Minha recuperação foi perfeita, e voltei para casa. No dia em que voltei, soube que houve um tiroteio na Killarney Street, a rua tão pacífica, onde não havia tiroteios ou algo criminal havia 50 anos. O tiroteio não matou ninguém, mas a cerca da casa teve os tapumes danificados. Quando voltei, fiquei tranquilo ao respirar o ar da minha casa. Era 31 de agosto.
- Lar, doce lar... - disse eu.
Cinco mil borboletas-monarca sobrevoavam minha casa durante aquela tarde, assim como anunciavam os jornais. Eu as via com um brilho no olhar, eram lindas aquelas artrópodes.
- Amor, venha ver. - chamei Luanda.
A guria arregalou os olhos ao ver a migração das borboletas-monarca, e uma asiática passou por ali perto e bateu em nossa porta. As borboletas cobriam a moça. Ouvi três leves socos batendo na porta e fui abrir a mesma.
- Quem é? - questionei.
- Vim ver a Lulu! - disse a asiática balançando seus cabelos morenos.
A pele da jovem era superbronzeada, deduzi que ela fosse tailandesa.
- Luh? - gritou a asiática.
A voz dela não me incomodou. Luanda desceu as escadas num ritmo lento e solene, mas ela estava animada. O grito de euforia das duas quase me ensurdece.
- Umi! Que saudades! - disse Luanda.
- Ai, prima, lá em Bangkok tava perfeitíssimo. A melhor coisa foi meu tio Hattat ter me passado a receita de chop suey dele. - falou Umi.
Estranhei ao saber que elas são primas, pois não tem nada a ver uma com a outra. Umi é uma jovem de 16 anos igual Lulu, só que a tailandesa parecia ter 21. O corpo dela é esbelto, o busto é um pouco avantajado e o quadril... Nem tenho do que falar do quadril que fiquei babando esse tempo todo.
- Quem é esse gatinho? - perguntou Umi.
Me envergonhei logicamente e fiquei calado, deixando um sorrisinho enviesado escapar. Lulu olhou Umi um pouco mais séria e falou:
- Meu namorado.
- Sério? Sejam felizes para sempre, meus amores! - exclamou Umi com empolgação.
Luanda sorriu e me beijou intensamente na bochecha. Fiquei mais vermelho ainda, fui para meu quarto e voltei com meu bodhrán, instrumento de percussão típico da Irlanda. Comecei a tocá-lo com suavidão e tranquilidade. O barulho acalmou as gurias que tagarelavam sobre a Tailândia.
- Tu toca bem, guri. - falou Umi relaxando ao som da percussão tranquilizante.
Parei de tocar e fui ver a migração das borboletas-monarca, algo magnífico para ver. Uma das borboletas pousou em meu indicador e eu sorri, vendo-a limpar seus minúsculos pés para levantar vôo, contudo, a borboleta não quis voar, ela permanecia imóvel no meu dedo.
- Voa, amiguinha! Vai com tuas companheiras! - disse eu.
A borboleta bateu as asas e voou, ela me fez sentir inspirado para algo tremendamente explosivo. Umi preparava um prato delicioso, o chop suey. Essa receita consiste de carnes (bife, frango, camarão ou porco) cozidas rapidamente com legumes como o feijão-da-china, repolho e aipo, envoltas num molho enriquecido com amido. É servido tipicamente com arroz.
- Tem isso tudo aí, Umi? - perguntou Lulu.
- Sim. O tio Hattat me deu tudo o que preciso para fazer.
O cheiro penetrava minhas narinas como lanças de aço perfuram papelão. Eu vi Marcos passando e disparando água numa arminha para afugentar as borboletas-monarca. O cara era encrenqueiro de carteirinha. Não fiz nada. Encarei o céu para ignorar o babaca, mas ele adorava tirar uma com a minha cara, não desperdiçava oportunidade alguma. Marcos atirou água na minha cara.
- Para um pouco, criançola! Para! - gritei.
O loiro atirou a arma no meu rosto. Doeu para o santíssimo caralho. Peguei a concha suja com o caldo do chop suey que Umi procurava. Fui bater em Marcos e acertei um golpe na boca do mesmo. O loiro ficou bravo e sacou a sua pistola defronte a mim e bradou:
- A criançola vai te matar!!
- Psicopata! - gritei tentando me afastar.
Paul e Mary foram me acudir. O velho sabia brigar como um cavalo dá coices. Marcos tomou vários socos no peito e foi segurado num mata-leão perfeitamente encaixado. Mary foi me acalmar, mas eu estava apavorado. O mendigo sufocava Marcos, para me defender, pois ele e Mary me tinham como um filho que nunca tiveram.
- Acabou a palhaçada, velhote! Morre, porra! - gritou Marcos.
O babaca saiu do mata-leão, mas foi pego novamente e sua arma estava num ponto, pronta para disparar. Foi um puxar de gatilho, e Paul teve a caixa torácica perfurada pela bala, que o atravessou. O mendigo caiu na hora e me falou:
- Até... o o-outro... la-lad-lado, f-filho m-meu... confie em m-meu... suicí-cídio j-justo.
Meus olhos se encheram de lágrimas, não pude conter a longa cachoeira. Mary foi correndo contra Marcos e o espancou com uma quantidade de tapas. O loiro caiu com o rosto vermelho. Mary se virou para mim, correu até mim, mas teve metade do caminho percorrida. Outro estouro estrondoso foi escutado. A última bala da pistola de Marcos acertou a cabeça de Mary, a mesma caiu na hora. Jamais senti algo assim, o loiro queria desgraçar minha vida como pudesse, da forma que mais lhe convinha.
- Maldito! - falei correndo até Marcos.
Eu sabia uma forma de deixá-lo mais bravo que um tiranossauro: era só falar da mãe dele.
- Tua mãe é uma gorda! Ela é tão gorda que entope um buraco negro! - gritei no ouvido dele.
Tomei um chute na canela, que foi revidado com outro mais forte. Marcos me deu uma coronhada na cabeça, que me atordoou. A pistola foi deixada na porta da minha casa e o loiro saiu correndo. A rua inteira assistiu a fúnebre e fatídica morte do humilde casal O'Regan. Eu choro quando os anjos merecem morrer.
- PAI! Te entrego meu espírito! - gritei aos céus - Oh, Pai! Porquê me abandonaste? E teus olhos me abandonaram! E teus pensamentos me abandonaram! E teu coração me ABANDONOU!!!
Meu anseio por justiça falava mais alto que minha sanidade. Eu não ia deixar Marcos impune.
"Eu choro quando os anjos merecem morrer!" - Chop Suey!, System Of a Down
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My Celtic Love
Teen FictionNa rua Killarney, em Dublin, Irlanda, vive uma jovem garota chamada Luanda. Nada como uma simples tarde na casa do namorado, assim estava Luanda com Marcos, o par da moça, até começar uma tragédia que mudou a vida da garota para sempre, mas outro ga...