#20 - O Tempo no Lago

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Ela já era uma senhora com a memória fraca de uma vida inteira de acontecimentos. Sua visão precisava daqueles óculos enormes e seu tempo  demandava calma e paciência. Ainda assim, mesmo com tudo isso, semicerrava os olhos tentando acreditar no que via.

Levantou-se devagar e caminhou através da galeria. Aproximou-se do senhor acompanhado pela garotinha.

– Guido? – ela perguntou fazendo o senhor virar-se para ela.

Sim, era ele. Seu coração acelerou, 56 anos depois ele ainda fazia seu coração bater mais rápido. Sentiu um frio na barriga como se o estivesse vendo pela primeira vez.

– Luísa? – o senhor abria um sorriso largo ao se deparar com o velho amor de infância.

A pequena observava o avô sorrir como nunca antes. Ele era um senhor sério, exceto com ela. Costumava contá-la sobre seus tempos de infância e sobre os terríveis acontecimentos da guerra. A pequena Luiza sorria para a senhora  feliz por conhecer o amor de seu avô (de quem seu nome fora inspirado).

Lembrou da foto que seu avô a mostrará certo dia. Luísa não era a mais bela de seu tempo, mas era a mais doce. O olhar dela era terno e agradável, como se sempre estivesse orgulhosa de você o tempo todo.

Seu avô e a Sra. Luísa ficaram amigos devido a amizade que havia entre seus pais, ou seja, ou bisavós da pequena Luiza.

Adorava escutar as estórias sobre o tempo em que passavam no lago durante os feriados. Eram sempre divertidas e cheias de emoção. Os olhos de seu avô brilhavam quando contava sobre essa parte tão boa de sua vida.

Mesmo com tantas estórias maravilhosas, a pequena Luiza tinha uma estória preferida que incluía a Sra. Luísa.

Seu avô tinha 17 anos, foram para o lago comemorar o fim da escola. 4 famílias dividiram a enorme cada dos Archemis. Era a mais bela e triste estória.

Luísa, naquela época, era jovem, idealista, romântica, sonhava com um grande amor, mas sua família tinha outros planos.

Eles tentaram, contaram a família que se amavam e esperaram com olhares esperançosos por um veredito favorável. No fim de tudo, não era que seu avô não fosse bom o suficiente para casar com ela, mas haviam planos, planos que a casariam melhor e dariam a ela uma vida que jamais seu avô poderia dar.

Luísa poderia ter lutado, naquela noite decidiram fugir. Viver seu amor longe de todos. Seu avô esperou. Esperou até que o sol se posse por completo. Quando a noite finamente tomou conta, voltou para casa. Todos jantaram em silêncio sem saber que um grande amor fora destruído por completo naquele dia. Seu avô nunca saberia que a mãe de Luísa não deixou que ela fugisse, disse a garota coisas que alguém inocente como ela, não poderia discordar. Luísa ficou, mas não queria.

A pequena só sabia disso pois seu pai a contou, contou sobre a carta que Luísa o mandou antes que ele fosse para guerra. Carta que sua falecida avó, grávida de seu pai, escondeu por medo de que quando a guerra acabasse tudo pudesse mudar. Sua avó, aquela senhora que sempre fora tão severa...

A pequena Luiza achava que adultos eram confusos. Que se contassem a verdade teriam vidas melhores, mas então lembrava do que sua avó disse em seu leito de morte um ano atrás: "ninguém quer a verdade, principalmente, quando já é tarde demais."

Luiza nunca disse a Miguel sobre a carta, sobre o segredo de sua avó. Parecia mesmo tarde demais, naquele dia.

Mas Luiza tinha uma dúvida, naquele instante, com seu avô e a Sra. Luísa frente a frente:

Ainda era tarde demais?

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