Capitulo 3 Samantha

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No dia seguinte, quando eu acordei, estava com um mau humor enorme, só de pensar que teria que começar a “trabalhar” mais cedo, me causa uma angústia enorme, mais não vou deixar que isso transpareça. Depois de me arrumar, vou para o salão e fico por lá conversando com Mari até que comece a chegar os primeiros clientes, e, para meu desgosto, o senador já está ali, me pergunto se ele vai ficar vindo aqui todos os dias agora. Ele vem em nossa direção meninas e, como sempre, me escolhe, torço para que chegue o dia em que eu não precise mais me sujeitar a isso.
Quando ele me chama, sigo com ele até a suíte que ele sempre fica, pois ele tem uma suíte separada só para ele, são raras às vezes em que fica em uma suíte comum, estamos na porta, ele abre e pede que eu entre, quando entro, ele me segura pelos braços e me joga na cama com força.
- Nossa! Como você está gostosa hoje.
Ele diz, fungando em meu ouvido e se esfregando em mim, aquilo me causa tanta repulsa que sinto uma vontade enorme de vomitar, mas me controlo. Ele me gira na cama até que eu fique de barriga pra baixo, me posiciona de quatro e em apenas um puxão rasga minha calcinha.
- Eu senti muito sua falta ontem. – lamenta. - Fernando me explicou que mandou você tirar uma folga, pois tinha sofrido muito na mão de dois. Ora, ora, eu não sabia que você gostava de um Ménage, se eu soubesse, já teríamos feito há muito tempo. Mas, não precisa se preocupar, porque, amanhã, eu preparei uma surpresinha pra você.
Quando ele diz aquilo, meu coração gela, e eu não posso fazer nada, mesmo que eu dissesse que não queria, ele me obrigaria a fazer. Rogério não gosta de ser passado para trás, se alguém já fez tal coisa, ele também vai querer fazer, e não importa se ele gosta ou não, se outro fez, ele faz.
Ao sair daquele quarto, Fernando me para, sua voz ecoa na minha cabeça, entre batidas estrondosas do meu coração, penso entender que ele quer que eu atenda outro cliente. Externamente, eu o obedeço, depois de me recompor o mínimo possível, eu caminho cabisbaixa para o quarto. Internamente, eu queria poder matá-lo por impor tamanho sofrimento a mim. À minha frente, na realidade, existe apenas uma porta, nenhuma escolha, e um homem, mais um, que usará apenas meu corpo. Minha alma? Essa... Cada dia, eu perco um pedaço dela.
Ele é um senhor. Um homem que deve ter sua família, um que prometeu amor a uma mulher e terminou a vida contribuindo ao mártir de outra. Mecanicamente, ele acena quando, com um sorriso forçado, eu peço um tempo para ir ao banheiro. Olho-me no espelho e tento desesperadamente ver qualquer coisa que seja eu de verdade, alguém por baixo da maquiagem forçada que disfarça os hematomas, alguém além da mulher que se entrega por... Engulo as lágrimas que ameaçam e volto para o quarto com o melhor sorriso que tenho, coincidentemente ou não, também é o mais falso.
Vejo, com tristeza, meu corpo começar a ser despido por minhas mãos trêmulas, o olhar dele sobre meu corpo expressa o que eu sou pra ele. Mero objeto.
Mero objeto. É isso que tenho sido. Enquanto minhas mãos me tocam e as dele tocam a si próprio, eu percebo o alívio entre a angústia espalhada no meu peito, por hoje, talvez apenas por agora, eu sei que não serei tocada. Não que isso seja menos sujo, porém sei que são menos marcas para carregar quando aquela porta se fechar e tudo que restar for o vazio de uma vida indesejada.
O dia passa torturantemente devagar, entre entrar e sair de quartos, eu vou para o meu, extremamente, cansada. Há uma ligação perdida de Mili.
Retorno à ligação e ela atende no primeiro toque.
Mili me diz que papai foi preso, e isso me tranquiliza pelo menos minha irmã não terá mais que ver tudo as coisas que papai aprontava para arrumar dinheiro.
- Eu estou morando com tia Olivia, os policiais foram lá no dia seguinte papai foi preso e me perguntaram se eu tinha algum parente, eu não quis dizer sobre você para não complicar sua vida, então disse apenas sobre tia Olivia e eles me mandaram para cá. Já faz duas semanas que estou aqui, Sam eu estou bem. Pode ficar tranquila, aqui eles não vão me achar, eu vou ficar bem, só quero que você também fique e que venha para ficar junto comigo.
Ouvir da boca dela que, finalmente, está longe e segura me tranquiliza. Mas, ainda assim fico com medo pois, com meu pai dentro de uma cadeia, Fernando sabe que eu não tenho mais a obrigação de ficar ali com ele e isso vai fazer com que ele tente algo com meu pai e eu não poderei fazer nada.
- Sam?
- Oi! Desculpe, meu amor, eu estava pensando em como vou fazer para ir até você e em como vou fazer para livrar o papai de Fernando de uma vez por todas, pois, mesmo lá dentro cercado de policiais, ele ainda corre o risco de sofrer uma retaliação, pelo menos você está livre e ele não poderá te achar, mas ainda assim temos que tomar cuidado ainda, não sabemos até onde aquele monstro sabe de nossas vidas.
Tia Olivia é irmã mais velha de nossa mãe, é minha madrinha, apesar de não ser muito presente, por causa da distância – ela mora atualmente na cidade Zermatt na suíça. Isso a deixa longe do alcance de Fernando e, por enquanto, isso me deixa aliviada.
[...]
No dia seguinte, quando acordo, vou tomar meu banho, me arrumar e esperar que o motorista do senador Rogério venha me buscar. Ontem à noite, antes de, finalmente, pegar no sono, eu bolei um plano, para que eu possa fugir depois do meu encontro com o senador.
Deixo uma bolsa pronta com tudo que irei precisar para sumir daqui, deixo escondido debaixo da minha cama e, quando Fernando bate avisando que estão me esperando, saio e tranco a porta.
Quando entro, todos ali me tratam como se eu fosse alguma celebridade, apenas porque o motorista diz que é para fazer serviço completo. Ah, se eles soubessem como é minha vida e o porquê de eu estar ali, apenas para ser exibida como uma boneca nova de um menino mimado que não é capaz de arrumar uma mulher, sozinho, pois nenhuma iria aturar o que eu terei a frente.
Eles me levam para uma sala cheia de cadeiras e o cabelereiro me pergunta sobre a cor de meu cabelo, se era natural ou tingido.
Olho para a pessoa refletida naquele espelho e já nem sei mais o que é natural, sei que ele se refere apenas ao meu cabelo, mas eu sinto que todo resto também parece falso, como se eu tivesse pintado outra pessoa sobre a verdadeira Samantha, pois tudo o que vejo é que já não tem mais nada além de uma pintura sem vida ali, vejo que eles estão parados esperando uma resposta, com o sorriso mais forçado do mundo, eu digo:
- Totalmente natural.
Ao ouvir, isso ele me olha espantado, diz que uma cor como aquela é muito difícil de encontrar em cabelos naturais, fico feliz por algo parecer natural ali, ele me pede para sentar e pergunta se poderia dar mais vida, fazendo um tratamento e um corte novo, respondo que sim, afinal, já estou ali mesmo e, quem sabe, uma mudança, mesmo que por fora, não seja boa para a nova fase que pretendo seguir em minha vida.
Fico ali pensando em minha família, sei que papai fez muita coisa ruim e isso me prejudicou muito, tanto que hoje minha vida está um verdadeiro inferno por causa dele, mas, também não só a minha como a de minha irmã também.
[...]
Quando saio do carro sou conduzida até à suíte que o senador se encontra, ao entrar, me olha admirado.
- Com certeza eu vou ser o cara melhor acompanhado nesse evento, vou fazer todos ali dentro sentirem inveja de mim. Sabe, se você não fosse uma garota de programa, eu até que pediria você em noivado, mas não estou a fim de virar corno e, muito menos, de arrumar confusão com Fernando.
Para não manda-lo para o inferno, apenas abro um sorriso, ele diz que vai terminar de se arrumar e que logo em seguida sairemos.
Ele volta para o quarto, então, sou obrigada a reconhecer que ele está muito bonito, se não fosse um completo babaca e nojento até que seria uma boa companhia. O senador me segura pela cintura e me conduz até o carro.
Ao entrar, somos, abordados por vários fotógrafos, tirando várias e várias fotos nossa. O senador fica nervoso com isso e diz que se alguém descobrir que eu sou garota de programa ele vai estar ferrado, mas diz que, depois, mais tarde cuida de tudo.
Quando o carro para estamos parados em frente a um restaurante, ele me conduz para fora e, na porta, há mais uma dúzia de repórteres e fotógrafos, entramos e ele apenas acena para as pessoas, depois de mais de uma hora que estamos ali, ele diz que precisa conversar com algumas pessoas e que é para não fazer nenhuma besteira.
Entediada, descido procurar um lugar que eu possa me sentar, quando estou andando vejo algumas garotas que, com certeza, não são apenas namoradas de alguém aqui, essas com toda a certeza do mundo estão aqui como eu, a trabalho, sento perto de um e vejo que pela sua conversa ela está fazendo de tudo para que pensem que ela realmente pertence aquele mundo e não que é uma garota de programa.
Ficar ali parada me deixa bem agoniada, então, eu resolvo dar uma volta. Paro em frente a uma mesa que tem vários tipos de doce e fico tentada a pegar um, porém, não o faço, para não parecer uma esfomeada.
- Belos doces, não é?!
Quando me viro para responder, percebi que não estava preparada para o que vejo, na minha frente estava o cara mais bonito que já vi em toda a minha vida e eu fico ali parada igual uma trouxa sem conseguir responder. Quando, finalmente, abro a boca para falar com ele, o senador me chama e eu tenho que ir até ele.

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