Capítulo cinquenta e quatro.

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Narrado por Joe Jonas.

Acordei antes de Demi, e isso foi um alivio, pelo simples motivo de: Ela não precisou ver o modo como eu fiquei constrangido ao ver que dormimos, literalmente, entrelaçados. Demi dormiu deitada de lado, e, eu não sei como diabos, meu braço ficou embaixo de seu pescoço, e sua mão estava entrelaçada na minha. Meu outro braço estava em volta de sua cintura, com a minha mão pousada em sua barriga. Nunca havia dormido assim antes, e me odeio por dizer que nunca dormi tão bem antes. Sempre fui uma pessoa conturbada, e meu sono sempre foi agitado. Isso só piorou quando meu pai morreu, por isso sofro de insônia. Sempre que levava alguma mulher para minha casa, enquanto ela dormia em meus lençóis, eu perambulava pela casa, procurando o sono, e um pouco antes de amanhecer, eu me deitava ao seu lado, com uma distância mínima, e conseguia cochilar por pouco mais de uma hora. Mas nessa noite, ao lado de Demi, eu consegui dormir. Quero dizer, realmente dormir!

Quando me desvencilhei delicadamente dela, me levantei e caminhei até o quarto de hospedes, antes de me certificar que ela ainda dormia tranquilamente. Era cedo, não passava das 8h00 e eu ainda tinha tempo antes de ir para a empresa. Já havia avisado Nick que só chegaria depois do almoço. Queria passar em casa antes para poder trocar de roupa.

Depois de fazer minhas necessidades e escovar os dentes eu desci as escadas do apartamento e fui até a cozinha, me servindo um copo d'água. Me espreguicei e comecei a mexer nos armários da cozinha, procurando algo para comer. Não sei cozinha nada, por isso nem cogitei preparar panquecas, ou coisas assim, como em um filme clichê. Sei que Demi iria gostar, mas sei também que ela não gostaria de ter sua cozinha pegando fogo, por isso me contentei em achar uma caixa de cereais.

Não me lembro qual foi a última vez que comi cereais. Há pelo menos cinco anos, meu café da manhã é sempre preparado por Sophie, por isso nem me lembro do gosto dessas coisinhas coloridas, mas mesmo assim peguei uma tigela branca e despejei um pouco do conteúdo. Coloquei um pouco de leite, um pouco de açúcar e logo me sentei na bancada, comendo uma colherada. Não pude evitar gemer em aprovação com aquele gosto tão nostálgico. Aquilo era ótimo. Porque diabos eu parei de comer isso? Não pude evitar também me sentir um adolescente de quinze anos, sentado em cima da bancada, com os pés descalços, sem encostar no chão. Há muito tempo não me sentia assim, e não podia deixar de gostar. Sentia falta de quando era mais novo, e minha maior preocupação era esconder uma prova com nota baixa dos meus pais. Hoje comandava uma empresa, e isso era o suficiente para querer gritar de tanto estresse as vezes.

- Nunca imaginei. –eu ouvi e ergui meu rosto, engolindo mais uma colherada de cereal-

Demi estava encostada no batente, na entrada da cozinha, com os cabeços meio bagunçados e o rosto vermelho pelo sono. Estava desarrumada, simples, mas com aquele sorriso sonolento e preguiçoso, ela nunca esteve tão linda.

- Bom dia. –eu murmurei e desci na bancada, colocando a tigela agora vazia na pia-

- Bom dia. –ela falou e pegou uma tigela e a caixa de cereais- Eu nunca pensei que veria você comendo cereais. –ela falou e eu sorri, revirando os olhos-

- Não sou um robô, Demi. –repeti o que disse ontem no elevador-

O fato de Demi ainda me ver como seu chefe chato e mal-humorado, me chateava um pouco, mas eu sei que precisava mostrar para ela que mudei.

Ela logo começou a comer, de pé, encostada na pia, e eu observei sua feição relaxada sabendo que ela dormiu tão bem quanto eu.

- Como está se sentindo? –eu perguntei e ela engoliu o que tinha na boca antes de me responder-

- Ótima. –ela murmurou e sorriu-

- Quer uma folga hoje? –eu perguntei e ela franziu o cenho-

- Não. –ela falou como se fosse óbvio e eu ergui as mãos, indiferente-

- Você que sabe. –dei de ombros- Preciso passar em casa. –eu murmurei e ela assentiu, pousando sua tigela na pia também- Você pode entrar depois do almoço também, e eu passo aqui para te buscar. –eu disse e ela assentiu-

- Você tem uma reunião as 14h00. –ela lembrou mexendo em seu cabelo-

- Estaremos lá. –eu murmurei e caminhei para fora da cozinha-

- Joe! –ela me chamou e eu voltei dois passos para fita-la-

Demi estava corada, mexendo em seus dedos, e mordeu o lábio inferior antes de sorrir docemente e murmurar:

- Obrigada pela noite. –ela falou e eu sorri, assentindo-

Queria ter dito que era tão grato quanto ela. Grato por ter feito eu dormir em paz, grato por ter feito eu não dormir sozinho. Mas simplesmente lhe pisquei o olho e saí da cozinha, caminhando até o quarto de hóspedes.

Há algumas coisas que não precisam ser ditar. Demi, de certo modo, parecia saber. E eu era grato por isso também.


Happy ending. [JEMI]Onde histórias criam vida. Descubra agora