Capítulo 6

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O universo pode não conspirar a seu favor todos os dias, ou talvez por sua vida toda, vá saber o motivo, mas, para Gerard, o mês brilhava bem mais que o sol, este omisso por algumas semanas no céu da tempestuosa cidade. Na quarta-feira após o ensaio, quase tudo já estava em ordem e as fotos, principalmente da capa, estavam escolhidas. Havia uma expectativa grande sobre aquele lançamento, porém nada barrava o sentimento de Way, que não conseguia parar de falar sozinho e com suas paredes coloridas sobre o feito.

Frank, por outro lado, havia infestado a cabeça de Anne sobre como aquele dia tinha sido produtivo. Mostrou para ela todo o ensaio e contou sobre a dinâmica fácil que encontrou para se comunicar com o modelo.

-Eu falava e ele respondia da forma que eu realmente imaginava – afirmou por mais uma vez – eu me senti como a porra do Denis Stock clicando o James Dean por Manhattan inteira, mesmo que em um pequeno e limitado espaço.

A ruiva afirmou que não era difícil fazer algo bom com um homem tão bonito, mas deu toda credibilidade pelo gerenciamento do chefe, que procurando outras fotos de Gerard, encontrou várias ótimas, mas nenhuma que batessem as suas, com toda modéstia à parte.

Lily falava diariamente que quando crescesse, gostaria de ter aquele cabelo chamativo, só que mais longo e usar botas pretas como aquela. Ela, na verdade, havia feito o pai comprar um coturno infantil, caçando aquela peça por toda Nova York no final de semana seguinte. Também buscava uma forma de convencer Iero que deveria conhecer o "homem de cabelo vermelho" porque ele parecia descolado. À proposito, "descolado" era a nova palavra no dicionário da pequena, que aprendeu em um livro infanto-juvenil por aí e ela repetiria o significado daquilo todos os dias, achando aquela ampliação de vocabulário totalmente válida e avançada.

O presidente da revista não queria ver imagens, mas sim o texto de Alan, diretor de conteúdo da Vogue e sua entrevista exclusiva à Life. O hype na indústria só conseguia subir e ele já garantira uma diagramação ótima na próxima capa para chamar atenção de qualquer desgraçado que passasse por uma banca no país ou no Reino Unido. Parecia que finalmente o filho rebelde e talentoso tinha lhe arrumado uma aventura decente. Da última vez que ele tentou sair de seus olhos atentos, fez uma filha, e o pai permanecia calmo, pois ainda não tinha sido notificado que o herdeiro havia feito coisas como usar drogas com aqueles loucos da moda ou um ménage com as recepcionistas. Ou decidir abandonar o negócio da família num ataque de loucura. Na verdade, através dos anos ele aprendeu a não temer tanto assim. Era bom ver Frank mais calmo e sem ideias insanas, mas ele ainda achava que aquilo poderia ser premiado com um bom casamento e acredite, não havia assunto que estressava mais o tatuado que aquilo.

A edição online e física da Vogue de fevereiro estava finalmente liberada e em poucas horas começaram a sentir na pele o efeito da química entre fotografo e fotografado. Nos primeiros sete dias, conseguiram bater o recorde de vendas da semana, em comparação com o lançamento anterior. Haviam comentários, análises, tudo que queriam sobre a tendência das roupas escuras e inspiradas no rock para o final do inverno. Atitude. Esse era o nome que estampava o título da matéria que trouxe o texto da editora chefe e as imagens assinadas pelo nome de Iero. E o rosto de Gerard, é claro. O modelo, inclusive, havia até dado uma entrevista para um blog famosinho sobre a experiência e para tal, havia passado o dia inteiro observando as perguntas, se divertindo com as inúmeras respostas que surgiam em sua cabeça, imaginando todas as possibilidades e de como tudo aquilo soava. A excitação o dominava. Acabou por responder o email tarde da noite, e junto com isso, sentiu a liberdade de entrar em contato novamente com Iero.

"Eu queria te agradecer por fazer disso uma realidade, significa o mundo pra mim" dizia a mensagem que Way. Ele enviou uma imagem em anexo da primeira foto que tiraram juntos, a qual não foi usada, mas ele guardava com todo carinho possível. Queria que fosse aquela que estampasse praticamente todas as ruas nas quais passava, deixando a marca conceitual do início de tudo, mas ele havia de deixar aquilo ser decidido por pessoas mais importantes. "Que seja" pensou com desdém, mas nunca ingratidão.

[Frerard] Picture Me Onde histórias criam vida. Descubra agora