#14 - 10 Centavos

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Mais uma vez ela contava as moedas em sua mão. Quando saíra de casa tinha certeza de que estava com o dinheiro certo, mas naquele instante faltavam dez centavos. Era deprimente que tivesse chegado a esse estado, há um ano atrás, ela sequer sabia o que eram moedas.

Tila respirou fundo sentindo o aroma do café que tanto amava. Já não mais parecia o mesmo cheiro, uma melancolia se associava a ele, a cada dia que passava aquele parecia ser o último café que tomava naquele lugar.

Por algum tempo foi capaz de manter seu antigo estilo de vida, mas sem um emprego, sem ajuda de seus pais e sem um Sugar Daddy para sustentá-la, tornou-se impossível ir ao brunch todo domingo e tomar cafés hiperfaturados que pareciam ter sido feito por anjos.

Colocou a mão em todos os bolsos a procura de sua moeda perdida. Sem aquela moeda seria obrigada a pedir um café normal, nada de canela ou creme, sem chocolate ou raspas de biscoito.

Sorriu ao sentir o metal no fundo do bolso do macacão. 10 centavos, que ironia, em outros tempos números depois da vírgula não existiam.

Entretanto, não se arrependia de nada, tomaria todas aquelas decisões erradas outra vez e tantas vezes quanto fosse necessário para poder ter tido o gosto daquela vida. Pouco importava que seus pais a tivessem cortado por completo, que seus falsos amigos tivessem desaparecido ou que seu namorado a tivesse largado.

As viagens ao redor do mundo, as hospedagens em hotéis magníficos, todas as comidas exóticas... Havia válido a pena.

Sua mãe discordaria por completo, ressaltou em seu último discurso como ela se tornara a desgraça da família com todo o escândalo do desvio de dinheiro, mas sua mãe era uma hipócrita, todos eram. Ninguém reclamou das mesadas que ela mandava, nunca perguntaram de onde vinha o dinheiro, nunca se manifestaram em devolver esse dinheiro, de retornar os presentes comparados com o dinheiro sujo. Muito pelo contrário, assistiram a todo o escândalo na enorme TV da sala que ela os dera de natal.

Seu namorado, outro hipocrita, todos guardaram os benefícios de uma rica Tila, mas quando tudo deu errado e a polícia apareceu, quando nomes começaram a ser publicados no jornal, ninguém mais parecia conhecê-la. Brandon rapidamente precisou viajar e seus amigos pararam de atender ao telefone.

Ela quase teve sorte por não ter sido presa, mas sorte não era a palavra certo, sua liberdade só viera depois de dedurar todas as irregularidades da empresa. Ninguém gostava de um dedo-duro.

Se tivesse sorte não teria sido pega, não teria que contar moedas, se realmente tivesse qualquer sorte que fosse, estaria em Bali tomando drinks de frutas com mini guarda-chuvas.

Mas... ao menos não era como eles, não era como nenhum daqueles que fingiam estar abismados com o que ela fizera, quando haviam feito muito pior. Não ia fingir arrependimento por ter tido os melhores anos da sua vida, independente dos meios. Ela só tinha uma vida e se os fins justificam ou não os meios, pouco importava quando esses finais eram felizes.

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