Ainda assim tenho orgulho? Sim. E muito. Mas não posso, talvez nem conseguiria, terminar o discurso com ataques. Por isso acrescento as seguintes frases mais pelos meus ouvintes do que por mim:
- Eu provavelmente deveria vos dizer agora antes que seja tarde demais, que eu nunca quis machucar vocês ou mentir nas suas caras. Considerem este meu pedido de desculpas pelo o que quer que tenha parecido além da verdade. Eu sei que já se passaram anos, mas eu prefiro dizer isso agora, caso eu nunca mais tenha a chance.
Suas expressões logo estão diferentes. Alguns me olham redimidos, outros apenas aliviam o que expressavam minutos atrás.
No entanto, esse é o momento cinematográfico em que a câmera desacelera.
Uma vez dito tudo isso, percebo que já não importa o que eles venham a dizer. Percebo também que já não sem tempo essa guerra é ganha. E de maneira dolorosa finalmente percebo que eu a travava com nenhuma outra pessoa a não ser comigo.
Bem que todos me dizem que já é o tempo de eu seguir em frente, e que preciso aprender a me iluminar e a ser jovem. Quem me vê com distância pode pensar que eu me perdi na minha própria complexidade, mas meu coração é um vale, tão superficial e feito por homens... Mesmo que eu ainda não tenha encarado a vida de fato como ela é, como minha terapeuta diz – e culpa minha família por isso –, tenho apreciado cada vez mais a simplicidade. Eu posso morrer de medo de deixá-los entrar, pois eles veriam que eu sou só uma mentira. Às vezes eu me sentia só nos braços de seus toques, mas eu sei que isso sou eu, porque nada nunca é suficiente. Quando eu era criança, eu cresci perto do Rio Lea. Havia algo na água, agora há algo em mim. Sei que eu não posso voltar, mas os recifes estão crescendo para fora dos meus dedos. Eu não posso voltar para o rio. Mas está nas minhas raízes, está em minhas veias, está no meu sangue... e eu mancho cada coração que tento usar para curar a minha dor.
Eu sei que tenho culpa acerca de como deixei a situação evoluir, não dando tudo de mim para impedir sua progressão. Em um quadro onde a depressão está presente, é normal se assumir culpas que a si não são atribuídas. Por mais que eu assim faça, me considero uma pessoa orgulhosa justamente por não saber atribuir a responsabilidade dos meus fracassos somente a mim. Meus pensamentos estão sempre no passado.
Finalmente declaro vitória contra os fantasmas que criei.
Então eu culpo o Rio Lea.
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Fiksi PenggemarAmizades são usualmente mais profundas e marcantes do que grandes amores. Todo o dia que começa traz consigo um fragmento do novo eu que seremos no futuro, porém fragmentos com intensidade não equivalentemente distribuída ao longo deles, nem com qua...