Capítulo 7

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Minha audição estava voltando, consegui ouvir pessoas conversando, barulho de máquina e macas ecoando pelo corredor. Consegui destinguir as vozes perto de mim, minha mãe estava ali, meu pai, Catherine e acho que o médico também.
Abri os olhos devagar e vi uma luz muito forte em cima de mim. Alguém afastou esse abajur de cima de mim e tentei me virar, mas meu pescoço estava muito dolorido.
- Shh, não se mecha, meu anjo. Você ainda está muito fraca.
Ben também estava ali, do meu lado. Ele passou a mão em meus cabelos e desceu para a minha bochecha.
- Deixe-me ver você. - Sussurrei.
Ele se sentou na maca ao meu lado, ele estava com um curativo acima da sobrancelha e parecia fraco.
- O aconteceu com você? - Perguntei.
Ele sorriu. - Só machuquei.
Tentei tocar em seu rosto, mas ele não deixou.
- Descanse, Karol. Temos tempo para conversar sobre o ocorrido.
Eu ia protestar, mas minha mãe viu que eu tinha acordado.
- Filha, como você está?
Ben saiu de cima da maca e foi para o canto da sala.
- Estou bem, mãe. O que aconteceu?
Meu pai veio ao lado da minha mãe e Catherine foi para junto de Ben.
- Você não se lembra? - Perguntou meu pai.
- Mais ou menos. Eu lembro que um cara me pegou pelo braço e me prensou na parede de um beco sem saída, ele pediu meu celular e minha carteira, mas eu não dei. Pensei que poderia lutar com ele, - revirei os olhos - mas é claro que não pude. Não sei onde estava com a cabeça.
Ben socou a parede, olhei para ele e vi que estava me encarando com uma dor no olhar.
- Não devia ter feito o que fez, mas o que importa é que está tudo bem. - Disse meu pai.
- Seu pai tem razão. Que susto você nos deu. - Disse minha mãe.
Catherine veio até mim e apertou minha mão. Tentei sorrir, mas acho que ficou parecendo mais uma careta.
- Desculpe. Está dolorido aqui também?
- Não, só meu pescoço que está dolorido.
Ela sorriu. O médico entrou na sala todo sorridente.
- Boas novas, você já pode ficar sem usar esses aparelhos todos.
- Que bom, doutor. - Disse minha mãe.
- Ótimo, já vou poder ir para casa. - Disse tentando me sentar.
O médico veio até mim e me ajudou a sentar na maca.
- Cuidado, Karol. Um movimento brusco e seu pescoço sai do lugar. - Avisou ele.
"Nossa, ele é bonito". Afastei esse pensamento para o fundo da mente.
- E você não vai poder ir para sua casa ainda. - Disse o médico.
- Doutor...
- Greg.
- Doutor Greg, você disse que eu já estou boa. - Resmunguei.
Ele sorriu. - Não, eu disse que você já pode respirar sem ajuda de aparelhos.
Ele soltou meu pescoço e começou a me desligar dos aparelhos.
- Pronto. Quem vai passar a noite aqui com ela? - Perguntou Greg.
- Eu fico. - Disse minha mãe.
- Não, pode deixar que eu fico. Vocês tem que trabalhar amanhã. - Disse Benjamin.
Arqueei a sobrancelha para ele, minha mãe deu de ombros.
- Claro que não, Benjamin, nós somos os pais dela. - Disse meu pai.
- Mas amanhã vocês voltam. Por favor, Peter. - Implorou Ben.
Eu continuava com a sobrancelha erguida, mas disfarcei quando meus pais me olharam.
- O que você acha, Karol? - Perguntou minha mãe.
Olhei para o médico, para meus pais, Cathetine e por fim para Ben. Ele parecia implorar que eu aceitasse.
- Ãn... tudo bem. Ele pode ficar, também tenho que conversar com ele.
Ben me jogou uma piscadela e Greg saiu do meu lado.
- Bom, vocês tem que ir agora. Só fica o acompanhante dela.
Meus pais e Catherine deram um beijo na minha testa.
- Você já pode comer comida de gente, mocinha. - Brincou Greg.
Eu ri. - Obrigada. Estou mesmo com fome.
- Vem, eu levo você. - Disse Ben.
Fomos até o refeitório e eu escolhi uma variedade de "comida". Um pedaço de pizza, água com limão, um hamburguer e uma maça.
Nos sentamos e Ben arregalou os olhos quando viu minha bandeja.
Isso me fez rir. - O que foi?
- Quanto tempo que você não come?
- Quanto tempo eu estou aqui?
- Algumas horas.
Beberiquei minha água com limão. - Então hoje eu não tomei café da manhã.
- Está explicado. - Ele sorriu.
Começamos a comer, depois de um tempinho tentei puxar assunto com ele.
- Então, por que você quis ficar aqui comigo?
Esperei ele terminar de mastigar.
- Porque tenho que conversar com você.
"Só por isso?! Claro, estava esperando o que, Karol?", revirei os olhos para mim mesma.
Ele riu disso. - Queria ficar sozinho com você também.
Ele pegou minha mão na dele, mas logo tirei.
- Antes de tudo quero saber como vim parar aqui e como você se machucou.
- Termine de comer primeiro.
- Não, se você não começar a falar eu não termino de comer.
Ele arqueou uma sobrancelha para mim.
- Tá, tudo bem. Eu vi quando você saiu da empresa.
- Está me espionando, Ben?
- Claro que não, eu moro ali perto. Voltando, eu estava passando ali por perto e eu vi quando aquele babaca puxou você pelo braço. Eu atravessei a rua correndo, mas vi que você conseguiu se livrar dele.
Eu ouvia com muita atenção, não ousei interromper.
- Eu me escondi e estava indo embora, mas aí ele tentou sufocar você e eu não aguentei e explodi de raiva. Tirei ele de cima de você e começei a lutar com ele, depois levei você até sua mãe e trouxemos você para cá.
Meus olhos marejaram, eu me inclinei para frente e ergui sua cabeça para que eu pudesse olhar em seus olhos.
- Obrigada, Ben, por tudo que você faz por mim. - Sorri e afaguei sua bochecha.
Ele sorriu e beijou a minha mão, que ficou formigando.
Mordi o lábio e abaixei o olhar para nossas mãos. Com o polegar ele separou meus lábios e levantou minha cabeça.
- Você sabe que eu tenho um fetiche por mordidas. - Ele disse.
Soltei uma risadinha e voltei a comer.
- Acho que você não mudou tanto assim. - Disse irônica.
Ele fechou os olhos e respirou fundo, ele abriu os olhos e sorriu.
- Eu posso ser eu mesmo com você, Karol. Sempre pude.
- Você pode ser você mesmo com qualquer um, você é incrível, Ben.
Ele deu um sorriso fraco. Terminamos de comer e voltamos para o quarto, nem tinha reparado que estava escuro lá fora.
- Onde você vai dormir? - Perguntei a Ben.
Ele passou a mão nos cabelos.
- Qualquer lugar está ótimo.
Tinha um sofá no quarto, um de nós dois teria que dormir sentado... Ou não.
- Ãn, eu durmo na maca e você no sofá. Pode ser? - Perguntei.
- Pode... Não teríamos esse problema se estivéssemos juntos ainda. - Sussurrou ele.
"EXATAMENTE, IDIOTA", gritou meu consciente. Fechei os olhos bem forte para segurar as lágrimas.
- Por que me ligou de madrugada? - Disse mudando de assunto.
Ele deitou no sofá e eu sentei no chão ao seu lado e apoiei a cabeça perto de sua barriga.
- Eu já disse, senti sua falta e quis ouvir sua voz. Você não achou que seria fácil ficar quatro anos sem te ver, achou?
- Pelo jeito foi. - Sussurrei.
Ele fechou os olhos e eu fiquei adimirando o lindo homem na minha frente. Desencostei do sofá e cheguei mais perto dele, meu pescoço estava dolorido ainda, mas ignorei a dor.
Agora eu conseguia sentir o calor do corpo dele no meu braço, passei a mão nos cabelos dele e senti que ele se relaxou com o meu toque.
Eu sabia que ele não estava dormindo, ele abriu os olhos e se abaixou um pouco para ficar cara a cara comigo. Ele tocou na minha bochecha e desceu para o meu pescoço bem devagar.
- Me conte como foi seu pesadelo. - Disse ele sorrindo.
- Quer mesmo saber?
- Claro, meu anjo.
Respirei fundo e tirei a mão de seu cabelo.
Contei como tinha sido o meu sonho a ele e nem tinha reparado que eu estava chorando.
Ele me colocou em seu colo e me embolou num abraço. Arquejei com a dor que estava no meu pescoço, ele aliviou o aperto.
"Droga de pescoço".
- Você sabe o que o sonho quis dizer? - Perguntou ele.
- Não, ainda não.
Me ajeitei em seu colo e fiquei com a cabeça em seu pescoço. Ele sempre teve um cheiro maravilhoso.
- Acho que você assiste muito C.S.I. - Arquejou ele.
Dei um sorriso com isso e acho que ele sorriu também.
A gente ficou conversando coisas bobas e umas duas vezes ele me deu um beijo na testa.
- Sabia que eu ainda te amo muito?! - Disse Ben do nada.
Eu estava lutando para ficar acordada.
- Ben, eu...
Não consegui segurar, dormi mesmo. Tinha muita morfina ainda nas minhas veias.

           Benjamin narrando:

"Eu não acredito que ela está aqui em meus braços de novo, depois de quatro anos ela ainda continua com o mesmo cheiro, mesmo jeito e com a mesma bondade nos olhos. Só ficou mais linda ainda, nem sabia que isso seria possível".
A gente ficou conversando assuntos do dia a dia. Se ela não estivesse com o pescoço machucado eu a beijaria, mas não dá.
- Sabia que eu ainda te amo muito?! - Soltei sem pensar.
Me arrependi na mesma hora, Vanessa jamais poderia saber que eu disse isso a Karol. Me enrijeci e apertei um pouco mais a cintura dela.
Ela ia dizer alguma coisa, mas o sono a venceu. Dei um suspiro de alívio.
Ver ela ali dormindo em meus braços foi irresistível para mim, não tive coragem de tirá-la dali.
- Se você soubesse o quanto eu quero ficar com você, Karol! Mas agora eu não posso, por favor meu amor, me espere. - Sussurrei no ouvido dela.
Deitei-a no sofá e fiquei adimirando a linda moça na minha frente. Ela se virou de frente para mim e enlaçou minha cintura com o braço. Dei um sorriso bobo e tirei o cabelo dela do rosto, me ajeitei no sofá atrás dela e dormi.

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