*~Capítulo Quarenta e Dois~*

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Gabriel

Ao vê-la abrir os olhos pensei que teria minha vida de volta, pensei que a veria sorrir e por mais chateada que estivesse ela me abraçaria, mas não, por um milésimo de segundo pensei que ela estava brincando.
Mas o medo perceptível em seu olhar me fez recuar, pela primeira vez desde que tudo aconteceu fez com que a culpa caísse por cima de mim, abrindo meus olhos e mostrando sua dura realidade. A mulher da qual sou totalmente rendido não se lembra de mim, não se lembra de sua família, ou dela mesma e isso está acabando comigo. Está me destruindo por dentro.
Saber que sou o culpado por tudo isso é o que está acabando comigo, por mais que não venha entender o porquê de tudo ter acontecido como aconteceu entendo que mesmo que inconscientemente sou o culpado. Ao ouvir sua doce voz tomada pelo medo me perguntar como ela havia parado ali, naquele estado, simplesmente paralisei a ideia de que Miranda se lembrasse de tudo e simplesmente escolhesse não confiar em mim, me tomou e então não consegui ao menos formular uma resposta decente á ela.
Enquanto o medico permanece ao seu lado decido que o melhor a se fazer neste momento é comunicar á nossas famílias, então deixo o quarto por alguns instantes já pegando meu celular que está em meu bolso.
Resolvo ligar para minha mãe, talvez ela tenha uma de seus conselhos sábios.
Disco seu número e a mesma atende no terceiro toque.
-Alô? -Sua voz um tanto cansada ecoa no telefone.
-Oi, mãe.
-Olá meu filho. Como estão as coisas?
-Ela acordou. -Digo, porém toda animação que esperava estar acompanhando esta frase se esvai ao me lembrar do motivo ou da forma como ela acordou.
-Estou indo para o hospital. -Diz animadamente.
-Obrigado, teria como pedir para que meus sogros venham também o apoio deles é importante para ela neste momento.
-Claro, sem problema. Até logo.
-Até. -Respondo para logo em seguida encerrar a chamada.
O longo corredor branco que antes era tão movimentado se perdeu em meio á seu caos, e eu assim como ele me perdi em meio á tantos sentimentos e arrependimentos.
Antes de voltar ao quarto não posso deixar de fazer algo, entro em um dos banheiros e me apronto em agradecer, sei tudo parece estar dando errado e se olharmos pelo lado negativo realmente está dando errado, mas sabe, nem sempre tudo sairá do jeito que queremos, e sinceramente não queria nem mesmo nos sonhos que Miranda sofresse esse acidente, mas ela sofreu e isso aconteceu por algum motivo, porém no meio de tanto caos pude ver que Deus ouviu minhas preces e ainda por cima as atendeu. A trouxe de volta para mim, um caso que poderia ser considerado irreversível para a medicina.
Podemos nos cegar para muitas coisas, mas não para as maravilhas de Deus, então simplesmente o agradeço, pois ele me ouviu e me atendeu, porque Ele sim sabe realmente a verdade.
Depois de algum tempo em meu pequeno momento de gratidão entre mim e Deus, volto até o quarto encontrando-a sós.
Ela está deitada e fita o teto, talvez esteja pensando ou tentando entender.
-Oi. -Digo aproximando lentamente da cama onde ela parece perceber minha presença desviando o olhar do teto para mim e aquela mesma incógnita continua ali.
-Oi.
-Como você está?
-Não sei. Estou me sentindo um tanto estranha sabe, não sei quem eu sou e muito menos quem é você, mas de certa forma você é tudo o que eu tenho. Pelo menos neste momento. -Ela responde como se refletisse sobre o que acabou de falar.
-Entendo, também estaria perdido se fosse eu no seu lugar.
-É que não sei o que pensar sobre tudo.
Sua expressão está um tanto cansada e sua voz exaustiva, minha vontade é de abraçá-la e mostrar que irei protegê-la, mas simplesmente não posso, quero, mas não posso assustá-la.
O silêncio se expande pelo quarto, seus olhos permanecem nos meus e sei que ela quer respostas, porém não posso dá-las. Não agora.
A porta do quarto se abre em um solavanco e logo desviamos nossos olhares para a mesma, Rebeca entra praticamente correndo puxando logo atrás Lucas que tenta se equilibrar para acompanhá-la. Logo atrás surge meus pais acompanhados por meus sogros.
-Miranda, graças á Deus você acordou, já estava quase tendo um treco de tanta preocupação. -Rebeca praticamente sobe em cima da cama abraçando-a enquanto Miranda se esquiva um pouco para o lado tentando sair de seu abraço.
-Rebeca, pare. -Peço aproximando-me.
-Você já matou sua saudade, e eu não posso? -Pergunta soltando-a um pouco.
-A solte. -Peço mais firme e com um olhar interrogativo ela a solta.
-Ah, Miranda ela não se lembra de muita coisa.
-Eu não me lembro de nada. -Ela resmunga me olhando.
-Como assim? -Sua mãe pergunta preocupada.
-Devido ao acidente ela teve uma perda de memória. -Respondo.
-Como? Miranda olhe para mim. -Pede a mesma pegando seu delicado rosto entre suas pequenas mãos.
Miranda apenas nega.
-Como isso aconteceu?
-O medico não soube explicar ainda, ela vai passar por alguns exames e então poderemos voltar para casa. -Respondo.
-Quem são eles? -Miranda finalmente me pergunta e olho-a.
-Nossa família, seus pais. -Aponto para Miguel e Helena. -Seus sogros. -Aponto para meus pais. -E nossos primos.
-Sou filha única? -Pergunta um tanto confusa.
-Nós dois somos. -Respondo.
-Então realmente não se lembra? -Helena pergunta aproximando-se da cama.
-Não. Na verdade as últimas horas foram uma descoberta e tanto. -Miranda diz, sua postura está um pouco mais relaxada, como se soubesse que pode confiar em nós.
Estamos todos a fitando até que ouço um barulho vindo da porta, Matheus adentra no quarto, sua expressão seria dá lugar a sua surpresa ao ver Miranda acordada. Seu olhar é instantaneamente direcionado á mim como se estivesse buscando uma resposta e de certa forma todos estamos.
Seus olhos focam novamente em Miranda e sem pronunciar-se caminha em direção á ela que o fita de uma forma estranha como se de alguma forma ela não o temesse.
-Estou feliz que esteja bem. -Ele diz lentamente assim que se posiciona ao lado da cama.
-E quem seria você? -Pergunta, mas ela não age como das outras vezes, não se esquiva ou se assusta, apenas pergunta calmamente esperando por sua resposta.
Seu comportamento de certa forma me encabula.
-Como assim quem eu sou? -Pergunta, porém agora ele reveza entre olhá-la e fitar-me.
-Não soube a noticia do ano? Perdi a memória. -Responde sorrindo ironicamente, é pelo jeito ela não se lembra, mas continua a mesma e isso me faz sorrir. Por mais que ela não se lembre, sua essência continua ali.
-Como assim? -Pergunta agora diretamente para mim
-Devido ao acidente ela teve uma perda de memória.
-Então você não se lembra de mim?
-Não. -Miranda responde olhando-o.
-Entendo, ela já fez algum exame? -Pergunta.
-Não, na verdade estamos esperando por isso.
Ele não diz nada, mas seu olhar que transborda pena cai por cima de mim e de todos os olhares que recebi durante todo o tempo que fiquei aqui voltam á minha mente, não quero a pena das pessoas, quero apenas que Miranda fique bem. Não quero ter que ouvir " olha, o homem cujo a mulher esqueceu dele!", quero apenas a minha Miranda de volta.
Porque quando jurei no altar que a amava e que independente da situação iria estar ao seu lado, eu disse a verdade. E estou cumprindo essa verdade, estou aqui.
~ * ~
Passaram-se quatro dias desde que Miranda acordou, desde que sua família a viu e desde que tento inutilmente fazê-la se lembrar de quem ela é.
Durante esses dias minha sogra e eu revezamos as noites no hospital, e em uma de minhas noites "livre" tive a ideia de ver Clara, ainda não desisti da ideia de adotá-la, mas a situação está muito complicada, o medico e eu chegamos ao consenso de que contar á Miranda agora sobre a gravidez não é algo sensato e não farei, vamos ver o que acontece. Ela ainda está nas primeiras semanas ainda há tempo até que tenha que contá-la.
E parte de mim acredita fielmente em sua recuperação, parte de mim grita que ela conseguirá se lembrar e que quando o fizer ela irá me deixar, irá ir embora porque verá o que ela pensa que aconteceu. E acaba que esse é o foco do problema, quero que ela se lembre, porém ao mesmo tempo não quero, pois sei como Miranda é cabeça dura e sei que ela manteria aquilo que ela se lembra invés de dar algum tipo de atenção á minha explicação.
Assim que estacionei meu carro em frente ao abrigo, deixei meus pensamentos de lado, preciso dar algum tipo de confiança á Clara.
Converso com a recepcionista e logo depois de alguns instantes vejo uma cabeleira toda ruiva correndo em minha direção.
Ela pula em meu colo e eu a abraço.
-Sentiu a minha falta? -Pergunto desfazendo o abraço.
-Sim, cadê a tia Mi? -Pergunta se referindo á Miranda.
-Ela não pode vir, está um pouco dodoí.
-Pensei que tivessem se esquecido de mim. -Diz baixinho como se fosse para si mesma.
-Nunca faria isso. -Respondo fazendo-a olhar para mim.
-Promete?
-Sim.
-Promete de dedinho? -Pergunto esticando o dedo mindinho para mim.
-Sim, eu juro de dedinho. -Respondo entrelaçando nossos mindinhos.
Seu sorriso se alarga e então posso finalmente perceber que grande parte de mim se apegou á ela, na verdade chega até ser dificil decifrar quanto de mim já a ama, porque esta baixinha me conquistou de uma tal forma que estou demorando a raciocinar tudo isso.
-Como estão as coisas? -Pergunto, sentamo-nos em um banco.
-Tudo bem, uma das minhas amigas foram embora. -Diz abaixando o rosto.
-É? E por que ela foi embora?
-Ela achou uma família. -Responde ainda de cabeça baixa.
-E você, quer uma? -Pergunto fazendo-a levantar o olhar para mim.
Ela balança a cabeça freneticamente.
-Gostaria de ter eu e a Miranda como família?
E novamente ela balança a cabeça.
-Mas, tio?
-Oi?
-Promete de dedinho que não vai fazer igual aos outros?
-Como assim?
-Me levar para passear e depois nunca mais voltar?
Ao ouvi-la dizer isso corta meu coração, uma dor se espalha com ele, fecho meus olhos por uma fração de segundo pensando em quantas pessoas já á iludiram dizendo que seria sua família.
-Prometo, não vou fazer isso com você. -Respondo tentando não transparecer o que estou sentindo.
Ela sorri docemente e me abraça com seus pequenos bracinhos que mal conseguem dar meia volta em meu corpo, sorrindo também abraço-a.
Fiquei mais um tempo lá com Clara e depois voltei para o hospital e recebi a magnífica noticia de que Miranda receberia alta, poderemos ir para casa, finalmente.
Só espero que tudo dê certo, e sei que dará, porque Deus sempre está com aqueles que o amam.
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Então??? O que acharam?
Gostaram?
Espero que sim. Pois amei escrevê-lo
Até o próximo
Amo vocês
06/08/2016

Coincidências Do AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora