Tudo se tornou mais confuso, minha mente traduzia uma confusão absurda. Abri a boca, piscando os olhos repetidas vezes contra a minha vontade, fazendo menção em falar algo, mas nada saía. Me afastei alguns passos de Damon, que olhou para os pés.
- Senti que deveria lhe falar isso, Annie. - Ele murmurou se aproximando e eu continuei me afastando.
- Por que você iria fazer isso? Me matar? Não consigo entender, Damon.
- No passado, éramos inimigos. Mas você só precisa saber que tudo mudou. - Falou seco enquanto um sopro de ar passava por nós e balançava seus cabelos negros, Damon cerrava seus olhos em minha direção e isso lhe dava um ar sombrio.
- Quero saber o motivo de me trazer aqui.
Ele inspirou, olhou para a entrada larga do cemitério e caminhou até lá. Fiquei parada.
- Você não confia mais em mim?
- Estou confusa.
- Entendo que esteja, mas você deve saber... não há ninguém que queira mais a sua segurança, hoje, que eu. - De algum forma sua afirmação me acalmou e eu o segui, estava curiosa sobre o que ele queria me mostrar. Entramos no cemitério e vi os túmulos antigos e rachados que o integrava, caminhei com Damon até seu meio, onde estava o único túmulo aparentemente mais recente, mesmo que ainda parecesse velho. Damon o fitou por alguns minutos, calado.
- Quem está enterrado aqui? - Rompi o silêncio.
- Você não gosta de ficar calada, não é mesmo?
- Se eu estiver incomodando, posso ir embora.
- É o meu pai.
- Sinto muito. - Senti vontade de abraçá-lo, mas Damon não parecia ser do tipo que gosta de abraços.
- Você ainda está com medo de mim? - dessa vez ele estava me fitando.
- Nunca disse que tinha medo de você.
Ele se aproximou, continuando a me fitar com os olhos cor de vinho tão escuro que antes eu jurava serem negros. Parou em frente a mim, tirando uma mecha de cabelo que voava sobre o meu rosto.
- Nunca tenha, Annie. - Ele deu um beijo longo na minha testa e se virou, caminhando em direção a saída.
- Damon! O que você queria me mostrar aqui?
Ele parou e olhou para trás me encarando.
- Você vai passar a noite aqui.
- É algum tipo de brincadeira?
- Não. Pra completar a sua iniciação e fazer parte do clã você tem que sobreviver uma noite sozinha na floresta. Minha expressão de perplexidade fez com que ele puxasse um sorriso de canto. - Não se preocupe, você ainda não faz idéia da força que tem, mas amanhã fará. Eu revirei os olhos e ele havia sumido. Sentei em uma banco de pedra perto do muro que rodeava o lugar e respirei fundo pensando porque exatamente eu iria precisar sobreviver.
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Estava quase anoitecendo quando Victor apareceu sorrindo largamente.
- Você está perdoada. Soube que Damon roubou você de mim, fiquei lhe esperando pelo menos duas horas até perceber que algo devia ter acontecido.
- Me desculpe... Ele disse que eu tinha que passar a noite aqui para completar a iniciação. Mas nem me lembro de ter pedido para entrar no clã.
- Você não pede. É escolhida.
"Escolhida" a palavra ecoou na minha mente, isso seria algo bom ou ruim?
- Tudo bem. Mas meu saco já encheu e estou pensando em ir embora. - Ele gargalhou. - Que foi?
- É impossível, todos nós estamos rodeando o lugar, ninguém sai e ninguém entra até amanhecer.
- Como assim?
- Logo a festa vai começar, querida. Dance comigo - falou ficando em posição de ataque e acenando com a mão, me chamando para lutar - sua primeira missão é tirar o colar do meu pescoço.
Foi a minha fez de rir.
- Só isso?
- Olha só! Por acaso você está me subestimando?
- Ao contrário, Victor. Você que está me subestimando, me dando uma tarefa tão fácil.
- Tudo bem, vamos ver o que você pode fazer comigo, quando anoitecer, você terá que lutar contra as criaturas da floresta e por último, com Kate. Isso, claro, se conseguir vencer de mim.
Eu senti um fervor, como se algo finalmente estivesse certo, Victor avançou em minha direção, segurou uma das minhas mãos quando tentei pegar o colar, que tinha como pingente uma pedra lilás, e me neutralizou.
- Nada mal para uma iniciante - ele riu
Atingi uma de suas pernas com um chute e o agarrei pelo pescoço, grudando em suas costas assim que ele se desequilibrou, então Victor bateu numa parede com toda a força, para que eu o soltasse. Lembrei dos treinamentos e por isso sabia muito dos seus truques, mas o que realmente estava me surpreendendo foi que me senti várias vezes mais forte e rápido que ele. A medida que a luta continuava, mais simples parecia confundi-lo, aquilo me divertiu e ele percebeu. Ele mal notou quando peguei o colar, engueu as sobrancelhas ao me ver o balançando num dedo da mão e depois sorriu maliciosamente. Damon apareceu batendo palmas devagar.
- Minha garota. - Vi em seu rosto a mesma satisfação do dia da festa e corei.
- Você deu sorte - Victor falou e depois bufou - Damon trouxe você mais cedo pra cá pra te treinar, admita.
- Não foi preciso. - Eu disse sorrindo, Victor veio em minha direção e me abraçou.
- Só duas pessoas conseguiram me vencer.
- Quais?
- Você e Kate. Temos que ter cuidado com as mulheres dessa casa, Damon. Um dia elas irão nos dominar - Nós rimos.
Victor saiu do cemitério berrando um "Boa sorte" pra mim. Já era noite e eu não havia sentido o tempo passar.
- Você não vai precisar de sorte. - Damon falou se referindo a última fala de Victor - mas vai precisar disso, enfie bem no coração - Ele me deu cinco estacas de madeira e em seguida me deixou sozinha.

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Duas faces do amor
UpířiApenas um dia foi o suficiente para que minha vida virasse um inferno. Demônios andam entre nós, demônios que chamados de vampiros. Eles não foram feitos para amar e sim para matar e destruir. E agora, o que eu mais desejo no fundo da minha alma é d...