Bônus : Olavo Monteiro

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- Ela não é a sua filha!
Olhei para ela sem entender o que acabara de me dizer.
Estamos em um maldito quarto de hospital. Carla está há mais de duas semanas internada, depois de descobrir que estava com câncer em estado terminal.
- Quem não é minha filha? –Questiono-a, inclinando-me um pouco mais, ficando mais perto dela.
Ela sorri e isso me deixa puto.  Ela está rindo da minha cara.
– Diga Carla, quem diabos não é minha filha? ── Pergunto com a voz firme e mais alta do que gostaria.
Sua expressão e fria e sombria, dando-me calafrios.
- Sério mesmo que você nunca desconfiou? É só olhar para ela que você verá que ela não tem nada a ver com você. Bom na verdade nenhuma delas tem. – ela diz sorrindo, como se estivesse contando alguma piada.
- Você está me dizendo que Samantha e Milena não são minhas filhas? – Pergunto num rosnado grave, já tomado por um ódio que não cabe dentro de mim.
- Olha, e não é que ele é esperto. – ela solta uma gargalhada que ecoa pelo quarto todo.
Fui tomado por um ódio imenso, que não vi mais nada à minha frente a não ser um travesseiro, que estava em cima do sofá, ao qual eu passei a noite inteira dormindo ao lado daquela que mentira a vida toda para mim.
Fui até o sofá e peguei o travesseiro em minhas mãos.
- Quem é o pai delas? ── Pergunto, fitando seus olhos.
- Isso não te interessa. Só direi para elas quando vierem me perguntar.
- Não sei se você percebeu, mas você não tem mais muito tempo de vida. ─ Digo friamente, apertando o travesseiro com força.
Carla me dá um sorriso irônico. 
- Ainda hoje Samantha estará aqui e eu irei contar  para ela quem são os pais de ambas.
Eu estava possesso, querendo mais é que ela fosse logo para o inferno, lugar que ela nunca deveria ter saído. Cheguei mais perto dela e coloquei o travesseiro em seu rosto, não antes de admirar aqueles olhos arregalados de medo e pressionei fortemente, o suficiente para lhe deixar amedrontada. quando ela começa a se debater em busca de ar, retiro o travesseiro e deixo que ela respire longa e demoradamente.
- Me diga, quem são os pais delas agora ou eu mato você e pode ter toda a certeza do mundo, que esse é o meu maior desejo no momento. – ela estava respirando com muita dificuldade, olhando-me com olhos arregalados de pânico, mas nada disse, até que ergue novamente o travesseiro, fazendo menção de asfixia-la que ela falou apressadamente, tomada por medo e aflição. - O nome do pai de Samantha é Fernando Montanhós e o de Mili é o prefeito Rogério Macarios. ─ Diz quase sem folego. ─  Agora vá embora e me deixe aproveitar meus últimos dias de vida em paz.
- Você acha mesmo que eu vou deixar você em paz, depois de saber que me traiu duas vezes? Que me enganou, que me deixou acreditar ser pai, quando na verdade eu estava criando as filhas de seus amantes? Não você não vai descansar. Você vai  vai para o inferno que é seu lugar. – falo com um sorriso malicioso, erguendo o travesseiro e o pressionando contra seu rosto. Ela se debate a procura de ar. Usando suas mãos para tentar me empurrar para longe, no entanto sua doença lhe deixou muito debilitada e ela luta sem sucesso. Por incrível que pareça a ver morrer me deixou bem, eu senti um prazer tão grande que pressionei mais forte, seu movimentos já estavam ficando fracos, até que eles cessaram por definitivo. Um alivio me tomou e eu não conseguia explicar como me sentia feliz.
Mas não poderia deixar que percebessem que fui eu que a matou, então coloquei um caroço de azeitona de um salgado que eu havia trazido para ela, um ao qual ela havia cuspido instantes antes da nossa conversa. Peguei o mesmo e abrindo a boca dela, coloquei-o dentro de sua boca. Vi quando estava chegando uma enfermeira e corri para o banheiro, para fingir que estava ali a mais tempo. Quando a enfermeira viu que ela estava morta, soltou um grito e correu atrás do médico, eu sai correndo de lá e passei a chorar, para que quem entrasse acreditasse que ela tinha morrido engasgada e que eu não tinha nada a ver com daquilo. Quando o médico entrou no quarto e constatou a morte de Carla, eu sorri internamente, mas por fora estava arrasado, quando Samantha e Milena chegaram, elas estavam arrasadas e eu não consegui sentir nem um pouco de pena delas. Olhar para as duas e saber que elas eram filhas de outros caras me dava nojo, principalmente Samantha. Quando sua mãe chegou em casa em uma tarde chuvosa de sábado, ela estava nervosa, eu pensei depois que era por conta da notícia, ela sempre disse que não queria filhos e quando ela me disse da gravidez, eu fiquei confuso, mas extremamente feliz. Eu sempre quis um filho, mesmo concordando com Carla de não ter. A gravidez toda de Samantha, Carla ficou radiante, depois do susto, o bebe era tudo para ela, ela saia todos os dias, e voltava com várias sacolas. Mas depois de dois meses ela simplesmente parou, não saia mais de casa de jeito nenhum, eu pensei que era coisas da gravidez, mas agora já não tenho mais tanta certeza.
[...]
Eu estava distante durante o enterro, vários parentes e amigos vinham me perguntar como fora que ela havia falecido, mas eu nada dizia.
Sinceramente, não queria ter que ficar ali, fingindo está triste pela morte dessa vadia traidora, mas tinha que manter as aparências. Samantha estava desolada, Mili  no entanto, parecia mais conformada do que sua irmã. Ela me olhava de vez em quando de um jeito estranho, mas nada dizia. Quando estávamos no carro indo embora para nossa casa, Mili resolveu que estava na hora de se pronunciar.
- O que realmente aconteceu naquele quarto papai? Eu não consigo entender como a mamãe pode ter morrido engasgada daquele jeito! Onde o senhor estava que não viu o que aconteceu?
- Eu não estou a fim de falar sobre isso! Estou muito abalado, por não ter sido capaz de salvar sua mãe. ─ Minto, fingindo tristeza.
- Mili querida, deixe o papai em paz! Sei que é estranho, mas foi o que aconteceu. Papai não teria o porquê de mentir. Não é mesmo papai? ─ Pergunta Samantha me olhando de lado.
- Claro! Por que eu mentiria?
[...]

Naquela noite eu não conseguia dormir, ficava pensando apenas em como me vingar. Sabia que Carla já estava morta, mas para mim, não estava bom o suficiente. Eu queria mais. Queria que todos pagassem por tudo o que eu passei. Mesmo que eu tenha descoberto há pouco tempo sobre a traição eu quero descobrir quem foram os malditos que  foderam a Carla e eu iria começar descobrindo quem era esse tal Fernando.
Demorou apenas algumas semanas até que eu achasse a Fernando e minha alegria não poderia ser maior do que quando descobri que ele era dono de um bordel que também era uma casa de jogos clandestina. Na hora minha vingança já estava toda construída em minha mente. Eu passei a frequentar o bordel para me divertir e jogar. Passei a perder de proposito, afinal, isso fazia parte do meu plano. Quando estava devendo até minha vida para ele, Fernando veio até minha casa.
- Olavo, Olavo, você está achando que eu sou besta, não é? Todos os dias você vai ao meu estabelecimento e pede mais e mais dinheiro. Chegou a hora de pagar tudo que me deve. ─ Diz ele com a voz fria, me olhando com ódio.
Eu passei a chorar para fingir que estava desesperado.
- Por favor, senhor Fernando, eu não tenho todo o dinheiro para lhe devolver.... Te peço apenas que me dê mais alguns dias, para que eu possa tentar... - ─Toda vez você me diz a mesma coisa. Mas eu cansei dos seus joguinhos, seu desgraçado! Você tem duas opções agora: Me pague tudo o que me deve ou me dê algo valioso em troca.
Bingo! Pela cara dele, ele está se referindo a mulheres.
- Eu não tenho nada que possa lhe interessar, aqui moramos apenas eu e minhas filhas...
- Filhas? Interessante. – ele andou pela sala até que avistou um porta retrato que estava apenas Mili e Samantha. Eu havia retirado qualquer coisa que pudesse lembra-lo da existência de Carla.
– Muito bonitas essas suas filhas, Olavo, eu poderia esquecer o que me deve se me deixar levar uma delas. Quem sabe essa menor...
- Não! – Grita Samantha, entrando na sala.
Eu sabia que ela estaria ali escutando e de maneira alguma ela iria deixar que levassem sua irmãzinha querida.
– Você não pode leva-la. ─ Diz ela severamente, lançando um olhar mortal de Fernando para mim.
- Seu pai me deve muito dinheiro, belezinha. Então, eu não vou sair daqui sem meu pagamento e se seu maldito pai não tem o meu dinheiro, eu vou levar essa putinha comigo! – Ele diz, Caminhando na direção de Sam. Instintivamente, ela de alguns passos para trás. – Ah não ser, que você queira ir no lugar dela. O que acha? ─ Ele pergunta, enquanto seus olhos percorrem o corpo de Samantha com interesse e malicia. ─ Pense bem, lindinha, pois se você me der uma resposta errada, posso acabar com as vidas miseráveis de todos vocês, lenta e dolorosamente. ─ Fernando ergue uma mão, tocando o cabelo ruivo de Samantha, fazendo-a se encolher. ── começando por sua irmãzinha.
Os olhos de Sam procuram pelos meus. Seu olhar mostra o quão magoada e assustada ela está. Magoa por saber que eu serei capaz de deixar ele levar uma de minhas filhas para pagar minha dívida e medo por temer que Fernando cumpra sua ameaça.
- Papai, não tem outro jeito? ─ Pergunta entre lágrimas. 
- Se você quiser que continuemos vivos, acho melhor você ir com o senhor Fernando. ─  Digo com a voz seria, pois já estou cansado de todo esse chororô, da parte de Samantha. Ela apenas abaixa a cabeça e quando a levanta algo mudou em seus olhos.
- Vou apenas me despedir de Mili e arrumar minhas coisas. – ela diz se virando para Fernando. – Já volto.
– Você não vai a parte alguma! vamos logo, lá eu arrumo alguma coisa para você vestir, ou não. – Fernando diz soltando uma gargalhada que causou arrepios até em mim.

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