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      Ainda sinto falta dos meus tempos de criança, onde eu não tinha que me preocupar com os problemas da vida, ou com os meus inimigos querendo me derrubar.
Nessa época eu era inocente e ainda sonhava com castelos e princesas.
    Mas tudo acabou quando descobri que minha mãe tinha morrido por minha culpa. E saber que o meu pai a amava intensamente. Ele devia me odiar por isso, mas nem isso ele fez.

  Me lembro como se fosse ontem o dia em que minha mãe apareceu para mim em um sonho. Parece até estranho, mas ela estava vestida como um anjo.
        Perdi a minha mãe minutos depois de minha irmã e eu nascermos. Nunca sequer senti o gosto do seu colo, o cheiro do seu perfume, ou um beijo carinhoso de sua parte. Isso ainda é muito difícil para mim, mesmo já tendo passado tantos anos.
       Ainda sonho com ela quase todas as noites mesmo nunca tendo visto o seu rosto. Meu pai me deu algumas fotográficas dela para que eu pudesse ver como ela era, mas é difícil tentar imaginar como ela era antes de morrer.
        O meu pai é o meu melhor amigo antes de Eduardo, ele sempre me aconselha, me mostra o que é certo e o errado, me mostra e me da sugestões de qual caminho devo seguir.
As vezes nem parece que ele é meu pai, e sim um adolescente de dezoito anos, imaturo.
        Marisa e eu somos gêmeas idênticas, mas ouso dizer que na personalidade nem sempre somos iguais.
Eduardo é o meu melhor amigo, ele mora no mesmo prédio que nós desde que tínhamos oito anos de idade.
Ele é meio americano, seus pais foram embora para os Estados Unidos assim que ele nasceu. E quando eles voltaram, Eduardo já estava com oito anos de idade, e então vieram morar nesse prédio, onde estão até hoje.
       Eduardo e eu sempre estivemos juntos em todas as fases de nossas vidas, sempre fomos cúmplices em tudo.

       Confesso que hoje não está sendo um dia tão feliz para mim. É meu aniversário de dezessete anos, e mesmo que esse dia devia ser um dia feliz, não consigo parar de pensar que hoje de qualquer forma, é o aniversário da morte da minha mãe.
Minha irmã nunca se incomodou tanto quanto eu, nunca sofreu muito por não te-la conhecido direito. Mas eu sinto algo me pressionando por dentro. Uma dor marcada pela saudade daquela que eu sequer um dia conheci.

Nunca consegui fazer uma festa de aniversário por conta disso, a não ser o de quinze anos, onde Eduardo foi o meu príncipe. Até que não foi tão ruim assim, mas ainda senti uma agonia tensa dentro do peito.

Hoje cedo meu pai veio até o meu quarto me parabenizar. Queria que pelo menos saíssemos para comemorar, pela minha irmã, que queria muito fazer alguma coisa para comemorar essa nova fase.
Se eu não aceitasse, seria egoismo da minha parte. Marisa sempre quis fazer festas, mas como eu não me sentia muito bem, ela apenas saia com algumas amigas.

— Para onde vocês querem ir? — Perguntei ao meu pai que estava sentado na beira da minha cama.

— Primeiro vamos ao shopping assistir a um filme, depois fazemos algumas compras, e a noite podemos ir ao show daquela banda que você gosta. Fiquei sabendo que eles irão fazer um show hoje a noite, e então comprei quatro ingressos.

— Quatro?

— Você não quer deixar Eduardo fora dessa data especial quer? — Franziu as sombrancelhas.

— Não.

— Então. Espero você pronta lá embaixo daqui uma hora. — Avisou e saiu do quarto.

Pensando bem, até que não será uma má ideia sair hoje, a minha banda preferida vai estar tocando em um show, e o melhor de tudo, é que eu vou estar lá.

       Ansiosa com a notícia, me levantei rapidamente da cama, coloquei uma música no aparelho de som, e fui tomar um banho.
Eu sabia que a qualquer momento a minha crise de choro poderia começar se eu me lembrasse da minha mãe, então queria tentar ficar feliz para que isso não acontecesse.
       Sai do banho e fiquei parada por alguns minutos na frente do meu closet, pensando em qual roupa eu vestiria naquele dia.
Foi aí que eu vi um vestido que eu nunca tinha usado.
Ele era leve e florado, todo rode da cintura para baixo.
      Vesti o vestido escolhido, acrescentei um cinto fino na cintura como marcava o vestido, e vesti uma jaqueta jeans por cima, e por fim, um all star cinza para dar o acabamento à aquele look.

      Ao terminar de me arrumar, desci as escadas indo em direção a cozinha tomar meu café da manhã.
Eduardo estava sentado à mesa comendo como se fosse um morador daquele apartamento.

— Sempre assaltando a minha geladeira, né Eduardo? — Falei dando um susto no maior.

— Marisa? — Perguntou quase que engasgado ao me ver.

— Eu não sou a Marisa! — Respondi intrigada me sentando ao seu lado na mesa. — Eu sou a Elisa, muito prazer em te conhecer. — Brinquei.

— O prazer é todo meu, senhorita. — Ambos começamos a rir. — Você está linda! — Elogiou.

— Obrigada!

— E, você está bem? — Perguntou sério.

— Acho que sim, ainda, não chorei por conta da morte da minha mãe hoje.

— Que bom.

— Mas, e você?

— Eu estou tentando me adaptar às brigas daquele casal, senhor e senhora  mal humorados. — Disse se referindo aos seus pais.

— Sinto muito, Edu. — Segurei a sua mão como um gesto de compreensão.

    Sei que é um assunto bastante delicado para ele, pois seus pais estão prestes a se divorciarem. E sei que ele sofreria ainda mais caso isso acontecesse.

— Obrigado. — Seus olhos já estavam marejados, e sua mão ficou tremula quando a toquei. Parecia estar nervoso.

— Vamos Crianças! — Disse papai empolgado, ao descer as escadas. — Marisa, cade a sua irmã?

— Já disse que eu não sou a Marisa! — Fechei a cara.

— Desculpa. Marisa, vamos logo! — Gritou.

— Já vai, já vai! — Disse Marisa ao descer as escadas correndo.

     Eu juro que me deu vontade de arrancar o meu vestido do corpo ali mesmo e joga-lo pela janela. Marisa estava usando a mesma roupa que eu.
    O fato é que, quando o meu pai compra roupas para minha irmã e eu, ele sempre compra iguais, e eu havia me esquecido disso.

— Ah, não! — Falamos em conjunto ao nos depararmos com as roupas iguais. — Papai! — Olhamos em direção a ele ainda em conjunto.

— O que foi que eu fiz? — Questionou.

— Pai, já disse pra não comprar roupas iguais pra gente. — Reclamei. — Ah, quer saber? Eu vou subir e trocar.

— Não, já estamos atrasados! — Nos puxou pelo braço até a porta.

— Calma eu preciso pegar a minha bolsa! — Reclamei.

— Eduardo, vá buscar a bolsa da Elisa lá em cima. — Disse se dirigindo ao Eduardo. — E você, —Agora para mim. — Não saia de perto de mim. Sei muito bem que você tá afim de trocar de roupa, e eu não tenho tempo pra isso!

— ARG! — Bufei.

— Você é muito invejosa mesmo, né? Até a jaqueta tinha que ser igual? — Marisa começou a me cutucar fazendo intriga.

— Olha aqui garota, eu não gosto de me parecer com você e muito menos vestir roupas iguais. Sabe o quanto isso é cafona? — Rebati.

— Ah, não vem com essa não tá! Você deve ter me espionado.

— Claro que não, eu me arrumei antes que você, tá?!

— Chega! — Papai gritou entre nós duas.

— Pronto, vamos? — Disse Eduardo ao fechar a porta do apartamento.

— Vamos! — Disse Marisa.

— Garota idiota. — Sussurrei revirando os olhos.

— Eu ouvi isso, tá?

— Será que dá pra vocês duas pararem? — Papai insistiu para que nós parassemos.

    Fomos até o estacionamento onde o carro do meu pai estaria. E ele decidiu que Eduardo e eu sentassemos atrás, e Marisa sentasse na frente, para não haver mais brigas.
      Marisa com certeza sabe ser insuportável as vezes, quero dizer, sempre.

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