União

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Eu e meu amor estávamos agarradinhos vendo o quarto filme do pugilista mais incrível do cinema, Rocky IV. A pipoca estava levemente amanteigada, perfeita ao meu paladar. Lulu estava quase pregando os olhos, até um ruído alto soar, como uma sirene.

- Quê isso, tchê? - disse Luanda assustada com o barulhão.

Eu fui verificar o som, e a polícia estava rondando o bairro todo. Lulu subiu para nosso quarto e foi tentar dormir, pois o sono dominava o seu físico. Abri a porta e me deparei com um belo show de luzes ofuscantes azuladas em meus olhos, o camburão havia parado em frente ao cercadinho de tapume. O policial saiu do carro e me abordou:

- Mãos ao alto, meliante!

- Eu não sou meliante nenhum! - respondi indignado.

O olhar de desconfiança me fez arrepiar, pois sua barba morena e rala era meio assustadora. Eu, aparentemente estava desacatando o policial, mas não compreendia o motivo de sua vinda repentina. Li o nome do tira, próximo ao distintivo: Sargento McCormack.

- Vamos! Levante as mãos! - disse o sargento apontando a arma para mim.

Não consenti em sua ordem, fiquei calado e fui até o policial.

- O que quer de mim? - questionei.

- Você foi indiciado por agressão corporal contra Marcos Jacobs Fratelli.

- Como? Ele matou dois pobres moradores de rua! Guardei até a arma usada!

McCormack pediu para entrar na casa e investigar melhor, assenti com a cabeça. O robusto policial pegou a arma com luvas para não misturar as digitais de Marcos.

- Alguma outra evidência? - perguntou o tira.

- Não. - respondi.

O policial foi embora, e me pediu para ficar atento, caso Marcos voltasse a atacar. Subi para meu quarto e encontrei Lulu num sono tão profundo quanto a Fossa das Marianas, só Deus e eu soubemos o quão cansativo era ter que aguentar aquele loiro oxigenado.

O dia nasce, uma manhã fria e com neblina que cobria 40% da luz do Sol na rua Killarney. Eu ainda pensava sobre a morte do casal que me considerava filho.

- Ei, rapaz! Tá tudo bem? - perguntou Umi.

- Hã? - me assustei pois estava distraído. - Ah, sim. Tomei um sustinho bizarro agora.

Foi uma situação engraçada, já que o susto foi momentâneo. Eu olhei minha mão esquerda e vi uma das veias saltarem, fiquei andando para lá e para cá. Já não focava mais em nada, meu olhar acusava tristeza, mas simultaneamente, a vontade indomável de fazer justiça com as minhas próprias mãos gritava.

- Louco eu não sou, mas irei dar minha cartada final, logo. - disse em baixo tom.

6h35min da matina, nuvens cobrindo o Sol, umidade relativa do ar: 80%, um dia nem tão frio nem tão quente, apenas monótono. Eu andava calmamente com Lulu para a escola, até levar uma chuva de ovos.

- Se abaixa! - gritei tapando Lulu para ela não se sujar. - Que porra é essa, marreco?

Uns cento e setenta ovos caíram sobre   nós. Eu olhava por todos os lados e ouvi uma risada bem aguda como a voz do Anderson Silva.

- Ah!!! - exclamei em voz alta.

Lulu estava intacta, já eu... O odor de ovo podre se alastrou por meu corpo todo. A risada soou de novo, parecia vir por detrás de uma árvore numa pracinha. Segui o som silenciosamente e encontrei Marcos, mas ele não me viu. Tinha um saco de pipoca cheio de fezes de pombo jogado a uns três metros de mim, fui pegar sem fazer nenhum barulho.

- Agora, pegamos o saco e pronto! - disse eu baixinho.

Peguei alguns galhos cheios de cupins e formigas, coloquei as coisas no saquinho e pus debaixo da retaguarda de Marcos. Os cupins e as formigas mordiam ferozmente as nádegas do loiro, que saiu correndo de dor. Voltei correndo para Lulu enquanto eu me sufocava de rir com a cena tosca.

- Amor? O que houve com aquele babaca? - perguntou a gaúcha gargalhando.

Só lancei um olhar nas coxas finas do loiro enquanto segurava o riso.  Eu sei dar uma de troll com as pessoas, e dá muito certo, mas quando eu exagero, não tenho dó. O pessoal da escola ia chegando, e assim, a aglomeração no ambiente externo da escola.

7h10min, as nuvens já não cobriam tanto o Sol, e a temperatura deduzi que estava 27° C. O tempo estava perfeito para a final do Campeonato Colegial que a escola propunha. Ano passado, minha sala ficou em segundo lugar, mas nesse ano, prometi ganhar. Não teria aula, apenas seriam partidas, mas o pessoal foi para assistir os jogos, e consequentemente, as tretas que iriam rolar com as rivalidades de cada sala. A final era entre o oitavo ano A e o 2º colegial B - nomeamos o time de Hot Potatoes (batatas quentes), e a equipe adversária se chamava Blue Horn Bulls (touros de chifres azuis).

O gramado era mediano, algumas partes do campo estavam maiores que outras, parecia um pasto onde os bois só queriam devorar a metade. O pessoal estava se arrumando no vestiário, e o nosso uniforme era: camiseta preta com listras amarelas na vertical, calção preto e meias pretas com finíssimas listras amarelas na horizontal. Minha chuteira era uma Nike Tiempo, cujas cores laranja e azul eram muito chamativas, mas o que eu poderia fazer? Era a minha única chuteira apropriada para futebol de campo.

O professor de educação física inglês James Haltwhistle era o treinador da equipe adversária, e o da minha, logicamente, era Paul McGrath. A partida seria narrada pelo inspetor da escola, Walt Finnegan. O inspetor começou anunciando os jogadores de cada uma das equipes, sua voz um pouco aguda soou dizendo:

- Pelo time dos Blue Horn Bulls, temos nas traves: Peter Rock com a camisa número 1; na lateral esquerda: Lochte, número 4; na zaga temos Jan Halford, Abraham e O'Shea, com as camisetas 15, 22 e 2, respectivamente; na lateral-direita está Renan com a camiseta de número 3. No centro de campo estão Harold Halford com o número 8, Johnson, 11, e Charlton é o de número 6 ; e no ataque,  estão Marcos e Thomas, números 10 e 7 respectivamente. Marcos é o capitão da equipe dos Bulls e a formação é um típico 5-3-2.

Eu reparava cada centímetro na grama e me alongava um pouco, antes de começar a partida. Finnegan começou a informar sobre a formação dos Potatoes:

- E agora, pelo time dos Potatoes, temos defendendo o gol: Nathan, com a camiseta 12; na lateral esquerda está Hawks, número 5; na zaga temos João Pedro e Luís Felipe, os camisas 14 e 3; o lateral-direito é Johnny William, número 6; os meio-campistas: o espanhol Diego Pamplona com a número 4, Roger é o número 16. No meio-campo ofensivo temos: Andrews, número 7 e Klopp, número 8. Os atacantes são: John e Quartey, números 9 e 10 respectivamente. O capitão da equipe é João.

Meus ossos não se gelaram como na partida do ano passado, esta vez, eu me preparei com tudo.  O juiz apitou, dando o início da partida...

"Eu não luto achando que vou vencer. Eu luto porque tenho que vencer!" - Ichigo Kurosaki

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