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Eu acordei e Mateus não estava mais na cama. Em cima do travesseiro que ele usou havia um bilhete explicando o porquê dele não estar mais lá.

Me desculpe ir embora sem em despedir, mas tive uma emergência para atender. Obrigada pela noite e me desculpe mais uma vez por ter ultrapassado os limites. Mateus

Fiquei olhando aquele bilhete por um bom tempo e o nosso beijo não saía da minha cabeça. Por mais que eu soubesse que ele foi totalmente fora de hora, totalmente contra minhas convicções, totalmente inusitado, eu não consegui pensar em outra coisa durante o resto do dia.

Decidi empurrar a lembrança pro fundo da minha mente e fui para a casa da minha mãe, já que eu estava a evitando há um bom tempo. Sempre que ela vinha me ver, ela me olhava com pena e eu não suportava aquele olhar nas pessoas, mas hoje a saudade bateu e decidi ir visita-la.

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Minha mãe fez meu macarrão favorito e eu fiquei aliviada por ela não me dar aquele olhar de piedade. Ficamos conversando sobre seu trabalho e o quanto ela estava trabalhando mais do que deveria.

-Mas logo Rosana volta da licença e tudo volta ao normal. – ela falou com sua positividade.
Sorri e achei melhor não entrar muito naquele assunto. Eu não queria deixá-la chateada com nada mais. Depois do almoço ficamos assistindo novela até que ela me perguntou:

-Como está se sentindo?

-Bem. – respondi friamente.

-Tem certeza? Você perdeu peso...

-Eu vou perder muito peso mãe. Vou ficar parecendo um esqueleto de tão magra. – respondi rispidamente.

-Não precisa vir com grosserias, eu só estou preocupada já que você foge de mim e não fala absolutamente nada! – ela respondeu chateada.

-Eu sei mãe, eu só quero te poupar de tudo isso! Não quero que você fique se preocupando ainda mais. Não quero ser esse peso na sua vida!

-Você nunca vai ser um peso pra mim Mariana.

-Isso você fala agora! Quero ver quando eu não puder nem levantar da cama mais...

-Se você não puder levantar, eu vou te levantar e fazer o que for necessário por você. Eu passaria o resto da minha vida fazendo o que fosse necessário somente pra te ter mais tempo comigo.

Ela terminou de falar num sussurro e meu coração ficou apertado por saber o quanto ela ficaria mal com minha partida.

-Eu sinto muito mãe... mas a senhora precisa encontrar alguma coisa para fazer depois que eu morrer. Eu não gostaria que a senhora ficasse deprimida e vivesse no automático. Eu quero que você seja feliz como sempre foi!

-Como eu posso ser feliz ao perder minha filha?

Ela me olhou com lagrimas nos olhos e eu não soube o que responder. Aquela pergunta não tinha uma resposta certa.

-Eu só não quero que você fique sofrendo e esqueça de viver como fez quando papai morreu.

Minha mãe me olhou com lagrimas nos olhos e suspirou triste. Meu pai morreu de infarto fulminante quando eu completei 15 anos. Os médicos disseram que ele enfartou no trabalho após um grande stress. Nós duas nunca superamos sua perda. Evitamos tocar no assunto, mas sempre lembramos dele com um aperto no coração por não termos nos despedido. Quando chega o dia de seu aniversario, sempre fazemos sua comida favorita mesmo sem ele estar presente. Foi uma forma que encontramos de deixar sua lembrança sempre viva.

Eu a abracei sentindo a mesma dor que ela que começou a chorar em silencio. Apertei mais nosso abraço até que ela se acalmasse e sorrisse envergonhada por ter chorado mais uma vez na minha frente. Minha mãe mudou de assunto e começou a contar algo engraçado que aconteceu no seu trabalho. Fingi que nada estava acontecendo como ela fez e ficamos jogando conversa fora por um bom tempo. Quando estava próximo ao horário do jantar, Mateus me mandou uma mensagem perguntando se eu gostaria de ir jantar com ele em algum lugar. Sorri ao ler a mensagem e minha mãe romântica incorrigível sorriu.

-É aquele medico bonitão? – ela perguntou curiosa.

-É ele sim!

-Ele se preocupa muito com você né?

-Sim...

-Ele te manda mensagem sempre?

-Aonde a senhora quer chegar com essas perguntas?

-Ah filha, eu acho que você deveria ter um caso com ele!

Comecei a tossir e rir ao mesmo tempo.

-Filha, pense comigo: ele pode ser a sua ultima chance de fazer... você sabe... nheco-nheco!

-Ai meu deus mãe! Isso é coisa pra se preocupar agora?

-Claro! – ela respondeu gargalhando.

Ficamos rindo por um bom tempo de sua piada sem graça até que ela interrompeu nossa alegria com sua pergunta desagradável.

-Filha, o que você decidiu sobre a quimio? – minha mãe perguntou enquanto afagava meus cabelos.

-Eu tenho tanto medo de fazer quimio... de provar para mim mesma que eu estou realmente morrendo sabe? Fazer quimio seria assinar meu atestado de óbito.

-Filha, não é bem assim. Você fazer a quimioterapia seria cuidar da sua saúde e não aceitar a morte.

-Eu não sei... eu ainda não pensei muito bem sobre isso.

-Acho que deveria pensar mesmo e se quiser conversar, a casa é sua.

-Obrigada mãe! – respondi sem saber mais o que dizer sobre esse assunto.

-Agora você vai responder aquele gostosão e vai jantar com ele vestindo sua melhor lingerie!

-Mãe, ele é comprometido! – chamei sua atenção.

-Não tem problema! Você não é!

Ela respondeu rindo enquanto eu respondia a mensagem de Mateus revirando os olhos por mais uma piada sem graça, mas é claro chorando de rir por dentro.

Com Amor, MarianaOnde histórias criam vida. Descubra agora