Capítulo 7

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-... E você não atenda a campainha de jeito nenhum – pensou um pouco, enquanto a pequena o encarava já cansada do monologo paterno – não precisa atender o telefone também.

-Pai, eu vou sobreviver – disse por fim, em busca de finalmente ser liberada para assistir seu desenho em paz.

Frank sabia que Lily sobreviveria, ele só não sabia como. Nunca tinha pensado sobre isso, mas eram raros os momentos que não a tinha em seu campo de visão, e pior ainda, não existia um grande espaço de tempo em que ela não estava sob observação de alguém, de um ser humano responsável. Era uma outra paranoia, daquelas que nunca imaginaríamos ter, que ele aprenderia a ter com a paternidade.

-Você jantou, o que é ótimo. Se quiser comer um doce – ele andou rápido até a cozinha, pegando o pequeno bauzinho artesanal de chocolates que os dois mantinham para sobremesa, e deixando na mesa de centro da sala, bem na direção onde a menina estava sentada – aqui está. Vou trancar a cozinha. Ainda não descobri o que farei com as janelas só não... – suspirou, desesperançoso sobre o esquema de segurança. Havia muitos vidros pela casa. – encoste nelas.

-Eu não planejo causar um incêndio e depois pular pela janela – ela encarou o pai desesperado – eu juro.

Iero agarrou a filha, quebrando o acordo dela estar se tornando gente grande, e a colocou no colo apertando como um gato manso de estimação. Lily então se deixou aconchegar, aproveitando aquele momento que seu orgulho não seria escutado, para aproveitar a caricia simples e desconcertada do pai afetuoso, que sussurrou a próxima frase com um tanto de inquietude.

-Li, eu não estou acostumado a fazer isso. Só quero me certificar que você vai ficar bem.

-Mas pai, eu vou ficar bem – a pequena miou enquanto estava emaranhada nos braços coloridos de Frank, que já os incomodarem por apertarem forte, ainda que de forma carinhosa.

-Vocês sempre dizem isso. Isso é uma maldição de gerações.

Ele largou Lily, que o deu um beijo na bochecha, alegando pela trigésima vez que sobreviveria àquelas pequenas horas e que iria dormir em trinta minutos. A verdade é que ela gostaria de ir e conhecer o homem dos cabelos vermelhos, mas o pai havia dito que não era o melhor momento e aquele lugar não era para crianças, o que causou um desconforto breve sobre ele ter mencionado que ela ainda era uma mísera criança. Por Deus, ela não havia esperado ansiosamente pelos 10 anos para ainda ser chamada assim.Depois de protelar e dar outras advertências, Frank checou o horário e decidiu ir logo, antes que ficasse atrasado. Aquela era uma situação tão atípica que lhe causava até certo desconforto, pensou nisso enquanto descia no elevador e atravessava a rua, caminhando até o bar.

"O que eu estou fazendo? ", refletiu. Ele, que um dia falsificara a carteira para entrar naqueles lugares e se embriagar, agora se via como um completo estranho ao adentar no ambiente rustico e animado por música ao vivo. Se sentiu perdido até mesmo pedindo ao garçom uma mesa pra dois e sentando-se nela. Estar ali era complicado em todos os aspectos. Ele nem mesmo havia pensado no que dizer, e no que propor. Por sorte, ou azar, Gerard chegou alguns desprezíveis segundos depois dele, tão comprometido quanto Toro havia comentado. Hoje, o ruivo estava mais discreto, vestia um pesado casaco preto, calças um por cento mais folgadas do que as usadas no ensaio e um corturno cano baixo. Os cabelos não estavam um caos, mas sim apagados por uma touca de inverno, o que deixava ainda mais exposta a beleza sóbria do rosto dele. Way era um dos caras mais bonitos que ele já havia conhecido, quem sabe até o mais bonito de todos. Era tão delicado.

-Olá – disse amistoso, quase demonstrando a animação que realmente estava sentindo. Os olhos claros brilhavam no ambiente meia luz e amarelado.

[Frerard] Picture Me Onde histórias criam vida. Descubra agora