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   À noite, Marisa adentrou o meu quarto com um semblante preocupado. Com toda a certeza ela já estava sabendo sobre Jônatas.

— Você está bem? — Perguntou ao se sentar na cama.

— Sim, e você?

— Ótima. Mas, não tenho uma noticia muito boa pra você.

— O que é? — Perguntei curiosa e já preocupada.

— O Jônatas foi chamado até a delegacia, e não ficou muito satisfeito. Ele veio atrás de você, e até achou que eu era você. Ele te ameaçou, e disse que você tem que voltar a namorar com ele e ir morar junto com ele, ou, vai sofrer as consequências porque ele não aceita te dividir com homem nenhum.

— Quem ele pensa que é? — Me levantei abruptamente da cama andando de um lado para o outro.

— E tem mais, — Me olhou preocupada — Ele quer te dar uma lição por ter ido até a delegacia contra ele, porque os policias já estavam atrás dele antes, e agora piorou a situação.

   Me senti nervosa e com medo quando soube disso tudo. Não duvidava nada que ele me faria alguma coisa. Jônatas está completamente transtornado, e não está em seu estado mental normal.
Comecei a andar de um lado para o outro começando a roer as unhas, com uma mão levada até a boca e a outra assentada na cintura.

— Papai está conversando com Eduardo lá em baixo. — contou.

— O que Eduardo está fazendo aqui? — Perguntei surpresa.

— Papai o chamou para uma conversa, o motivo eu não sei. — Deu de ombros.

— O que devem estar conversando?

— Não sei, mas acho que seja por sua causa. Vou lá em baixo ver se consigo ouvir alguma coisa. — Avisou indo em direção à porta.

— OK, faça isso!

   Minutos depois de Marisa ter saido do meu quarto, ouço alguém bater a porta com receio.

— Pode entrar! — Avisei.

A porta se abriu lentamente, e em seguida alguns passos foram dados para frente adentrando o meu quarto, entrando em meu campo de visão um Eduardo com o semblante caido e preocupado.

— Oi? — Disse ele ao fechar a porta.

— Oi! — Eu estava surpresa e bastante nervosa por vê-lo ali, na minha frente querendo falar comigo.

— Fiquei sabendo sobre o Jônatas. Sinto muito, Elisa. — Seus olhos estavam marejados — Eu vim até aqui para tentar, reatar a nossa amizade. Sei que fiquei do lado da pessoa errada, e que Letícia não vale nada perto de você. Me perdoa?

— Você errou feio, Eduardo. Naquela noite eu estava aflita e cansada, daí você chega e me lança um desafio daqueles. Sabe, eu amava tanto você, odiava tanto a Letícia. No fundo eu sabia que ela não te merecia. Mas aquilo de nenhuma forma foi criancisse da minha parte. O grande problema era que eu sempre fui apaixonada por você, seu idiota! Aí você chega com a minha pior inimiga do lado querendo que eu te faça um favor. Era um peso que eu não queria carregar dentro de mim. Sabe, não tenho nem palavras pra te dizer o que realmente me convém, mas talvez nem valha a pena mesmo, não é?

— E por que não? Eu também sou louco por você e só agora vim perceber. Nunca havia percebido o seu amor por mim, e só por isso que eu não investi nesse sentimento que sinto por você. Elisa, eu te amo desde que eramos crianças, e eu, sinceramente, não consigo viver sem você. — Fiquei surpresa com essa confissão. Olhei no fundo dos seus olhos e Vi todo o seu sentimento sendo expressado por uma lágrima que caiu dos seus olhos. Eu conhecia Eduardo demais para não conseguir perceber aquilo. Ele estava se declarando com poucas palavras, mas com o coração. — E hoje eu só quero que me perdoe, Elisa. Por favor! — Agora ele chorava, e ia se aproximando de mim com seus olhos nadando em lágrimas. Não resisti e também comecei a chorar. — Foi sem você que eu pude entender que o sentimento que eu vinha sentindo à anos, era mais forte do que eu. Eu te amo, Elisa!

   Ao término dessas palavras, eu chorava sem conseguir evitar. Eduardo, com seus olhos marejados, se aproximou lentamente de mim acariciando o meu rosto. E em poucos segundos nossos lábios já estavam unidos em uma só sintonia de um beijo caloroso. Me senti nervosa por nunca te-lo beijado antes. E ele era o cara que eu amava intensamente, e que agora estava nos meus braços, me beijando intensamente. Eu sentia seu coração bater freneticamente enquanto Eduardo pressionava seu corpo ao meu. Minhas pernas ficaram trêmulas, meu coração saindo pela boca e meus lábios já estavam adormecidos. Mas a sensação que eu tinha, era de que eu estava realizando um sonho ali, junto ao cara que eu amava.

— Eu te amo tanto, Elisa... — Pressionou sua testa à minha, e deixou nossas respirações se misturarem de uma forma maravilhosa.

— Eu tô confusa... — Me afastei de Eduardo andando até o outro lado do quarto. — Dias antes você estava apaixonado pela Letícia, e agora vem até a mim me dizer que me ama? Você só pode tá me zoando, né?

— Eu sempre fui apaixonado por você, Elisa. Mas eu achava que você me considerava apenas como um irmão, um amigo de infância. Aí comecei a tentar te esquecer com a Letícia.

— Como você pode achar que eu não gosto de você sendo que nunca me perguntou? Isso é uma loucura.

— Sei disso. Mas eu estava com medo de você não corresponder a esse sentimento, e a nossa amizade acabar logo depois.

— Eu também estava com isso na cabeça, mas eu espera a sua atitude.

— Eu sei, me desculpa.

— Tudo bem.  Eu te perdôo.

— Obrigado. — Me deu um abraço apertado e demorado. Pude sentir sua respiração acelerar ao me abraçar. — Deixa eu cuidar de você? — Sussurrou no meu ouvido. — Não quero que aquele idiota te faça nenhum mal.

— Fica tranquilo, ele não vai me matar ou algo assim. A única loucura que ele poderia fazer é me manter em cativeiro. — Disse com frieza e tranquilidade.

— Como pode falar assim? Sua irmã, seu pai e eu estamos todos preocupados com você. Sem contar no drama da Fátima, nê? Você não pode agir como se nada tivesse acontecendo.

— Eu vou acabar surtando se ficar com isso na cabeça, Eduardo! Eu também estou com medo, mas não posso deixar esse problema me tirar o sono.

— É, você tem razão. — Afirmou me dando um abraço logo em seguida.

   Nos deitamos na cama como nos velhos tempos, apenas conversando sobre os acontecimentos e novidades. Confesso que no inicio foi um pouco estranho estar ali com ele depois de estarmos brigados pela primeira vez. Mas depois, até os beijos seguidos por abraços foram frequentes e relaxantes. Me sentia feliz a cada segundo, tentando esquecer as ameaças de Jônatas.

   Por um momento parei para pensar um pouco, e sem querer acabei pensando na morte da minha mãe, na sua ausência e em como seria diferente se ela estivesse comigo neste momento. Sinto um vazio enorme dentro de mim que nunca sai, um vazio que não é preenchido por qualquer coisa ou pessoa. Minha mãe deveria preenche-lo, mas ela não está aqui. Pior é quando chegam as datas comemorativas, como o dia das mães, que me sinto tão sozinha e sufocada com a ausência dela. Vendo todos presentearem suas mães, e eu, passei a dar esse amor de filha para Fátima, que sempre cuidou tão bem de mim, mas não é a mesma coisa.

     Sem ao menos perceber eu estava chorando, e com alguns soluços acabei acordando Eduardo.

— Elisa, o que houve? Por que está chorando? — Perguntou preocupado.

Eu não consegui falar nada, apenas chorava compulsivamente. Eduardo me abraçou colocando a minha cabeça sobre o seu peito, e acariciava o meu rosto.

— É a sua mãe, não é?  — Deduziu.

— Não sei porquê nunca consigo cicatrizar isso... Tá doendo muito, Eduardo. Não sei até quando vou conseguir suportar. — Sussurrei em meio ao meu choro.

— Calma, eu estou aqui com você. Você não vai passar por isso sozinha. — Apenas o abracei mais forte em meio aos meus soluços.

   Eu realmente não conseguia entender como isso me feria tanto por dentro. Era uma dor imensa dentro do peito, como se eu de certa forma, estivesse sendo atingida bem no meio do coração. Nunca me sentiria completamente feliz por não tê-la aqui, perto de mim.

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