, não podia ser tão ruim assim, ou podia? Eu já tinha me despedido de todos. Math me disse algo como "Você vai ter uma surpresa em breve" e eu fiquei um pouco curiosa sobre o que seria essa surpresa. Agora só me restava esperar.

- Querida? - minha tia adentra a casa me tirando dos meus pensamentos - Está pronta?

- Não... - digo mais para mim mesma - Quer dizer, sim, estou pronta.

- Então tá - diz me ajudando com algumas malas - Seus primos amaram a ideia de que você vai morar conosco.

- Legal - respondo sem humor algum.

Durante a viagem de carro eu fico apenas observando a paisagem do outro lado da janela. Eu e minha tia sempre conversamos muito, mas está um clima um pouco tenso entre nós. Ela tentou puxar assunto algumas vezes mas tudo que saía da minha boca era "Sim", "Não" e "Hum" quando ela contava algo sobre ela. Eu só queria ficar quieta na minha, tendo uma guerra interior enquanto eu tentava convencer meu cérebro dizer ao meu coração que aquilo não era real, que era um universo desconexo. Tentativa falha. Eu tinha passado por muitas fases, a fase da tristeza, da angústia, da dor, da raiva, mas parece que eu nunca ia sair da fase da negação.

- Chegamos - avisa enquanto entramos em uma casa muito bonita.

Minha tia é rica? Porque convenhamos que ter uma piscina na casa não é coisa de gente pobre né.

- Vou ajudar a levar suas coisas pro seu quarto e você já pode arrumar tudo - diz enquanto subimos as bagagens.

- Tudo bem - e então entro no quarto.

O quarto é praticamente uma cópia do meu antigo, tirando o fato de que esse é um pouco maior. Ele é todo branco com uma das paredes preta, tem uma cama branca, um armário com portas de correr preto e branco, uma estante média preta, uma mesinha com uma prateleira e uma tv preta pendurada na parede acima da mesinha. Bom, se vocês não repararam, eu amo branco e preto, mas acho que isso ficou perceptível né.

Começo a guardar minhas roupas no armário e meus sapatos em um lugar reservado no armário, arrumo meus produtos de beleza na prateleira do armário, arrumo meus livros em ordem alfabética na estante, coloco meu notebook na mesinha e arrumo algumas coisas como: Baldes de alguns filmes que eu vi no cinema, latinhas de jogos vorazes, e mais algumas coisas na prateleira da mesinha. Pego alguns porta-retratos e os arrumo na mesinha. Uma foto minha e do Math, outra minha com Bia e Isa, e uma minha com minha mãe. Sinto tanto sua falta... penso deixando algumas lágrimas caírem. Após pendurar alguns posters de Guns N' Roses, outras bandas de rock, e alguns do BTS (sim, sou army), pego meu celular e entro nas redes sociais. Vejo várias mensagens como "Meus pêsames", ou "Sua mãe era um anjo, agora voltou pra de onde veio", respondo todas e desço pra comer alguma coisa.

- Oi Rosa - digo avistando a empregada da minha tia na cozinha.

- Oi minha menina, como você está? - diz pegando no meu rosto com as duas mãos - Fiquei sabendo sobre sua mãe, sinto muito.

- Estou bem e... obrigada - vou preparar alguns pães na chapa.

Termino de fazer e preparo um leite com nescau. Após comer tudo vou pra sala e fico assistindo um filme qualquer, quando a campainha toca.

- Eu atendo - digo indo em direção à porta e abrindo-a - Matheus? O que você tá fazendo aqui?

- Minha mãe disse que era melhor eu passar um tempo com você, e eu queria ver como você está, então trouxe umas porcarias - diz levantando uma sacola.

Meu. Deus. Tem 5 tipos de fini, chocolate, bala de goma, jujuba, trakinas, salgadinho, e outras coisas.

- Nossa, gastou todo o limite do cartão foi? - pergunto rindo.

- O cartão não é meu mesmo, então não tem problema - diz me acompanhando.

- Você não quer me deixar uma baleia né, porque eu nunca cogitei essa ideia - dou espaço e ele entra.

- Talvez - rimos de novo.

- Então, era essa a surpresa que você disse? - me refiro ao que ele disse quando nos despedimos.

- Na verdade não, você verá em breve - faz um clima de suspense.

- Então ta. Vem, vamos subir - levo-o pro meu quarto.

Colocamos The Vampire Diaries pra assistir e abrimos alguns doces.

(...)

- Eu odeio o Kai, além de destruir o casamento da irmã, ele ainda joga um feitiço na Elena, fazendo ela virar uma bela adormecida que só vai acordar se a Bonnie morrer, fala sério - digo assim que terminamos de assistir um episódio e Math ri - Para de rir - e rio também.

- Ele mereceu a mordida do Tyler - diz e eu balanço a cabeça concordando. Ficamos em silêncio por algum tempo.

- Eu sinto tanto a falta dela - digo encarando nosso porta-retrato.

- De quem, da Elena? - rimos e eu taco meu travesseiro nele.

- Não besta, da minha mãe - paro de rir - Sabe, eu ainda lembro desse dia da foto, eu cheguei em casa e falei que tinha dado o primeiro beijo. Eu achei que ela ia ficar brava, mas sua reação foi muito diferente, ela parecia... feliz. Me perguntou com quem tinha sido, onde, quando e se eu gostava mesmo dele. Quis até me dar uma aula de como beijar - começo a rir - O que eu achei um absurdo, claro. Mas eu sinto falta desse jeito brincalhão dela, ela até fez a gente tirar essa foto pra guardar de recordação - encaro a foto na qual eu esou segurando uma plaquinha escrito "Primeiro Beijo" - Eu ainda não acredito que ela me fez tirar essa foto, acho que me subornou com alguma coisa - dou uma pausa - Ela te amava como um filho.

- Ela era uma segunda mãe pra mim, até mesmo no dia que disse que a gente fazia um belo casal - rimos.

- Eu lembro desse dia, fiquei muito vermelha - verdade, eu parecia um morango.

Deito a cabeça em seu colo e ele fica mexendo no meu cabelo. Assistimos alguns filmes e comemos todas as porcarias até eu adormecer em seu peito. Me sinto segura com ele aqui, é uma sensação boa.

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