Amnésia

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Tomei uma expressão de surpresa ao ver a força de Luanda. Marcos se levantou e empurrou a guria, fazendo-a cair sentada no chão. O loiro ia dar um chute na cara de Lulu, mas eu o interrompi, jogando uma latinha de Pepsi na cara dele. Renan me pegou por trás e me deu um soco nas costas com força o suficiente para quebrar um tijolo. Luís viu a cena, pegou um prato de macarrão e o arremessou em Marcos, sem se revelar.

- Guerra de comida!! - gritou Felipe com um bolo de morango nas mãos.

Lulu se levantou, mas Marcos a jogou no chão novamente, com mais força nas mãos. Eu, embora estivesse com uma forte dor nas costas, pude completar o que é a definição de insanidade. Escalei até a tampa da caixa d'água que fornecia água para 40% do colégio. Todos que me enxergavam na tampa daquele enorme recipiente, não esperavam a minha bela loucura.

- Insanidade!! - berrei duas vezes.

Ergui meus braços e pulei dali com todo o impulso que obtive. Em plena queda, eu só visava acertar Marcos, que estava enforcando a ex-namorada. Quando caí, acertei o loiro numa queda de 23 metros. Marcos caiu de dor, pois fraturei 6 costelas dele. Eu sorri no momento, mas ocorreu um motim após o ocorrido. A diretora Parks suspendeu todos ali presentes por 1 semana.

A semana passou e o final de semana chegou com surpresas inesperadas e malucas. Um casal de mendigos que vivia ao lado da minha casa, sempre recebia comida de mim, todo dia, no almoço e no jantar. Paul O'Regan e Mary O'Regan era o nome dos componentes do casal. Paul é um velho de 65 anos bastante sábio, inteligente e criativo. Um pai e conselheiro para mim, pois toda cagada que eu fazia, eu pedia ajuda ao pobre homem. Éramos muito íntimos. Mary, por sua vez, era como uma mãe porque mesmo suja e maltrapilha, aquele coração era de ouro.

- Obrigado, jovem. - disse Paul exalando seu sotaque irlandês.

Eu entreguei um marmitex pra cada um deles, e um pouco de suco de abacaxi que fiz. Pus a bebida em dois copos de vidro, um vermelho e outro azul. Entrei para casa, quando o dia findava-se. Lulu apareceu e me beijou na bochecha, demonstrando afeto. Retribuí o carinho em Luanda e fui até a cozinha preparar algo para tirar minha fome. Peguei um prato no armário e o pus na mesa. Ouvi alguns ruídos abafados na casa, e fui verificar o que havia acontecido. Quando vi, meu queixo caiu. Luanda estava caída e inconsciente, com um enorme galo na cabeça. A garota acordou.

- Quem é você? - perguntou Luanda.

- Sou seu namorado, João.

- Mas o quê? Meu namorado é o Marcos!

Arregalei os olhos e fiquei encarando a garota com meu olhar surpreso por uns 4 segundos. Luanda olhava de um lado para o outro, confusa e passando a mão na cabeça, tentando aliviar a dor da pancada que recebera ao bater de cara na parede do sótão e cair no assoprador de folhas empoeirado e inutilizado pelo tempo.

- Você não conta pro Marcos? - perguntou Luanda com um sorriso enviesado em seu rosto.

- O quê?

- Te achei bonitinho.

Fiquei vermelho igual a primeira vez que vi Lulu, e a beijei inesperadamente. A garota ficou completamente relaxada e adorando o beijo, como se nem tivesse perdido a memória. Luanda me afastou dela e me deu um tapão na cara. Passei a mão, pois estava ardendo como se eu tivesse cortado o rosto e posto o mesmo em chamas. Eu sou apaixonado por Lulu, mesmo que a mesma me esqueça, ainda a amo.

- Tu tá louco, guri? - disse Luanda em tom grave e furioso.

- Você não é mais do Marcos.

- Como não? Tu tá embretado! - gritou Luanda expelindo uma rajada de sotaque gaúcho.

Me calei e manti meu silêncio num intervalo de 4 minutos, enquanto observava Lulu andar em círculos. Suspirei e fui até Luanda, com os ombros pesados. A gaúcha me lançou um olhar penetrante, o qual era como o Olhar da Penitência do Motoqueiro Fantasma. Um olhar da guria me fez gelar.

- Eu vou pra casa do Marcos. - falou Luanda me olhando de revesguela.

Peguei um canivete enferrujado numa das prateleiras empoeiradas do sótão, fiquei brincando com o mesmo e disse:

- Aquele fútil vagabundo!

A boca e os olhos de Luanda se abriram completamente.

- Como ousa falar assim dele?!! - bradou Lulu.

- Eu ouso sim. Eu ouso falar assim do cara que eu mais odeio e que também mais me odeia.

- Tenho nojo de ti!

- Pode ter. Só que vou logo te avisando, o cara que você namora, já me humilhou inúmeras vezes. E a pior foi na escola, talvez você não se lembre de mim, mas se lembra da Ferrugem Maluca, há um ano atrás.

Luanda abaixou os ombros e o olhar penetrante perdeu sua intensidade aos poucos. A garota começou a me escutar.

- Você sabe que teve um garoto que foi brutalmente arrastado pelo chão enferrujado do porão da escola, certo? - questionei.

- Sim, mas o que isso me importa?

- Eu fui o garoto arrastado. Todos riram da minha cara, até você. Foi seu namoradinho que me arrastou, até eu ficar com o rosto jorrando um belíssimo rio vermelho.

Minha cicatriz estava visível, e ela cobre metade do lado esquerdo do meu rosto.

Comecei a chorar um pouco, porque as memórias são tenebrosas e terríveis. Luanda viu minha cicatriz e disse:

- Ei, não chora.

Eu parei de chorar e Lulu me confortou num forte abraço. Fiquei o olhando o teto de madeira de eucalipto velha daquele sótão e limpei meu rosto marcado pelas lágrimas.

- O Marcos é um monstro assim? - questionou Luanda.

Assenti com a cabeça e a guria separou o longo abraço.

O dia se findou.

Luanda me observou tocando baixo e sorriu para mim. Eu sorri de volta pra ela, e comecei a tocar uma música que Lulu adora: Believe, do Shawn Mendes. Particularmente, eu não escuto muito o tal cantor, apesar de gostar de algumas músicas do mesmo. A guria se arrepiou toda, pois conheceu o ritmo da música nas grossas cordas metálicas do baixo.

"Vamos deixar nossos sonhos voarem e nossos corações queimarem." - Believe, Shawn Mendes

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