O pesadelo

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     Ontem a noite tive um pesadelo onde vários vampiros me atacavam numa sala escura, ouvi uma voz masculina gritando meu nome e acordei. Não havia ninguém no quarto. Ohei meu corpo em baixo do lençol e percebi que tinha dormido com o vestido da festa. Onde eu estava com a cabeça? Pra falar a verdade, não lembro de ter vindo pra cama, ou melhor, depois daquela bebida, não me lembro mais de nada. Levantei, tirei o vestido devagar e fui em direção ao banheiro, assim que bati os olhos no espelho congelei, havia uma um símbolo tatuado no meu corpo, que começava do lado esquerdo da minha cintura e descia até perto da virilha. Era o símbolo do clã. Um flash da noite passada explodiu numa dor aguda na minha cabeça.

- Annie? - ouvi uma voz vindo do quarto, mas o flash voltava e minha cabeça e doía ainda mais, eu estava começando a me lembrar de tudo, a minha iniciação, a dor, os vampiros do salão gritando numa língua que eu não entendia e faziam gradualmente um círculo em minha volta, Damon me carregava nos braços, nua. Foi tudo o que lembrei, minha cabeça parou de doer e eu ouvi batidas fortes na porta. - Annie?! - Reconheci a voz de Victor.

- Estou bem. Vou tomar banho e me arrumar para descer.

- Temos que treinar hoje.

- Espere por mim no jardim.

     Quando eu desci as escadas, Damon apareceu repentinamente ao meu lado.

- Você se saiu muito bem ontem - ele falou me cerrando com os olhos, e minha mente por alguns segundos voltou à memória onde ele me carregava nua nos braços, senti calafrios.

- Não me lembro de tudo. - Falei afastando a lembrança.

- Você se lembrará aos poucos, a iniciação não é facil, querida. - Ele passou as costas da mão no meu rosto - mas valerá a pena. Você dormiu bem?

- Só tive um pesadelo.

- Como?

- Não importa.

Damon olhou para os pés, calado, respirou fundo e olhou nos meus olhos.

- Você sabe que estou aqui para proteger você. Não sabe?

- Sim.

- Então não se preocupe com pesadelos bobos. - Sua voz pela primeira vez fazia um tom casual, meio forçado.

- Tudo bem... Preciso ir, Victor me espera para treinar.

- Na verdade - ele segurou uma das minhas mãos para que eu ficasse - gostaria de lhe mostrar algo.

Eu sorri.

- Tudo bem. - Eu queria respostas, essa poderia ser uma oportunidade para que ele me contasse tudo.

     Eu não tinha medo de Damon, quando o conheci me senti intimidada, mas quanto mais os dias passam, sinto como se algo estivesse crescendo dentro de mim, algo que me deixava cada vez maia forte. Mais forte que ele ou que qualquer um, então me dei conta que de quem eu tinha mais medo era de mim mesma. Não sabia absolutamente nada sobre o meu passado e não fazia idéia se realmente queria saber. Às vezes a curiosidade me consome, outras vezes algo me fala para seguir em frente e esperar o momento certo... enfim, não era medo o que eu sentia perto dele, mas parecia que algo se encaixava, o meu passado não me interessava quando Damon estava por perto. Eu sabia quem eu era perto dele. Eu sentia que pertencia à ele. Mas quando ele se afasta, surge uma certa confusão.

- Quero uma explicação. - Falei rompendo o silêncio. Estávamos chagando num cemitério, fomos andando, ambos calados.

- Eu sei.

- Então me dê. - Ele riu - Que foi?

- Nada. É que você nunca muda. - Ele me olhou esperando que eu falasse algo, mas continuei andando. - É assim desde criança.

- Você me conhece desde criança?
- Todos conhecem você desde criança. Pelo menos a sua história. Por isso não posso escondê-la de você - disse cético.

- Então comece a contar.

- Annie, eu não sei se você está pronta. Mas precisa saber de duas coisa.

- De que?

- A primeira é que você vai querer me odiar. E a segunda é que o que você não sabe - ele parou de andar - é que você não tem querer.

- Não consigo entender.

- O seu pesadelo é real, há propósito - ele continuou cético e aquilo me irritava - realmente aconteceu, quando você tinha três anos.

- Como sabe dessas coisas?

- Não gosto de perguntas.

- Mas eu gosto se respostas.

- Você vai tê-las. - Ele olhou para o cemitério aparentemente antigo e abandonado à nossa frente e hesitou antes de continuar - vários vampiros te atacam num quarto escuro, não é?

Eu arregalei os olhos.

- Como sabe??

- Falei que você não precisa ter medo.

- Não tenho. Pelo contrário, me sinto segura com você.

Ele abriu a boca fazendo menção em falar algo, mas a fechou novamente. Olhou para a floresta, meio inquieto, ele estava estranho, como se qualquer coisa que falasse podesse me quebrar, ou como se tudo fosse mudar.

- Aquilo aconteceu quando fui atrás de você. Para matá-la.

Duas faces do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora