As coisas tem piorado. Mas você já sabia. Você me avisou, mas eu nunca escutava. Eu disse que você poderia passar a noite mas você só foi embora. Não disse nem uma palavra, mas seus olhos hesitaram. Eu pisquei e já era manhã. Abri o guarda-roupa mas seu lado estava vazio. A cama estava fria mas o sol brilhava lá fora. Queria te ligar, mas o orgulho não deixou. Bobagem. Talvez você estivesse na casa dos seus pais. Ou quem sabe, em algum hotel, nos braços não tão frios de alguma morena. Então eu levantei. Você voltaria. Me amava. Tinha dito ontem pela manhã. Ou foi à três dias?
O café estava amargo, joguei na pia. Desceu pelo ralo. A torrada queimou. Mas não importava, não tinha fome. Sentei no sofá. Liguei a tv. Zappeei entre os canais e não achei nada. Ops! Olha lá o seu filme preferido. Te chamei alto, já estava começando. Mas ninguém respondeu. Bobagem. Nada de mais.
Peguei as chaves, fui no mercado. Voltei, guardei as compras, chequei o telefone e na tela de bloqueio uma foto de um casal. Éramos nós. Tão apaixonados que eu nem me lembro mais. Liguei para uma amiga, marquei uma balada. Contei o que parecia ser a piada do dia. Ela riu, não acreditou. Nem eu acreditei. Por que não curtir a fossa? Mas eu não queria. Me arrumei, bem bonita. Olhei no espelho. Nem me reconhecia. O vestido curto que sempre caiu bem parecia tão meu. E era. Olhei para o moletom jogado na cama. Dias atrás ele parecia tão meu. Mesmo que seja uns dois números maior. Bobagem. Salto alto. Peguei as chaves.
Um carro parou bem na porta. Minha amiga correu e me deu um abraço. Disse que tinha trazido brigadeiro e um pijama. Eu escolhia a noite. Entrei no carro sem pestanejar. Viagem silenciosa. Quase chegando. Seus olhos no retrovisor, me encarando. Olho para trás assustada. Nada. Reflexo talvez. Bobagem. Então chegamos e eu desço do carro. Olhos me acompanham. Uma música antiga. Um copo de bebida. Uma música nova. Dois copos de bebida. Alguem chega mais perto. Mais perto. Perto. Por que esses lábios são ariscos para mim? Antes me tocavam com ternura. Você me tocava com ternura. Nunca essa urgência. Tínhamos todo o tempo do mundo. Não mais. Abro os olhos. Movo a boca. Parece robótico. Vejo você do outro lado da pista. Fecho os olhos. Foco no lindo cara à minha frente. Você sumiu. Perdi de vista. Bobagem. Nunca esteve aqui. Apenas efeito do que bebi mais cedo. Aceso? Preto.
Eu pisquei e já era manhã. Abri o guarda-roupa mas seu lado estava vazio. A cama estava fria mas o sol brilhava lá fora. Queria te ligar, mas o orgulho não deixou. Bobagem. Então eu levantei. Você voltaria. Me amava. Tinha dito ontem pela manhã. Ou foi à seis dias? Mas o café estava amargo, joguei na pia. Desceu pelo ralo. A torrada queimou. Mas não importava, não tinha fome. Te chamei alto, a saudade chegando. Mas ninguém respondeu. Bobagem.
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Desculpe O Auê
CasualeEsta obra é uma coleção de fatos, relatos, devaneios e questionamentos de uma pessoa que vive atrás de uma xícara de chá. Não que ela saiba realmente alguma coisa sobre a vida, mas aqui estão seus pensamentos mais profundos e um contrato de segredos...