*~Quarenta e nove~*

3.1K 273 25
                                    

Miranda.

A dor que toma conta de meus músculos faz com que meus olhos se abram lentamente, olho ao redor percebendo que estou em um carro. Pisco algumas vezes.
-Eu sei que poderia ter usado seus homens, mas eu comecei isso e vou terminar... –A voz de Enzo ecoa pelo carro, como se fosse uma reação a sua voz meu corpo estremece.
Minha traqueia se fecha dificultando a passagem de ar, meus olhos se inundam de lágrimas. Decido ficar na mesma posição que estou, pois se ele notar que estou acordada provavelmente as coisas ficarão pior. Minhas mãos estão amarradas para trás, o que me impossibilita de pegar meu celular que está na bolsa que está jogada no chão da viatura.
Aos poucos as pequenas e ultimas lembranças que me trouxeram até aqui ecoam por minha mente fazendo com que meu desespero aumente ainda mais.
-Tá, tá, quando chegar ao galpão eu te ligo. – Seu tom é rude.
Pensa, pensa, pensa! Como saio de um carro em movimento sem causar danos ao meu filho? Aos poucos o carro começa a perder a velocidade juntamente meu coração aumenta o ritmo cardíaco, minha respiração fica ofegante e meu corpo começa ter pequenos tremores.
Enfim o carro estaciona. O silêncio reina dentro do carro enquanto minha agonizante expectativa me corroí por dentro. A ideia de ao menos conhecer meu filho me aflige .
A porta do motorista se abre, levo um susto e um espasmo se espalha por meu corpo, posso sentir minhas pernas trêmulas.
Sem nenhuma cerimônia a porta do passageiro é aberta e após um solavanco estou sendo carregada, ainda não abri os olhos então para todos os efeitos Enzo pensa que estou dormindo. Começo a contar os passos dado por ele, talvez isso me seja útil de alguma coisa.
Um... Dois... Três... Quatro... Ao total formam cinquenta passos, passos onde meu corpo se agonizava e fazia uma prece desesperada em silêncio. A vontade de chorar ou pelo menos me debater em seus braços me agoniza, mas sei que caso o faça ele fará pior então opto pelo mais sensato a se fazer.
Tentando manter a respiração normalizada sigo em seus braços. Ouço o raspar da porta entrando em atrito com o chão, ouço os passos agora ecoando por um lugar fechado.
Atrevo-me a abrir os olhos deparando-me com dois homens grandes e fortes fechando a porta apresso-me em fechá-los novamente. Minha pele se arrepia ao entrar em contato com o chão frio, não pensei que ele me colocaria com tanto cuidado no chão, porém, me enganei.
Sinto-o se afastar, e então como se não me restasse alternativa alguma abro os olhos.
Pisco algumas vezes aqui a luz está mais forte do que no caminho, é um grande galpão, há algumas mesas espalhadas, algumas correntes penduradas e por ultimo uma parede com ferramentas. Não há muitas pessoas, porém as que aqui estão andam freneticamente de um lado para outro. Todos são homens, deve ter na media de seis homens, parecem terem feito parte do exercito ou algo do tipo.
Estou ainda completando minha vistoria quando ouço um gemido vindo do meu lado, instantaneamente meu olhar se desvia para o mesmo lugar de onde o mesmo viera.
Minha boca se abre em surpresa e meus olhos se arregalam.
Maressa está pendurada em uma das correntes por seus braços, sua boca está tampada por uma fita cinza e seus olhos marejados.
-Maressa... –Minha voz saí fraca como um sussurro.
Seu olhar se desvia para algo atrás de mim e consequentemente faço o mesmo. Enzo se aproxima lentamente, ao ver que estou deserta seu sorriso se amplia ainda mais.
-Ora, ora... Olhe só quem acordou. –Sua voz rouca ecoa, olhando ainda mais atrás do mesmo vejo que os homens não andam mais, mas sim estão parados em determinados pontos do galpão.
Meus olhos se desviam novamente para ele que está mais perto do que nunca.
-Teve um bom sono? –Pergunta, abaixando-se até ficar rente a minha altura.
-Por que me trouxe aqui? –Pergunto.
-Mas não é obvio?
-O que ela faz aqui? –Digo olhando para Maressa que se debate na vã tentativa de se soltar.
Seu sorriso aumenta e posso ver seus dentes brancos.
-Querida Miranda, não se monta um quebra-cabeça com uma única peça. Você sempre precisa de mais de uma.
-A usou pra chegar até mim? –Pergunto inconformada. –Olha, Enzo isso tudo já passou dos limites, naquela época não prestei queixa contra você, mas você não me...
-Blá. Blá. Blá... Deixe seu discurso pra depois Miranda, e aliás, pouco me importa se você deu ou não queixa isso não me impediria de chegar até você. Pois como pôde perceber sou da policia. O que significa que eu sou a lei.
-Isso não faz sentido. –Digo pra mim mesmo.
-É, e qual parte não está fazendo sentido para você, doce Miranda?
-Na época da faculdade você cursava medicina com Matheus por que resolveu ser policial?
-Não estava nos meus planos, eu admito, mas você não facilitou as coisas, não é mesmo? –Diz acariciando minha bochecha. –Ah, como eu ainda quero provar seu gosto... Tenho certeza que você é doce, igual á mel.
-Você é um doente! –Digo com nojo. Meus olhos estão marejando somente por me lembrar daquela noite.
-Sim, nunca neguei isso... –Responde dando uma risada alta que ecoa pelo espaço que parecia tão silencioso. –E sabe, mesmo eu sendo este doente como você mesmo disse, não consigo contar nos dedos quantos "eu te amo" você disse à este doente aqui. –Diz apontando para si mesmo.
-Pois saiba que hoje a única coisa que sinto é nojo. –Grito sentindo o arranhar em minhas cordas vocais.
O sorriso que antes tomava seus lábios dá lugar a uma expressão de ódio, e antes que eu tenha algum tempo para raciocinar sinto sua mão coincidir contra meu rosto. O estalar que ecoa faz jus ao tapa, pois logo sinto minha pele formigar e a dor se espalhar pela mesma área.
-Repita e eu juro que vou terminar mais cedo o que comecei aquele dia. –Seus lábios estão próximos de meu ouvido e em meu corpo os tremores se espalham. –Isso aí, fique quietinha, vamos fazer um trato, quanto mais quieta você ficar mais carinhoso serei com você. O que acha?
-Por favor... Passaram-se dez anos, seguimos nossas vidas...
-Acha realmente que eu fiz tudo o que fiz só pra te estuprar? –Pergunta, seu tom chega a ser de divertimento. –Claro que não, digamos que te ter é um prêmio, mas você não vale tudo isso não, Miranda.
-Então por que?
-Você pode não saber, mas seu pai sabe... Muito bem.
-O que meu pai tem haver com isso? –Pergunto.
-Você já está sabendo demais. –Diz se levantando. –Vamos ver o que seu paizinho pensa da sua situação hoje.

Coincidências Do AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora