Com Amor, Mariana

...7...

As semanas foram passando e eu sentia dor quase que diariamente. Por mais que todos me dissessem para iniciar a quimioterapia, eu ainda tinha um pé atrás com a idéia. Saber que eu causaria a mim mesma mal estar, uma péssima qualidade de vida e ainda por cima a queda dos meus queridos cabelos, fazia com que eu relutasse com a idéia, então eu tomava os medicamentos que foram indicados por Mateus e rezava para não precisar voltar tão cedo ao hospital.

Mateus entrava em contato comigo todos os dias e por mais que eu gostasse de sua preocupação, eu decidi não respondê-lo mais. Eu não tinha direito de entrar na vida de alguém daquela maneira e atrapalhar tudo. Ele tinha o trabalho dele, a namorada dele e a ultima coisa que eu queria era atrapalhar sua vida de alguma forma.

Com o passar dos dias, Mateus começou a ficar mais ausente conforme eu deixava de mandar ou responder suas mensagens. Ele se limitava em perguntar como eu estava e algumas mensagens de boa noite, mas nada mais que aquilo. Mateus deve ter percebido o que eu estava tentando fazer e não insistiu mais. Ele deixou de mandar suas mensagens e por mais triste que isso tenha me deixado, por mais que eu sentisse sua falta, eu sabia que aquilo era o certo a se fazer.

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Era sexta-feira a noite e eu estava deitada no sofá assistindo a culpa é das estrelas pela quinta vez. Eu já havia assistido antes, mas por estar passando pela mesma situação, fez com que eu sentisse o filme ao invés de somente assisti-lo. Enquanto eu estava me debulhando em lágrimas, ouvi uma batida na porta e levantei bufando preparada para escorraçar Ju de lá. Abri a porta e comecei meu discurso ensaiado:

-Eu quero ficar sozinha e pode ir embora e...

Mateus sorriu pra mim e levantou algumas sacolas de mercado. Olhei para ele surpresa e sem saber o que dizer.

-Eu sei o que você está tentando fazer e eu discordo. - ele falou.

-Mateus... - entrei no apartamento deixando a porta aberta para que ele fizesse o mesmo.

-Você está se precipitando Ma!

-Me precipitando? Eu mal te conheço e estou invadindo a sua vida da forma mais errada possível! Você tem a sua vida, seus compromissos e sua namorada, eu não quero e não vou atrapalhar isso. Não quero ser a causadora de problemas com sua namorada. Eu não quero ser um peso pra mais ninguém entende?

Mateus me olhava serio sem dizer nada. Seu olhar de reprovação fez eu me sentir uma boba com tudo aquilo. Cruzei meus braços e fiquei esperando que ele dissesse alguma coisa. Mateus suspirou e foi até a cozinha colocando as sacolas no balcão. Fui atrás dele e levantei a sobrancelha como quem esperava por algo.

-Eu trouxe algumas coisas para fazermos um jantar diferente. Eu tenho certeza que você não jantou ainda e eu estou faminto.

Ele começou a tirar as coisas da sacola e eu o interrompi.

-O que você está fazendo?

-O jantar.

-Você entendeu o que eu quis dizer. - ele suspirou.

-Ma, você tem que entender uma coisa. Eu estou aqui porque eu quero, eu te mando mensagens porque eu quero, eu te ligo porque eu quero. Você não tem absolutamente nada a ver com meus problemas conjugais e não interfere em absolutamente nada no meu trabalho. Eu não sei o que você tem, mas eu quero passar mais tempo com você. Eu me sinto bem ao seu lado e quero que você se sinta assim do meu. O fardo que você está carregando é muito grande pra carregar sozinha e quero te ajudar a carregá-lo mesmo que seja como um amigo. Eu entendo que não conhecemos praticamente nada um do outro, mas eu quero que isso mude a partir de hoje. E mesmo você tentando me afastar, não vai conseguir, porque eu quero isso.- ele apontou para nós dois - eu quero esses momentos de tranquilidade onde eu não tenha que ficar dando explicações sobre quem eu falo ou deixo de falar. Quero que você se sinta minha amiga a cima de qualquer coisa. Eu quero que você saiba que eu vou estar aqui pra você. Eu vou te ouvir quando precisar, vou te criticar quando achar necessário, mas acima de tudo eu vou fazer você se sentir viva. Vou te fazer sorrir e chorar de alegria, mas hoje eu só quero um jantar tranquilo pode ser? Até porque você está me devendo um.

Eu não sabia se ria ou se chorava com tudo o que Mateus havia dito então a única coisa que eu consegui fazer foi concordar com a cabeça e sorrir igual a uma boba. Mesmo Mateus tendo dito diversa rezes o quanto queria ser meu amigo e eu sabia que nunca passaria disso, eu fiquei feliz em saber o quanto ele queria minha companhia. Ele sorriu em resposta e eu o ajudei a fazer o jantar que eu estava devendo há um tempo.

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Mateus e eu tivemos um jantar tranquilo. Apesar dele ter pouco tempo livre em sua vida, ele cozinhava muito bem. Ele fez um macarrão molho Alfredo que estava espetacular. Eu não lembro quando foi a ultima vez que comi tanto na minha vida e Mateus se acabou de rir pelo tanto que comi. Depois do jantar, ficamos assistindo um filme de comédia para animar um pouco a noite. Ele se recusou a assistir o resto de "A culpa é das estrelas" e eu não o culpo. O filme é deprimente.

Assim que o filme acabou já estava tarde, então pedi a Mateus que me aguardasse um pouco enquanto eu tomava banho. Ele disse que ia embora, mas insisti que ele ficasse. Ele não trabalharia no dia seguinte então ele aceitou a proposta e decidimos assistir a mais um filme.

Depois do banho Mateus e eu arrumamos minha cama para assistirmos o filme no quarto. Fizemos brigadeiro e decidimos assistir "Meu passado me condena". Rimos praticamente o tempo todo e fiquei surpresa por perceber que eu não me sentia tão a vontade e apesar de tudo, tranquila. No final do filme, olhei para Mateus que dormia profundamente. Ele estava praticamente deitado e com um dos braços atrás da cabeça. Desliguei a televisão e cobri Mateus com o edredom. Peguei seu braço com calma e tirei devagar de trás de sua cabeça. Sua mão estava gelada por ter ficado para cima por muito tempo, então eu a aqueci da mesma forma que ele havia feito comigo. Conforme sua temperatura foi voltando ao normal, a coloquei embaixo da coberta e Mateus abriu os olhos devagar. Seus olhos me fitavam fazendo borboletinhas voarem em minha barriga. Ele se sentou e continuou me olhando daquela maneira.

-Oi... eu estava arrumando seu braço que ficou pra cima e..

Mateus grudou seus lábios nos meus e por mais que eu soubesse que aquilo era errado, eu não consegui afasta-lo. Ele colocou a mão na parte de trás da minha cabeça e mexeu em meus cabelos me deixando derretida. Meus lábios abriram e sua língua encontrou a minha com delicadeza. Mateus era carinhoso até na sua forma de beijar. Conforme o beijo foi ficando mais intenso, me afastei dele sem saber o que dizer. Ele me olhou com culpa e se desculpou.

-Me perdoa Má... eu não sei onde eu estava com a cabeça e..

-Não se preocupe. Acho que eu queria tanto quanto você. - ele suspirou aliviado - mas isso não pode acontecer mais. Você tem namorada e eu não quero ser esse tipo de pessoa.

-Me desculpe Má, não consegui me controlar. Isso não vai mais acontecer. Eu prometo!

Assenti sentindo um aperto no coração por ouvir aquelas palavras de sua boca mesmo sabendo que era o correto.

-Eu acho que devo ir... - ele falou baixo.

-Não! - respondi abruptamente - fica. Não quero que um beijo estrague isso - apontei para nós dois.

-Nem eu.

-Ótimo! Agora vamos dormir porque está tarde. -brinquei.

Beijei sua bochecha e empurrei Mateus para que ele deitasse novamente. Puxei o edredom em cima de nós dois e ficamos deitados um de frente para o outro.

-O que acontece com sua namorada? - não consegui segurar a curiosidade.

-Ela mudou muito desde que começamos a namorar. Ela se tornou uma pessoa fútil e egoísta. Eu não vejo mais como pode dar certo entre nós dois.

-Por que você não termina? Se não te faz bem, não faz sentido continuar.

-Eu tento conversar com ela, mas ela vai se esquivando e quando eu vou ver já mandei ela embora.

-Que chato.

-É sim...

Ficamos em silêncio e pouco tempo depois peguei no sono ouvindo Mateus me desejar boa noite.