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    Fátima novamente deu um surto ao me ver encharcada na porta da sala. Era engraçado como ela brigava comigo sem deixar de ser gentil. Sempre mantendo a pose e a classe, mesmo sendo uma empregada.

   No dia seguinte, Marisa e eu chegamos cedo na escola, mas já havia um tumultuo enorme no meio do corredor. Cheguei mais perto à multidão que gritava horrores em uma altura ensurdecedora, aplaudiam e desejavam uma briga que pelo menos saísse sangue do nariz de quem quer que fosse o agredido.
 Foi ai que me deparei com uma cena que me deixou bastante surpresa. Havia um Theo mais uma vez agredindo um garoto, mas dessa vez era no pátio da escola onde eu estudo. Fiquei horrorizada com a arrogância daquele garoto. Esperei a confusão terminar para só assim, tomar satisfações.

No final da briga, as pessoas foram se espalhando pelas suas salas, e o garoto agredido saiu correndo em direção à diretoria. Me admira não ter vindo ninguém apartar aquela briga.

— Sempre causando confusão por onde passa não é, Theo? — Disse em um tom heróico, parada com os braços cruzados à sua frente.

— Ora, ora, se não é a marrentinha do outro dia.

— Gostou do que sentiu entre as pernas? — Provoquei.

— Olha aqui, garota — Me empurrou contra o armário pelos ombros, e me encarou com ódio — Da próxima vez que você encostar um dedo em sinal de agressão, em mim, eu juro que te bato sem dó.

— Vai bater em uma mulher?

— Se for preciso, claro que sim.

— Por que não aproveita essa mera oportunidade?

— Olha aqui, marrentinha, para de me provocar desse jeito! — Me soltou e saiu em disparado para o final do corredor.

   Voltei para a sala de aula onde todos já estavam presente, principalmente Eduardo e Letícia. Dessa vez fiz questão de chegar com o meu jeito alegre de sempre. Não queria que Eduardo pensasse que eu estava sofrendo pela ausência dele.

— Onde você estava? — Marisa perguntou preocupada.

— Por aí.

— Por aí não é resposta, garota! — Falou irritada, revirei os olhos e me direcionei para um colega que estava na minha frente.

    Em um certo momento de conversa, notei que Eduardo estava me fitando, e seu olhar estava pesando sobre mim. Tentei ao máximo disfarçar os frequentes olhares cruzados, mas acabei ficando nervosa e corada.

   Fiquei ansiosa para ir embora, então me concentrei no relógio à minha frente que ficava pendurado à cima da porta. Os minutos demoraram uma eternidade para passar. Cada segundo que se passava meu coração acelerava me fazendo ficar tensa e agitada. Dançava rapidamente com os dedos das mãos sobre a carteira, fazendo alguns ruídos muito notáveis em meio ao silencio  perpetuo que se alastrava sobre toda a sala. Mas eu precisava esperar um pouco mais, até que nos liberassem.
   Na verdade, esses dois últimos dias de aula nem eram aulas. Era apenas uma reunião no dia anterior para organizar alguns supostos eventos que haveria no colégio do terceiro bimestre em diante. E o último dia, era apenas para comparecer, pois não houve nada além de salas cheias de alunos sem professores, tagarelando uns com os outros fazendo a maior farra. Mas nem isso tinha naquela turma, havia um silencio perpetuo que nos condenava ao tédio, porque justamente na noite anterior, a diretora do colégio havia sofrido um grave acidente, e acabou falecendo. A escola inteira ainda estava em choque, embora muitas turmas estivessem quebrando o silêncio, a nossa turma estava em luto pela melhor diretora que já passou por aquele colégio.

— Como todos nós já sabemos, a diretora Mirela faleceu está madrugada.
A diretora Mirela não era qualquer diretora... rabugenta, arrogante, insuportável... Enfim, nenhuma dessas palavras faziam parte de sua pessoa.
Ela sempre fazia questão de tratar todos da melhor forma possível, com sua gentileza, delicadeza e elegância. Sem contar na humildade e generosidade imensa que ela tinha. Com certeza sentiremos muito a sua falta. Ela sempre dizia: "Vocês são como filhos para mim. Todos vocês. Meus filhos do coração." Tenho certeza de que para muitos de nós ela era como uma mãe. Sempre continha os conselhos certos para cada um, em cada situação. Ela sim nos amava, e nós também à amamos. — Dizia com serenidade o vice-diretor sr. Johnson, em frente à uma multidão de alunos no pátio da escola.

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