Capítulo 8 - Amar no escuro

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- A gente sabe que você precisava de ajuda naquela época, e nós a oferecemos diversas vezes por ligações que você nunca atendia e por mensagens enviadas por redes sociais que você veio excluir tempos depois. Foi depois daquela visita que nós lhe fizemos em que você ficou apenas 5 minutos conosco antes de nos dispensar que nós pensamos que você tinha preferido terminar a amizade... Por isso seguimos em frente para ninguém se ferir ainda mais com a situação... Mas nós nunca deixamos de torcer pela sua melhora ou pelo melhor para você.

Um deles fala essas palavras que agora já soam como as de um estranho para mim.

- Sim! E você não precisa fazer tanto drama assim. Você tem o nosso amor como disse que queria. Nós estamos aqui... Podemos recomeçar.

Outro acrescenta novas palavras nas quais infelizmente não sou capaz de sentir convicção. Talvez nunca houvera outrora a convicção que imaginava ter, e somente pude perceber isso agora porque meus olhos parecem finalmente estarem se abrindo. Muitas vezes palavras são ditas porque o momento as pede... E eu sempre sucumbo ao momento. Não me permito estudar o mundo dos outros já que estou em um mergulho egoísta a fundo do meu. E essas são palavras bonitas. Eu gosto delas. Mas não sei porque algo me afasta. Eles ainda não entenderam meu ponto. Sei que poderia lhes explicar. Mas isso só me mostra como minhas idealizações eram falhas. Acabo por recuar alguns passos do grupo... Os braços em um auto abraço.

- Foi um erro. – As palavras saem relutantes, lentamente ganhando mais convicção. – Eu só posso agradecer-vos mais uma vez por estarem aqui e pedir-vos desculpas pela situação... Mas acho que os nossos caminhos já estão desencontrados. Há muito espaço entre nós. - Estamos a oceanos de distância – Talvez nós já estejamos derrotados.

- Não, não foi um erro. – Alguém me responde. Eles estudam seus sapatos e quando alguém decide contribuir com a conversa, todos levantam seus olhares com um fundo de esperança de que a situação possa ser revertida. – É só que...

Algum tempo se passa sem que essa pessoa consiga completar a frase com algo verdadeiro, mas com algo que possa me consolar. Escolhe dizer que foi só porque é natural que as pessoas percam o contato umas com as outras. E então se aproxima.

Só quero ir embora. Não suporto mais estar aqui.

- Por favor, fique onde você está. Não chegue mais perto. Não tente me fazer mudar de ideia. Não quero mais que eu seja motivo para deixar vocês feridos. Eu estou sendo cruel para ser gentil. – As palavras me custam caro. Porém eles não vão deixar esse episódio terminar assim. Estão redimidos depois de eu ter atacado. Mas eu não posso ficar dessa vez, porque eu já não os amo mais. Preciso acrescentar: - Vocês me deram algo que eu não consigo viver sem. Vocês não devem subestimar isso quando estiverem em dúvida, mas não quero continuar como se tudo estivesse bem... Quanto mais ignorarmos isso, mais brigaremos.

Eles não sabem o que dizer. Não posso nem me colocar na situação deles porque seria eu quem menos saberia. Só que vê-los assim tão desolados mói meu coração que parece nunca ter sido inteiro.

- Por favor, não fiquem tristes. Não posso enfrentar seus corações partidos. Estou tentando ser uma pessoa corajosa. Isso é o melhor para nós, precisávamos esclarecer um fim. Nós não somos os únicos e eu não me arrependo de nada, cada palavra que eu disse, vocês sabem que eu sempre as quis dizer – Diferentemente do que vocês estão fazendo agora. – É o mundo para mim ter vocês na minha vida... – Paro um pouco antes de continuar. Preciso me recompor antes de prosseguir: – Mas eu quero viver, e não só sobreviver.

Viro-me de costas. Não tolero encará-los agora.

Aproveito para dar alguns passos para longe dali.

Demoro um pouco para me dar conta de que eles chamam pelo meu nome.

– Parem de me pedir para ficar. – Digo. – Não posso amar vocês no escuro. Apenas tirem os olhos de mim para que eu possa partir. Estou de longe com muita vergonha de fazer isso com vocês me olhando.

- Você pode partir, não há problemas. Mas não parta pensando que não lhe aceitamos mais. Amizades não foram feitas para terminarem. Você era a pessoa que mais acreditava nisso. A pessoa que a gente conheceu jamais faria o que você está fazendo agora.

Ainda me surpreendo com suas inércias.

- Sim, sim... Eu era. – Confesso ainda de costas. – Mas tudo me mudou. E eu penso que vocês não podem me salvar.



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