#07 - Insegurança

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Ela era o problema. Ela sabia que era o problema. Ela não sabia o que fazer quanto a isso.

Era um vício. Uma mania masoquista enraizadas em suas entranhas.

Costumava sempre ser naquele mesmo pronto, quando tudo corria bem e parecia perfeito. Era nesse instante que ela se apavorava, que os destruía antes que pudesse ser destruída. Era uma questão de sobrevivência, evitava que as lágrimas saíssem de seus olhos, não precisava curar feridas, era uma questão de sobrevivência...

Mas dessa vez... Dessa vez, ela não queria destruir tudo. Queria lutar contra esse alterego destruidor. Porém é sempre muito difícil lutar contra si mesmo. Sentia-se sendo puxada em difração ao precipício, lutando contra os ventos que ela mesma criava. O desastre era eminente e tudo que queria era evitar isso.

Sentia-se um parasita sugando o melhor dele antes de livrar-se do hospedeiro. Não era má, a evolução a colocara na posição errada da cadeia. Até tentava dar mais de si do que retirar, mas nunca parecia suficiente, a natureza é inegável.

Não queria estragar tudo, na verdade, queria poder contar tudo a ele, mas ele não era diferente de uma criança com um brinquedo novo. Ela era divertida e cheia de novidades, mas quando os defeitos começassem a surgir a brincadeira já não teria mais graça e seria jogado no fundo da caixa de brinquedos.

Não queira ser esse brinquedo quebrado, queria ser o enorme urso de pelúcia passado por gerações, que mesmo com o braço rasgado ou o olho caído, ainda seria abraçado na hora de dormir.

Ela só queria ser o urso, mas mesmo quando tentava sempre acabava sendo aquele urso que a garra da máquina nunca consegue alcançar , ou ainda quando alcançado, cai de volta no mar de bichos de pelúcia que provavelmente nunca serão levados para casa.

– Quer pedir alguma coisa para comer? – ela escutou a voz dele por detrás da porta.

Voltou-se de volta para o espelho olhando em seus próprios olhos. Ela era uma pessoa amável, mas não o suficiente para realmente ser amada.

– Claro – respondeu numa voz neutra – pode escolher o que quiser.

Sorriu com tristeza se observando dentro da camisa dele. O perfume ainda estava impregnado, o calor dele ainda fazia parte do tecido. Ela estava com medo, com medo de perdê-lo, com medo do quão doloroso seria o fim. Temia a cada segundo que ele finalmente encontrasse a garota certa para ele, temia nunca ser capaz de ser a garota certa.

Forçou um sorriso engolindo o choro em sua garganta. Ele havia roubado uma parte dela, mas ele nunca saberia disso.

Abriu a porta. Ele estava deitado sobre a cama fazendo o pedido no celular. Sorriu para ele, uma chama sempre se acendia dentro dela quando estava com ele.

Ele sorriu, adorava como ela sempre estava radiante.

Ela deitou-se e aconchegou-se em seus braços, ao menos poderia aproveitar o tempo que restava.

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