Capítulo 3 - Eu sinto a falta de vocês

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Tal cerimônia tem por consequência abrir a porta para outras. Depois de ter excluído o aplicativo, outra cerimônia precisou ser feita.

Já consigo ouvir meus medos me chamando. Sei que não posso me entregar de novo, por isso, não deixem que as luzes se apaguem, não deixem que a luzes se apaguem, as luzes se apaguem... Apaguem... Apaguem...

Eu sinto a falta de vocês quando as luzes se apagam. Isso ilumina todas as minhas dúvidas. Me coloquem para dentro, me segurem. Não me deixem ir, me deem luz.

Por que arruinei tudo? Por que sempre arruíno tudo? Tanto tempo se passou, estamos tão longe. Não sei quem vocês se tornaram. Eu quero cada pedaço de vocês. Eu quero os seus céus e seus oceanos também. Mas por favor, me tratem suavemente, mesmo que seus toques possam ser cruéis. Quero lhes ensinar coisas que vocês nunca souberam.

Ouço a fechadura da porta do apartamento sendo virada. Não quero que me encontrem nesse estado. Estou no chão sem conseguir me impedir de pensar quando falei para eles "tragam o chão até meus joelhos". Deixem-me cair em suas gravidades...

Sem me virar para quem entra, sinto minha prima me puxar com leveza pelo braço. Ela beija-me no rosto de volta para a vida, onde posso voltar a realidade e ver seu corpo sobre mim.

Ela me lembra que hoje tínhamos combinado de irmos nos encontrar com seu agente literário, já que em breve ocorrerá o lançamento de seu livro. Ela sabe que estou muito feliz por ela enfim realizar seu sonho tão aguardado, e com isso já sinto um pouco daquela tristeza se esvair. Ela finalmente pergunta o porquê da cerimônia, então digo que é por causa de um dos motivos de sempre, meus amigos que se foram. Ela me lembra então que é por isso que estou aqui na Califórnia vivendo com sua família, para começar minha vida de novo - Pela vigésima vez, eu penso - e encontrar pessoas ainda mais interessantes.

Vou com ela e seus dois filhos ao escritório, por lá me distraio e esqueço da situação pelo momento.

Há um bom tempo desde a última crise. Eu havia notado, meus primos assim falaram e também o psicólogo. Ninguém viu isso de uma boa forma. Ainda mais por ser sobre um tema do passado. Por isso, todos se empenham em me fazer me sentir melhor com distrações e pequenas doses de prazeres, como uma ida ao cinema, uma fatia de pizza a mais que não comia desde quando meu peso estava incontrolável... Tudo está indo bem até o dia da dança.

Meu primo coloca meu CD preferido para tocar sem nem se importar com os vizinhos. Ele mesmo começa a dançar e também meus priminhos. E aqui estou eu dançando de olhos fechados, apenas sentindo a música. Então começa uma música que nós seis ouvimos juntos quando eu apresentei o melhor trabalho na faculdade. Eu lembro de como nós dançamos isso na casa de um deles. Eu amo o jeito como os nossos corpos se mexiam. Todos felizes e virados para mim do outro lado da sala, passando por todos os meus vazios. Ninguém me tem como eles. Em seus corações eu trago minha alma. Eles são delicados com meu ego, quero entrar nos seus grandes desconhecidos. Com eles e eu ditando o ritmo.

Mas sei que esses pensamentos aqui estão de novo porque deixei as luzes apagarem. Nós jogamos tão sujo no escuro. Isso tudo porque nós estamos vivendo em mundos separados, o que só faz com que tudo seja mais difícil.

- Não esqueça que estamos aqui para lhe ajudar como for necessário. Tente não pensar mais nisso. Amanhã já é o lançamento do livro, você pode se distrair com essa ideia pelo menos. De qualquer maneira, será uma viagem e sei como você as adora. - Não lembro como vim parar na minha cama. Meu primo com um ar preocupado do meu lado, desejando-me boa noite.


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