Capitulo Um - Guilty...

464 42 43
                                    

Capítulo atualizado dia 10/10/18.

§

Ando cabisbaixo pelo grande corredor que agora parecia um pouco mais extenso que o normal a cada passo que eu dava e com um leve aspecto de abandonado, como eu já esperava. Aperto com uma mão a alça da minha bolsa contando os segundos mentalmente para chegar até o meu armário o mais rápido possível. Sinto-me amedrontada como se todos soubesse e estivessem apontando o dedo para mim, achando-me a pior pessoa do mundo, o que é hipoteticamente relevante no momento.

Mas foi com esses pensamentos que me vi parando de frente ao meu armário colocando o código e o abrindo em seguida.

— Hey honey! Viajando no mundo Izzie!? — Me assusto com Sam aparecendo do meu lado. Levo uma mão até o peito e a olho. —Nossa...eu passei maquiagem tá!?

— Você me assustou maluca! — Dou um empurrãozinho no seu ombro voltando a prestar atenção no que fazia antes.

— Ninguém mandou ser lerda. Aliás, tu anda meio brisada ultimamente, estou ficando preocupada. Embora sua lerdeza seja algo natural, está demais ...— A interrompo para que não continue a falar.

— Já entendi Samantha! — Reviro os olhos pegando o livro de Filosofia juntamente com o de Biologia que seriam meus dois primeiros horários.

— Okay, mas eu estou falando sério! — Disse enrolando as pontas do seu lindo cabelo ruivo que batia um pouco abaixo dos seus seios. — Você viu a reportagem no Los Angeles Times? Mano, fiquei muito chocada, sério!!

— Não, que reportagem!? — Pergunto sem olhá-la.

Nunca fui tão cinica na minha vida.

A verdade é que eu não precisaria ter visto a reportagem para saber do que a mesma se tratava, mas não lhe diria isso agora, não preciso de ninguém me julgando no momento.

— O Justin sofreu um acidente! — Pude notar um pouquinho de dor em sua voz, apesar de nunca terem sido íntimos ou se falado muitas vezes, quando trocaram alguma palavra foi por conta de sua paixão secreta pelo Butler. —Tinha mais alguém com ele, porém o jornal não divulgou pois a família não autorizou. Queria perguntar ao Ryan alguma novidade, mas acho que não seria uma boa hora para isso!

  Sim, eu sei.

Fiquei sem saber o que dizer, senti um aperto no coração e apenas abaixei a cabeça novamente enquanto fechava o armário. E então, a vontade de chorar – a qual venho lutando contra durando o caminho inteiro até o colégio – veio à tona novamente.

— Está tudo bem Izzie? — Sam colocou a mão no meu ombro fazendo-me um leve carinho. — Desculpa por falar assim, eu não tive a intensão de te contar de qualquer maneira e...

— Vai ficar...— Fecho os olhos por alguns segundos e depois me recomponho. — Vamos para aula porque estou com fome de conhecimento!

— Estranha...— Sam me olhou de lado enquanto andávamos para a sala 013.

(...)

  Não consegui assimilar nenhuma palavra dita pelo professor Hans de Filosofia, apenas fiquei batucando a caneta no caderno com os pensamentos longe enquanto estava olhando para um ponto fixo na folha, na qual eu rabiscava antes.

— O que tem a comentar sobre isso senhorita Chermont? — Fui pega de surpresa. Eu não gostava muito de participar das aulas, todos sabiam disso, e este simples fato fazia com que os professores pegassem no meu pé.

— Comentar!?...— Pergunto baixo encolhendo os ombros. O professor Hans me encarou por alguns segundos e deu um meio sorriso.

— Vejo que "Há uma crise da atenção!" — Usou o pensamento do polonês Zygmunt Bauman para me repreender pela falta de atenção. Como sei disso? Fome de conhecimento.– Eu estava dizendo para os alunos que estavam prestando atenção; o que é Filosofia... Agora quero que você diga o que ela pretende, qual seu conceito!

Tudo bem, eu sei o conceito de Filosofia, todos sabem, ou pelo menos deveriam saber.

— Construir concepções abrangentes do mundo! — Falo com a voz firme – eu acho – recebendo um olhar de satisfação do professor.

— Exatamente! Como eu estava dizendo... — Voltou para suas explicações enquanto eu agradecia mentalmente aos senhores Larry Page e Sergey Brin por terem criado o Google que me disponibiliza respostas prontinhas.

— Esquisita...— Escuto o resmungo de Giulia–eu–sou–esnobe que estava sentada ao meu lado, fazendo-me abaixar a cabeça.

Não suporto essa garota, e esse sentimento é recíproco pois ela faz questão de deixar claro para todos que me odeia.

(...)

Entro em casa fechando a porta atrás de mim soltando um longo suspiro e jogo minha mochila no sofá.  Rumo para a cozinha vendo o Thomas próximo ao "pé" da mesa lambendo a pata. Esse gato me dá medo e não é pouco, e para piorar só vive atrás de mim.

— Já está aí Izzie!? — Escuto os passos lentos da vovó se aproximarem, viro a encontrando com um jornal em mãos.

— Cheguei agora vovó! — Sento em cima do balcão pois não quero chegar perto do Thomas.

— Já fiz o almoço, e não adianta reclamar e vir com o seu discurso de "não se esforce vovó, você já está velha!" porque eu estou velha e não morta! — Sentou-se com um pouco de dificuldade na cadeira. Reviro os olhos com um sorriso de canto olhando ela. — Li no jornal que o garotinho que você era apaixonada sofreu um acidente e está em estado grave! — Falou me mostrando a manchete em que estava bem destacada a notícia. "Filho do empresário Jeremy Bieber se envolve em um acidente e fica entre a vida e a morte"

  Olhei aquilo e meus olhos começaram a marejar sem a minha permissão, me fazendo descer do balcão rapidamente para que minha avó não percebesse, viro de costas para ela e finjo mexer em algo enquanto sinto lágrimas descerem pelo meu rosto, passo as costas da mão limpando-as para que não me descontrolasse e começasse realmente a chorar num nível que não conseguisse parar.

Saio da cozinha indo para o meu quarto e tranco a porta me encostando na mesma, agora sim, desmoronando. Tudo que eu mais queria era não ter feito aquilo.

Deixo meu corpo deslizar pela porta até o chão me fazendo sentar e abraço minhas pernas deitando a cabeça sobre meus joelhos não segurando mais uma lágrima sequer.

Como eu vou aguentar passar o resto da vida com esse peso na consciência!? Com essa culpa me matando a cada instante!? Covarde, é isso que eu sou por não ter feito nada para ajudar ele que agora está lá, numa cama de hospital cheio de aparelhos pelo corpo para se manter vivo.

DarknessOnde histórias criam vida. Descubra agora